Desde a sua OPV (IPO) inicial que o Facebook tem sabido suplantar todos os obstáculos: como sustentar o crescimento perante o advento de outras redes sociais?, como aumentar as receitas de publicidade em face do crescimento dos acessos online?, como manter os seus utilizadores satisfeitos mesmo perante uma aparente multiplicidade de redes sociais…?
A todos estes desafios, o Facebook soube dar resposta reinventando-se quando foi preciso, mudando a estratégia perante alterações no mercado e, sim, comprando a concorrência e integrando-a no seu plano de negócios quando tal se mostrou necessário.
Os resultados financeiros apresentados no final de Julho mostram uma empresa capaz de bater todas as mais optimistas expectativas por parte dos investidores, que se ri perante as notícias que dizem que os seus utilizadores estão a desertar para outras plataformas – neste momento tem 1.700 milhões de utilizadores mensais activos, mais coisa menos coisa – e que parece imparável.
Para os mais distraídos, o Facebook não se limitou a destruir o Hi5 e o MySpace – a própria Google nada pode fazer e o Google Plus, que muitos garantiam ser uma ameaça real à empresa de Mark Zuckerberg, foi totalmente repensado e reposicionado para poder sobreviver. Lembram-se do MSN, o Messenger da Microsoft que toda a gente usava… até surgir o Facebook? Foi-se. O Instagram podia ser uma ameaça? Comprado. O WhatsApp tem potencial? Já é nosso…
Entretanto, o Facebook tornou-se numa plataforma sem a qual deixámos de poder funcionar online. Usamos a nossa conta do Facebook para fazer comentários em websites; para fazer login em serviços online (e apps como o Tinder!); para falar com amigos através do Messenger; para acedermos a notícias; para programar eventos; para partilhar fotos de cãezinhos, de gatinhos, de comida (claro!), da banda preferida que fomos ver ontem à noite; para dizer a toda a gente que andámos esta manhã 10 quilómetros em não-sei-quantos-minutos… Façamos um teste: quantos dos seus familiares e amigos não usam o Facebook, directa ou indirectamente? Aposto que são bem menos do que aqueles que usam…
O futuro do Facebook
Podemos desculpar quem pensa que o Facebook já esticou a corda até onde pode e que, a partir daqui, será só a descer. Mas julgo que, pelo contrário, Zuckerberg e companhia ainda estão só a aquecer.
O Facebook que descrevi acima é o Facebook dos 1,7 mil milhões de utilizadores individuais. Mas o Facebook que gera dinheiro é uma conjugação desses utilizadores com os investimentos publicitários das empresas que apostam no Facebook.
É possível fazer campanhas de publicidade no Facebook a partir de 1 euro por dia até muitos milhões por ano. O Facebook ganha dinheiro através da promoção (paga) que as empresas fazem dos seus posts mas também de campanhas específicas – são esses os anúncios que aparecem nas nossas timelines (desktop e dispositivos móveis) e na barra do lado direito (desktop).
De certa forma, Zuckerberg sabe que há um limite para a quantidade de publicidade que o Facebook nos pode impingir – e os ad blockers são uma ameaça real. Por onde passa então o futuro do Facebook?, como irá a empresa continuar a fazer crescer as receitas? Sem querer fazer futurologia (mas colocando a cabeça no cepo e fazendo! J), penso que a resposta a essa questão são duas palavras: “comércio electrónico”.
Vender no Facebook
Sim, hoje já é possível vender-se no Facebook, mas o processo não é simples. Requer apps de terceiros (como o Shopify ou o Bigcommerce) e pagamentos de fees mensais quer vendamos ou não. Não é fácil e não é barato. E por isso não vemos muitas páginas na rede social a vender o que quer que seja.
Acontece que o Facebook quer tornar o comércio electrónico para as empresas através da rede social tão simples como anunciar – mas com uma dupla vantagem: é uma nova (e potencialmente enorme) fonte de receita e, ao mesmo tempo, não cria entropia adicional para os utilizadores individuais.
Tal como acontece sempre que surge com algo de novo, o Facebook está a implementar esta funcionalidade de forma gradual. No entanto, não duvido por um momento que, parafraseando a conhecida frase publicitária, “é para avançar”…
O modelo de negócio está já explicado nas páginas de ajuda da rede social (aqui) e funciona de forma muito simples: a loja passa a estar acessível através de mais um separador na página da empresa sem necessidade de apps adicionais nem programação. Além disso, e ao contrário de soluções de terceiros – que bem podem dizer adeus ao negócio… – o Facebook não cobra nem pela criação nem pela manutenção da loja.
As receitas do negócio são feitas simplesmente através da cobrança de uma (pequena) taxa de transacção, uma vez que um dos requisitos é que o vendedor opte pelo sistema de pagamentos da Stripe, empresa com quem o Facebook criou uma parceria em 2014.
O potencial de abertura das páginas de empresas ao comércio electrónico é incalculável, mas imagino que será até mais interessante para pequenos negócios do que grandes marcas – estas têm os seus próprios canais de distribuição e usam o Facebook como forma de contacto com os seus fãs e nunca colocarão em causa a forma como têm o seu negócio organizado.
Contudo, estima-se neste momento que existem cerca de 50 milhões de páginas de Facebook de “pequenos negócios” e mesmo que apenas uma fração esteja interessada em vender através da rede social, é bom lembrarmo-nos que uma plataforma de e-commerce dedicada como a Etsy tem “apenas” 1,6 milhões de vendedores, um número mais do que suficiente para tornar a empresa num sucesso.
O potencial da entrada do comércio electrónico na rede social é tremendo e vai ser preciso uma conjugação especialmente desfavorável de fatores para que o que aí vem não seja absolutamente avassalador.
Portanto, aqui têm os meus dois cêntimos sobre o futuro da empresa de Mark Zuckerberg: preparem-se, porque o melhor ainda está para vir.