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Design de Interfaces – Quais os desafios?

Escrever sobre design de interfaces com o utilizador é um pouco como escrever sobre uma teoria qualquer acerca do comportamento humano: nunca é possível atingir um confortável patamar de certeza científica que tanto prolifera nas outras disciplinas e em particular nas engenharias.

É, por isso, um exercício que não se presta a quaisquer dogmas ou soluções “prescritivas”. Daí que os investigadores desta área se tenham concentrado, essencialmente, na identificação de princípios úteis e substanciados por uma certa validação empírica, resultantes dos chamados testes com utilizadores, os quais, entretanto, se popularizaram um pouco por todo o lado, embora nem sempre sejam realizados sob o prisma dos corretos objetivos.

Disse um dia o nosso prémio Nobel da Literatura, José Saramago, que “têm razão os céticos quando afirmam que a história da humanidade é uma interminável sucessão de ocasiões perdidas.” Creio que o mesmo se pode afirmar acerca do processo de design de interfaces, uma vez que, por observação ao longo de doze anos de ensino e prática, posso confortavelmente afirmar que o número de boas ideias – logo, boas oportunidades – que são perdidas durante o processo de design de interfaces é bastante significativa. Isto sugere que os melhores designers são aqueles que não deixam nunca escapar uma boa ideia, ou mais concretamente, os bons designers são aqueles que se obrigam a inventar, avaliar e fazer evoluir o maior número de ideias possível.

Os humanos são criaturas fascinantes. Observá-los a criar atalhos e remendos para ultrapassar as dificuldades impostas devido aos defeitos de design das interfaces que eles próprios usam seria matéria suficiente para escrever vários livros. Isto significa que o primeiro passo para compreender os princípios e práticas do design de interfaces é precisamente compreender o próprio ser humano – conhecer-nos a nós mesmos.

Toda a interação de um humano com o mundo onde vive realiza-se através de trocas de informação que são realizadas graças aos seus mecanismos de receção e emissão de informação, aos quais chamamos dispositivos de entrada e saída, numa analogia com os periféricos dos computadores. Por isso é impor­tante entender que tanto os mecanismos cognitivos como os mecanismos percetuais estão relacionados e funcionam em conjunto, constituindo parte de um maior sistema. Posto de outra forma: aquilo que conhecemos acerca do nosso mundo influencia a maneira como o vemos, e aquilo que vemos influencia o que conhecemos.

Mas na verdade, toda a interação tem de ser analisada como um todo, sendo até que muitas vezes o próprio dispositivo de interação define o estilo de interação que é utilizado. No entanto, o seu estudo individual é necessário para que o designer de interfaces possa compreender as limitações e as vantagens de um determinado estilo ou dispositivo de interação.

Hoje em dia, mais do que nunca, multiplicam-se as gamas, formas e características dos dispositivos de interação disponíveis no mercado. As grandes superfícies de interação oferecem ambientes únicos para tarefas de design individuais e colaborativas. Estes dispositivos têm vindo a tornar-se cada vez mais acessíveis e de instalação mais simples, sendo fornecidos hoje em dia ambientes altamente interativos com grande resolução e com suporte para imagens estereoscópicas.

Quando combinados com novos dispositivos de entrada, criam.se novas formas de interagir com os conteúdos digitais, e abrem-se as portas a novas aplicações de suporte a tarefas de engenharia colaborativas, assim como muitas outras aplicações, que vão desde o sector da saúde, até ao entretenimento, cultura, turismo, publicidade e tantas mais. Dada esta desafiante diversidade, podemos dizer que hoje em dia, mais do que nunca, saber fazer a ponte entre as necessidades humanas e as capacidades das máquinas é tão ou mais importante como saber construir o produto de software por si só.

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