A Inteligência Artificial (IA) não serve apenas para fazer tarefas que os humanos consideram aborrecidas e repetitivas, conforme já vimos. Aliás, vai muito além disso, havendo quem mantenha com chatbots uma relação (dizem) amorosa.
Por aqui, são algumas as vezes em que parece que estamos a falar-lhe de possibilidades impensáveis, saídas de filmes de ficção científica. Lembra-se, por exemplo, do filme Her, que saiu, em 2013? O romance parecia completamente utópico e, na altura, é possível que tenha estranhado o desenrolar da história protagonizada por Joaquin Phoenix.
Aparentemente, não demorou muito até que a ficção se replicasse na realidade. Afinal, estamos em 2023 e há problemas a serem considerados, por haver quem queira uma relação com um chatbot baseado em IA.
Um dos maiores foi, recentemente, apontado por um relatório mostrado pelo The Guardian, que aponta a questão das expectativas de género: a existência e criação de chatbots, pensados para “satisfazer as necessidades” de cada pessoa – principalmente de homens – pode acabar muito mal. A aplicação Eva AI, por exemplo, promete ligar o utilizador a uma parceira virtual que o ouve, responde e aprecia, além de vender que o chatbot será totalmente controlado por si.
Criar um parceiro perfeito que se pode controlar e que atenda a todas as suas necessidades é realmente assustador.
Disse Tara Hunter, CEO da Full Stop Australia, organização focada no atendimento de vítimas de violência de género e intrafamiliar, explicando que criar um casal perfeito, por meio da IA, pode sair muito caro às pessoas, sejam elas homens ou mulheres.
No Reddit, por exemplo, o The Guardian partilhou ter encontrado utilizadores a desejar que a sua IA fosse humana, sendo a maioria das menções relativa a chatbots femininos, que os ajudam a ultrapassar a solidão e a sentirem-se melhor.
Embora os chatbots baseados em IA tenham mostrado benefícios, também existe o perigo de antropomorfizar as suas atitudes, nomeadamente em relações amorosas. Os efeitos que estas práticas podem ter nos seres humanos ainda é desconhecido, mas o que há, atualmente, já permite detetar a necessidade de convivência social que existe e que não é satisfeita por um leque de razões/impedimentos pessoais.
Globalmente, trata-se de um fenómeno demasiado recente, daí não haver muitos estudos, nem conclusões relativas a consequências. Contudo, os países asiáticos já convivem com esta realidade há algum tempo. Por exemplo, um artigo da BBC comunicou, em 2013, que os homens preferiam interagir com uma namorada digital, por meio de videojogos, do que com pessoas reais.