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Exclusivo PPLWARE: Entrevista à Samsung sobre o bada

Com o lançamento do “badalado” Samsung Wave trazendo o novo sistema operativo bada e loja de aplicações Samsung Apps Store, o mundo mobile é mais uma vez agitado. Mas afinal o que é que a nova aposta da Samsung traz de inovador ao mercado móvel?

Foi exactamente para responder a esta questão e muitas outras curiosidades que fomos convidados pela Samsung a entrevistar 3 representantes da empresa – Nuno Silva (Product Manager em Portugal), Taiho Choi (Senior Engineer na Coreia) e Gina Sangjin Lee (Assistant Manager na Coreia) – no quartel-general da Samsung Portugal, no Lagoas Park.

O Lagoas Park é um parque tecnológico recheado de escritórios de empresas sonantes como a Samsung. Situado nos arredores de Oeiras, o Lagoas Park é sem dúvida um belíssimo local para se trabalhar, fora da confusão citadina.

Confesso-vos que esta foi a minha primeira experiência como entrevistadora, ainda por cima, internacional. A ideia seria entrevistar um dos membros da equipa de desenvolvimento coreana do bada, o novo sistema operativo lançado para o Samsung Wave.

bada, escreve-se sempre com letra minúscula e significa “oceano” em coreano.

Segundo a empresa, o bada trará um novo oceano azul de aplicações e uma escolha mais alargada de smartphones a grande preço, ainda assim potenciados pelo sistema operativo.

Tenho ainda o prazer de vos anunciar uma análise ao Samsung Wave para breve, já o tenho na minha posse há cerca de 1 semana. Por esta razão, estava mais que preparada para fazer as perguntas certas na entrevista. A língua (inglesa) não era com certeza o maior problema, a maior dificuldade seria como conduzir uma entrevista que não fosse muito aborrecida e incidisse nos temas que vocês, leitores deste nosso espaço, anseiam devorar.

Peço desde já desculpa pela semelhança deste artigo a uma obra literária, mas vocês meus caros leitores, já me “conhecem”. Dada a importância da circunstância e o nervosismo associado à mesma, não há como evitar a descrição detalhada das sensações.

Ao chegar à recepção da Samsung, fui encaminhada para uma pequena sala de reuniões pela simpaticíssima Cátia Neves, Relações Públicas da Samsung Portugal que, vendo o meu olhar nervoso, me deu algumas informações acerca do programador da equipa do bada que eu iria conhecer dentro de momentos. “Não se preocupe, ele também está nervoso”. Que confortante.

Bloco de notas, caneta e Samsung Wave em cima da mesa, tudo a postos. Apenas as 3 garrafas de água também sobre a mesa me intrigaram… quem seria o 3º elemento? Não demoraria muito até descobrir. Entra Cátia Neves acompanhada por um senhor com ar bastante novo e outra senhora, ambos coreanos, impossível esconder.

Foi-me então apresentado Taiho Choi, Senior Engineer do Service Platform Group e Gina Sangjin Lee, Assistant Manager da Content Service Team e Media Solution Center, ambos da Samsung Electronics, a mãe coreana de todas as Samsung’s.

O objectivo seria dirigir as perguntas mais técnicas sobre o bada a Tahoi Choi e Gina Sangjin Lee estava presente para responder a perguntas relacionadas com a nova Samsung Apps Store. Depois de pedir permissão para gravar a nossa conversa com o meu Samsung Wave, ambos fazem o mesmo com os seus Wave. “Também quero trabalhar aqui, toda a gente tem um”, pensei eu.

E começa a entrevista, ou pelo menos tento. Depois de respirar bem fundo, as palavras começaram a fluir. Mas não era só eu, no início fiz um esforço desumano para perceber o “coreanês” de Tahoi. Mas com o decorrer da conversa tudo correu pelo melhor. A meio da entrevista entrou Nuno Silva, Product Manager da Samsung Portugal, com o objectivo de ajudar os colegas coreanos na resposta a perguntas mais “comerciais”.

Sem mais demoras, deixo-vos a entrevista, devidamente traduzida.

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Pplware – Ana Narciso (Ana N.): Dado que hoje em dia existem tantos sistemas operativos para smartphones como o iOS, o Android e outros, porque é que a Samsung criou um novo SO em vez de utilizar, por exemplo, o Android?

Asisstant Manager – Gina Sangjin Lee (G. Lee): Embora a “estratégia” não seja a nossa área, o Thai é programador e eu estou encarregue do serviço de aplicações, ambos compreendemos a estratégia da empresa. A Samsung usa tantas plataformas diferentes nos seus dispositivos, como o Android, Windows Mobile e outras, mas não temos a nossa própria plataforma.

A. Narciso: Mas já têm uma plataforma só vossa…

G. Lee: A SHP? Sim, temos, mas estou a falar de uma plataforma completa.

A. Narciso: O bada é uma espécie de evolução do SHP, certo?

G. Lee: Correcto. E portanto era um pouco difícil incluir os nossos próprios serviços, como o serviço de aplicações. Por exemplo no Android, não nos permitem incluir os nossos serviços, pois eles têm o seu próprio serviço, o Android Market. Esta é uma das razões para termos decidido implementar a nossa própria plataforma.

A. Narciso: Li algures no website do bada que este novo SO já anda a ser desenvolvido há cerca de 10 anos. É verdade?

Senior Engineer – Taiho Choi (T. Choi): Sim, na verdade muitos dos componentes do bada são baseados em componentes que já existiam na nossa plataforma SHP, que já tem 10 anos. Mas porque nos dias de hoje os smartphones são tão populares, sentimos a necessidade de desenvolver a nossa própria plataforma adequada às necessidades actuais.

A. Narciso: Poderiam apontar algumas das funcionalidades do bada, diferentes ou talvez melhores que as funcionalidades dos vossos concorrentes?

T. Choi: Basicamente, existem funcionalidades muito similares entre as plataformas que já existem – Android, iOS, Windows Mobile e outros – funcionalidades básicas hoje em dia. No bada implementámos as chamadas funcionalidades orientadas ao serviço (service-oriented features), como por exemplo localização, SNS (Social Networking Service), gestão de conteúdos e serviços de compra, tudo isto suportado por servidores do bada, tornando o desenvolvimento de aplicações mesmo muito simples.

A. Narciso: Qual é o vosso público-alvo na indústria móvel?

T. Choi: Toda gente. (risos)

A. Narciso: Sim, mas qual é o tipo de pessoas a que se destina o Wave? Casuais, executivas,… olhando para a loja de aplicações, vejo imensas aplicações generalistas e não consigo identificar um público-alvo.

T. Choi: (Pegando num papel e começando a desenhar) Isto é o todo mercado actual e esta pequena percentagem é chamado o “smart market”, um “oceano vermelho” cheio de concorrentes em que é difícil converter clientes para a nossa plataforma. Mas nesta zona maior, a zona dos “feature phones”, telemóveis mais básicos onde temos a maior parte dos nossos clientes a usar a antiga plataforma SHP, é muito mais fácil converter para o bada. É esse o nosso objectivo.

A. Narciso: Portanto esperam que os vossos clientes actuais evoluam para um novo tipo de dispositivos.

T. Choi: É isso mesmo. Esperamos que esses clientes utilizadores de “feature phones” se convertam para utilizadores “smartphones”.

A. Narciso: Quais são os requisitos mínimos para o sistema bada? Reparei que o Samsung Wave corre sobre um CPU a 1GHz, portanto estamos a falar de uma grande máquina. A questão é: correrá em máquinas mais fracas e acessíveis à maioria das pessoas?

T. Choi: Esta é uma máquina de ponta, mas sim, o bada correrá em máquina bem mais fracas, falamos de um CPU de apenas 300 MHz.

A. Narciso: Notei muitas semelhanças entre a interface de utilizador do bada e a do iOS: a forma como se navega entre aplicações no menu principal (horizontalmente) e também da “dock” na parte de baixo do ecrã. Porquê adoptar este tipo de interface?

T. Choi: Não estou envolvido na equipa da Interface de Utilizador, por isso vou dar apenas a minha opinião enquanto programador. Essa escolha deriva, penso eu, do aspecto actual dos smartphones, grandes ecrãs touchscreen e ainda devido ao tamanho dos nossos dedos, daí a interface de utilizador ter de se adequar a estas condicionantes, as mesmas condicionantes do iPhone, além de que os utilizadores habituados a interfaces do tipo “iPhone” estarão assim mais familiarizados com a interface do bada.

A. Narciso: Sei que o bada é um sistema operativo proprietário, mas será possível ao utilizador comum ou a um developer submeter bugs e outros erros que encontre durante a sua experiência com o bada? E novas ideias, tais como a melhoria de algum aspecto da interface?

T. Choi: Sim, basta dirigir-se ao website bada Developers, registar-se e utilizar tanto a área F.A.Q. como o fórum de utilizadores. Há ainda uma área de bug reporting.

Product Manager – Nuno Silva (N. Silva): Se o cliente pretender, pode ainda contactar o nosso suporte aqui em Portugal e relatar o erro, investigaremos localmente e se o conseguirmos reproduzir, pediremos à nossa equipa de I&D para desenvolver uma nova versão de software que resolva o problema e assim uma nova versão do software será lançada para que todos os utilizadores actualizem as suas máquinas. Temos ainda uma equipa local a testar todas as aplicações submetidas para a Samsung Apps Store.

A. Narciso: Agora falando acerca da Samsung Apps Store. Já naveguei através das aplicações tanto através do Samsung Wave como pelo Kies (software para PC) e na verdade instalei e testei todas elas, até porque ainda não são muitas. Como esperam aumentar as aplicações disponíveis, tanto em quantidade como em qualidade?

G. Lee: Nós gerimos a loja de aplicações, mas o serviço em si é baseado no Ecosystem. Em primeira instância, a Samsung tem uma relação com os nossos principais parceiros que produzem aplicações muito boas. No entanto, incentivamos os utilizadores a desenvolverem as suas próprias aplicações e a colocarem-nas na loja.

N. Silva: Fazemos eco-sourcing, ou seja, incentivamos utilizadores locais, sem qualquer tipo de relacionamento com a Samsung, a começar a desenvolver aplicações para os nossos dispositivos. Organizamos ainda o Developer Day em cada país e o Developer Challenge, um concurso a nível mundial, para fazer com que os utilizadores que normalmente desenvolvem para o iPhone, Nokia e outros, comecem migrar e a desenvolver aplicações para a nossa plataforma. E claro, para ter aplicações disponíveis na data de lançamento, negociamos com algumas empresas a nível mundial para trazermos para o bada algumas das aplicações mais importantes. Mas por agora vamos, país a país, promovendo o Developer Day e o Developer Challenge, dando a conhecer a nossa plataforma aos developers. É nisto que consite o Ecosystem.

A. Narciso: E quais são os vossos principais parceiros?

G. Lee: Numa primeira fase, falamos de parcerias com a Gameloft, Electronic Arts, Gameview, …

A. Narciso: Apenas no ramo dos jogos?

G. Lee: A EA também está a desenvolver outras aplicações não relacionadas directamente com jogos, mas sim à volta do entretenimento.

A. Narciso: Sim, mas referia-me mais ao tipo de aplicações verdadeiramente úteis para os utilizadores, por exemplo, o Skype.

N. Silva: Na verdade, nós aqui em Portugal já temos disponível o Ndrive. Esta foi uma parceria estratégica, em que a Ndrive foi uma das primeiras empresas aqui em Portugal a pegar na SDK do bada e começar a desenvolver o sistema de navegação GPS para o nosso dispositivo.

G. Lee: Nos Developer Day convidamos também os nossos potenciais parceiros a desenvolverem uma espécie de “aplicações localizadas”, como por exemplo relacionadas com notícias ou serviços de localização.

A. Narciso: Como é que estão a pensar tornar o vosso mercado de aplicações lucrativo? Investir em aplicações grátis, talvez com alguma publicidade ou em aplicações pagas de grande qualidade? Falo de uma filosofia Android Market vs. App Store.

G. Lee: Actualmente Portugal ainda não tem a sua própria loja de aplicações, os utilizadores portugueses neste momento apenas conseguem descarregar aplicações grátis. Será em Setembro que desenvolveremos a loja portuguesa. Nessa altura, será possível aceder a conteúdos pagos.

N. Silva: Agora o que temos é uma “loja global”, dado que este é o primeiro dispositivo da Samsung a suportar o download de aplicações para esta plataforma. A Samsung decidiu aquando o lançamento da plataforma, ter pelo menos uma loja global onde fosse possível aos utilizadores descarregar aplicações grátis e pequenas demonstrações. E a partir de Setembro, aqui em Portugal, já será possível descarregar aplicações premium, com imensas funcionalidades, ao contrário do que temos agora na loja global.

G. Lee: Actualmente temos cerca de 20 países já com as suas próprias lojas, com conteúdo premium, mas como pode ver, estamos a expandir rapidamente a outros países.

A. Narciso: Reparei que na loja de aplicações acessível aqui em Portugal existem muitas aplicações noutros idiomas que não o Inglês,. Haverá algum tipo de restrições ou políticas por parte da Samsung relativamente às aplicações desenvolvidas pelos developers, por exemplo, relacionadas com o idioma?

G. Lee: Em relação a políticas gerais, tal como disse anteriormente, temos o Ecosystem. Um developer é livre de vender as suas aplicações em qualquer país, mas claro que terá de respeitar o idioma do país, ou pelo menos, escrevê-la em Inglês.

N. Silva: O que temos agora é a loja global, onde são colocadas todas as aplicações independentemente do idioma. Mas quando tivermos a loja local, com os tais conteúdos pagos, o developer terá de dizer onde quer vender a sua aplicação e caso não respeite o idioma local, isso será detectado pela nossa equipa. Portanto, caso seja submetida para a loja local (lançada em Setembro deste ano) temos uma bateria de testes mais restrita que garantirá que todos os portugueses compreendem a aplicação.

A. Narciso: Por último, notei a ausência de aplicações nativas relacionadas com o Google. Existe apenas um widget com um atalho para a interface web do Gmail e do Google Maps, ambas muito limitadas face a uma versão nativa. Qual a razão para este facto?

N. Silva: Trata-se de uma questão de parcerias. É precisa uma licença especial para incluir esse tipo de aplicações no nosso dispositivo. É claro que estamos correntemente em expansão relativamente ao nº. de aplicações disponíveis tanto na loja global como nas lojas de cada país (sendo a portuguesa lançada em Setembro). Chegará a uma altura em que será inevitável a competitividade do nosso mercado de aplicações e assim serão atraídos novos investimentos.

A. Narciso: Muito obrigada pela oportunidade de vos entrevistar, em nome de toda a equipa do Pplware.

Gostaria de agradecer mais uma vez à Samsung em nome da equipa PPLWARE, com especial apreço à Relações Públicas Cátia Neves, pois sem a sua disponibilidade, este encontro não seria possível. Obrigada.

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