A Suécia foi o primeiro país da Europa a emitir notas. Enquanto motivador da inovação, será que este país nórdico está perto de as ver como algo do passado?
Os peritos dizem que sim…
O numerário está a perder adeptos na Suécia e os estudos realizados no sentido de perceber esta mudança não deixam grandes dúvidas.
Em 2020, o Riksbank, uma das instituições financeiras mais antigas do mundo, publicou um relatório que deu conta do declínio deste método: em 2010, os investigadores perguntaram às pessoas, na rua, se tinham pago a sua última compra “em dinheiro”, tendo 39% dito que sim; dois anos mais tarde, essa percentagem desceu para 33%; em 2016, voltou a descer para 15%; e, em 2020, as respostas afirmativas representavam apenas 9%.
Embora os dados da Statista, uma empresa alemã especializada em dados relativos ao mercado e aos consumidores, sejam um pouco diferentes, também mostram uma curva descendente no que diz respeito ao numerário (com ligeiras flutuações). Entre 2020 e 2021, os seus estudos mostram um declínio de 2,2% na utilização de numerário para pagamentos no retalho.
Além desses números, o Riksbank ainda detetou um declínio de 20% nos levantamentos em caixas multibanco, em 2020, e viu o volume de pagamentos efetuados através da aplicação Swish passar de pouco mais de 12 milhões, no segundo trimestre de 2020, para 23 milhões, em agosto de 2021.
Apesar de a pandemia ter impacto nos dados, a tendência de abandono do numerário também se registou em 2021, uma vez que os levantamentos em caixas multibanco continuaram a cair.
Estará a Suécia a saltar para o futuro?
Conforme destacou a analista do Deutsche Bank, Marion Laboure, num artigo intitulado “A Cashless Society: One Small Step for Sweden, One Giant Leap for Payments”, de julho de 2020, a economia da Suécia poderá estar em vias de se tornar totalmente digital até março de 2023.
Além disso, também Cecilia Skingsley, economista, ex-diretora sénior do Riksbank e atual diretora do Bis Innovation Hub, alertou, em 2018, durante uma palestra, que a Suécia iria “provavelmente ficar sem dinheiro dentro de três a cinco anos”.
Na opinião dos especialistas, os fatores para esta tendência podem ser vários. De entre eles, o roubo de Vätberga, que aconteceu em 2009, em Estocolmo, e a pandemia provocada pela COVID-19, uma vez que as pessoas se sentiram desencorajadas a usar numerário. Além disso, os peritos apontam também a explosão do comércio online que tornou as transações digitais ainda mais convenientes.
De acordo com um inquérito realizado por gabinetes governamentais, metade da população reduziu a sua utilização de numerário no último ano, o que se deve principalmente ao facto de as alternativas digitais serem vistas como simples e eficientes.
Informou o Riksbank, que aponta outros fatores, como o aumento das transações com aplicações ou contactless.
Acho que as pessoas na Suécia não sabem como são as diferentes moedas neste momento.
Brincou Anders Ohlsson, gestor sénior do Deutsche Bank Corporate Bank.
Apesar dos dados, o fim do numerário tem muito que se lhe diga. Desde as pessoas com mais de 65 anos não terem tanta facilidade quanto as restantes em assumir as transações digitais, passando pelos cidadãos que habitam em zonas rurais terem preferência pelo dinheiro em papel, até à questão levantada por um especialista, em 2021, sobre a necessidade de manter uma infraestrutura responsável por manter o dinheiro em circulação.
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