A plataforma Uber é uma referência no segmento dos negócios disruptivos. O modelo de negócio, baseado numa plataforma, inspirou outros negócios cujo crescimento é impressionante.
No entanto, sabe-se agora que a Uber usou práticas ilícitas para expandir negócio, segundo uma investigação Uber Files do ICIJ.
Uber recorreu a lóbi político junto de governos
De acordo com o que foi revelado, a empresa norte-americana Uber concebeu uma estratégia de expansão que recorreu a lóbi político junto de governos, mas também formas ilícitas para ludibriar autoridades, revela um trabalho do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, hoje divulgado e referenciado pela Lusa.
A investigação Uber Files do ICIJ (sigla do consórcio em inglês) – que envolveu 40 meios de comunicação em 29 países (Portugal não está nesta lista de ‘media partners’, embora o caso português tenha sido abordado), analisando mais de 124 mil documentos – concluiu que, entre 2013 e 2017, o então CEO, Travis Kalanick, deu aval a uma estratégia que explorava a violência contra motoristas dos Uber para promover a imagem da empresa contra os taxistas e os governos que criavam problemas ao seu negócio.
A Uber criou igualmente uma complexa teia de lóbi que se espalhava desde a magnatas dos meios de comunicação a primeiros-ministros, passando por ministros, funcionários governamentais e oligarcas, tudo para que a empresa conseguisse expandir o seu negócio, segundo a investigação jornalística que reuniu quase 200 jornalistas.
A rede de influência incluiu nomes como os do atual Presidente francês, Emmanuel Macron, na altura ministro da Economia, que foi apanhado em conversas com Kalanick a prometer a proteção do seu Governo contra a campanha dos taxistas franceses à Uber.
A Uber já reagiu a esta investigação através de uma porta-voz, Jill Hazelbaker, que reconheceu que a empresa cometeu “falhas” e “erros”, mas insistindo que essas más práticas terminaram em 2017, quando Kalanick foi substituído no cargo de CEO por Dara Khosrowshahi.
Um dos exemplos desta prática foi investigado em Portugal, onde, em 2015, taxistas cometeram “atos de violência” contra condutores de Uber, em três ocasiões, concluindo que provocou mesmo ferimentos num deles, segundo Rui Bento, um responsável da empresa em Lisboa.
Outra prática denunciada era o que a investigação apelida de “Killer Switch”, um método sofisticado para contornar a investigação judicial contra a empresa, que consistia em cortar o acesso informático a dados da aplicação da Uber, para evitar que os investigadores tivessem acesso a elementos que pudessem constituir provas da ilegalidade da operação.
Uber Technologies Inc. é uma empresa multinacional americana, prestadora de serviços eletrónicos na área do transporte privado urbano, através de um aplicativo de transporte que permite a busca por motoristas baseada na localização, em inglês e-hailing, oferecendo um serviço semelhante ao tradicional táxi.