Com o consumo de energia a aumentar, com a necessidade maior de obtenção de energias limpas, os espaços em terra começam a ficar pintados com paisagens de painéis solares apontados à luz. Contudo, é nos espelhos de água onde a expansão será cada vez mais notada. Falamos nas plataformas de Energia Solar Flutuante.
Depois do projeto de construção, para 2019, do maior parque eólico flutuante ao lago da costa de Viana do Castelo, a cerca de 20 quilómetros, o país aposta agora na inovação também no campo da energia solar, com a introdução da energia solar flutuante e as centrais hidroelétricas.
O que são, para que servem e como se instalam as plataformas de energia solar flutuante
Foram instaladas em todo o mundo um total de 1,1 gigawatts (GW) de energia solar a partir do passado mês de setembro, de acordo com um novo relatório do Banco Mundial (PDF). Estes números são o equivalente à quantidade de capacidade de painéis solares tradicionais instalados em todo o mundo no ano 2000, segundo o relatório.
O futuro reclama a utilização da energia solar flutuante
O Banco Mundial espera que, depois de 18 anos de energia solar já a fazer parte da vida das pessoas, a explosão da energia solar flutuante aconteça nas próximas duas décadas. Isso porque a energia solar flutuante não é simplesmente “painéis solares na água”.
Os painéis solares previnem o crescimento de algas nas áreas represadas e inibem a evaporação em climas mais quentes. Há dados que mostram haver perdas nos grandes lagos no sudoeste dos EUA como Lake Mead e Lake Powell de 3237km² de água por evaporação por ano, como refere a Escola de Silvicultura e Estudos Ambientais de Yale.
É aqui que “floatovoltaics” (estrutura solar flutuante) pode prevenir até 90% dessa evaporação. Além disso, a energia solar flutuante evita ocupar espaço em terra que é igualmente outro custo a subtrair ao valor da energia recolhida.
Outro benefício da energia solar flutuante é a não necessidade de investir na preparação do piso, do solo para colocar as estruturas de painéis solares. Normalmente, os painéis de inclinação fixa são ligados a uma plataforma flutuante que está ancorada no fundo do reservatório. A maioria dos sistemas envia eletricidade através de inversores flutuantes, embora em algumas instalações menores os inversores estejam situados em terra.
O lado negativo é, obviamente, o custo. As plataformas flutuantes e a fiação resistente à água são mais caras nos painéis de água do que seriam nos painéis terrestres. Como os preços dos painéis fotovoltaicos solares vêm a cair, o custo extra para fazer um sistema flutuante pode evitar que esta aposta se torne muito cara.
Portugal foi pioneiro ao nível europeu
A primeira central fotovoltaica combinada de hidro e flutuação foi instalada em Portugal entre 2016 e 2017 na Barragem do Alto Rabagão.
Segundo a EDP (empresa que instalou os painéis), o sistema tem capacidade instalada de 220 quilowatts no pico (kWp) e produz 300 MWh por ano. O sistema resistiu a um aumento de 1 metro em condições adversas, como deu a conhecer a empresa em dezembro de 2017.
Esta tecnologia tem também inúmeras vantagens ambientais relacionadas com a proteção da radiação solar no meio subaquático, com menor proliferação de algas e a redução do consequente efeito eutrofizante, com diminuição de emissões de gases de efeito estufa. Ainda existe um caminho a percorrer para aproximar esta solução dos custos das opções convencionais em terra. No entanto, já estão a ser estudadas soluções otimizadas que permitirão reduzir esse diferencial num prazo não muito distante.
O Banco Mundial observa que um dos primeiros pares hidroelétricos e solares existe na central hidroelétrica de Longyangxia, em Qinghai, na China. Aqui, no entanto, as instalações solares foram construídas em 2013 e 2015, para que os painéis sejam instalados em terra. Mas a combinação hidro-solar ainda oferece uma visão de como a energia solar flutuante poderia funcionar noutras áreas.
O sistema híbrido é operado de forma que a geração de energia dos componentes hidráulicos e fotovoltaicos se complementam.
Escreve o Banco Mundial. Quando os painéis solares estão a produzir energia suficiente, a central hidroelétrica de Longyangxia reduz a quantidade de água que passa pelas turbinas, o que resulta em mais água atrás da barragem para operação durante as madrugadas.
O mercado de fotovoltaicos flutuantes tem crescido. Até este ano, nenhum sistema solar flutuante tinha capacidade de pico superior a 100 megawatts, mas a partir de 2018, vários sistemas solares flutuantes de 100 MW foram ligados à rede, sendo o maior deles um parque flutuante de 150 MW.
Os locais de minas inundados na China suportam a maioria das maiores instalações.
Observa o Banco Mundial.
O custo benefício é quem mais ordena
À medida que os custos diminuem, podemos ver mais energia solar flutuante. Pelo menos, temos o espaço para adicionar fisicamente muito mais, de acordo com o Banco Mundial. A organização escreveu que “a estimativa mais conservadora” da área de superfície disponível para a energia solar flutuante “é superior a 400 GWp, o que equivale à capacidade acumulada de energia solar fotovoltaica acumulada em 2017”.
Assim, estamos perante uma real transformação das áreas naturais, onde os espelhos de água passarão a painéis de captação solar. O mote é dado pela conversão de energia solar em eletricidade por via da tecnologia fotovoltaica, que tem vindo a evoluir de forma acelerada no sentido de menores custos e de melhor eficiência.