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YouTube: o pântano que é a plataforma de vídeos da Google

Ainda que a polémica possa ter passado despercebida em Portugal, o YouTube está a viver um dos seus momentos mais lamentáveis. Ao mesmo tempo, a plataforma de vídeos da Google mostra também a sua verdadeira face, bem como a sua tendência para navegar ao sabor das marés (de investidores).

No meio disto tudo temos acusações de descriminação sexual e quiçá, novas regras de conduta.


Perante o recente escândalo envolvendo o youtuber com viés de direita, Steven Crowderface ao jornalista / youtuber da Vox, Carlos Maza, o YouTube tentou tomar uma nova postura. No entanto, tudo o que a plataforma de vídeos da Google consegui fazer foi publicar uma resposta ambígua, desprovida de firmeza.

O pântano em que se encontra o YouTube

A inconsistência na ação do YouTube perante as acusações de discriminação sexual levantaram agora um novo debate político. Um confronto que visa tocar em temáticas que variam desde as inclinações sexuais até ao politicamente correto. Entretanto, a comunidade online permanece incisiva nas críticas.

Antes de tudo, urge entender o que causou esta tempestade. De um lado temos Carlos Maza que, na semana passada, dirigiu-se a Steven Crowder, um youtuber famoso pelo seu desprezo pelo politicamente correto, pelas orientações políticas de direita e pelo caráter pouco comedido, ou mesmo agressivo.

Do vídeo e publicação supracitada, vemos uma compilação das injúrias proferidas por Crowder, especialmente dirigidas a Maza. Impropérios que tocam não só na sua orientação sexual, bem como na sua origem sul-americana ou, mais concretamente, mexicana.

A resposta da plataforma de vídeos da Google

O YouTube calca uma dúbia linha entre a defesa da liberdade de expressão e na devida censura ao que pode ser classificado como injúria pessoal. Ao mesmo tempo, a plataforma tem que pesar os interesses dos investidores (publicidade), além dos vieses políticos que pautam a agenda norte-americana.

No meio de tudo isto, o YouTube tenta manter uma postura neutra, classificando-se como espaço salutar. O resultado? A plataforma optou por não rentabilizar (remover as publicidades e fontes de rendimento), dos vídeos de Steven Crowder que se afirma como comediante e comentador político / da atualidade.

O busílis da questão passa por classificar o que é dito em nome da sátira e espírito de comédia e o que é um insulto pessoal. Uma linha que o YouTube não ousou ultrapassar, mas que acabou por piorar toda a situação. Foi removida a fonte de rendimento a Crowder, mas a comunidade LGBT irrompeu em fúria.

O YouTube não devia tolerar comportamento homofóbico

De igual modo, não devia permitir qualquer tipo de assédio à comunidade LGBT. Estas são as principais e mais pungentes acusações por parte desta comunidade, indignada com a passividade da plataforma de vídeos da Google. Entretanto, o YouTube levou a cabo alterações às suas regras de conduta.

Com efeito, a plataforma acrescentou agora uma adenda, compreendendo uma postura mais severa para com o discurso do ódio, ou para a negação do Holocausto. Algo que poder ser visto na íntegra através desta ligação para o blog oficial do YouTube. Ao propósito, as novas regras já estão em vigor.

A plataforma de vídeos teve em consideração as alegações e todo o caso exposto por Maza. A partir daqui, concluiu que Crowder não violou as regras de conduta e as políticas da plataforma. No entanto, desmonetizou os seus vídeos, algo que por si só foi classificado como incoerente.

As incoerências da plataforma de vídeos da Google

Com o intuito de mostrar iniciativa, o YouTube  começou a banir e remover a rentabilização a outros canais. Os principais visados foram canais de extrema-direita e temáticas envolvendo o regime de Adolf Hitler na Alemanha dos anos 30-40. Foi aqui que caiu a mão pesada da empresa.

Ao mesmo tempo, Crowder reagiu à desmonetização aparentemente arbitrária dos seus vídeos. Apelidando a situação de caprichosa e baseada no medo da plataforma à controvérsia e confusão. Crowder tocou também na desmonetização de vários outros canais de direita, classificando o caso de #VoxAdpocalypse.

youtuber, a partir das suas redes sociais, acusou Maza de querer “silenciar os criadores de conteúdos independentes”. O mesmo apontou ainda o “escudo da sexualidade e da nacionalidade” como justificação para uma nova forma de intolerância face à liberdade de expressão.

A comunidade LGBT aponta o dedo ao YouTube

Por sua vez, toda uma comunidade de criadores de conteúdo LGBT afirma que o YouTube não valoriza os criadores homossexuais, ou transexuais, por exemplo. Reiteram as suas críticas face à incapacidade da plataforma moderar o discurso do ódio. Seja nos conteúdos, bem como nos comentários aos mesmos.

Se a homofobia e o racismo não violam as vossas (YouTube) regras de conduta, então o que sucede? Porque é que estou nesta plataforma? Comentou Dodie Clark, youtuber e intérprete.

Os criadores de conteúdo pertencentes à comunidade LGBT acusam a discriminação constante. Através de diversas formas, a exposição que recebem no YouTube acaba por ser utilizada para os atacar. Ao mesmo tempo, apontam o dedo a outros criadores de conteúdo que os satirizam frequentemente.

Da Google nascem críticas ao YouTube

Ao mesmo tempo, um grupo de colaboradores da Google, utilizando o Twitter como palco, criou o perfil Googlers Against Hate“. Criaram também a hashtag #NoPrideInYT, ou, sem orgulho no YouTube. É uma crítica dirigida ao YouTube a ao facto de permitir que Crowder continue na plataforma de vídeos.

Apesar do YouTube capitalizar com o mês do Pride, é óbvio que tal não passa de uma campanha de marketing. As suas decisões, prejudiciais à comunidade LGBT tornam isso perfeitamente claro.

A controvérsia saltou rapidamente para o plano político. Após a desmonetização do seu canal, Crowder expôs a sua versão da história no Twitter. Aí, o youtuber expôs aquilo que classifica como uma extensa campanha para silenciar todos os criadores de conteúdos independentes.

A direita também se uniu na defesa à liberdade de expressão

Entretanto, Crowder tem dado voz a outros comentadores de cariz conservador. Além disso, afirma que a comunidade está unida em torno da sua causa. Nesse sentido vemos já a #VoxAdpocalypse como uma das hashtags mais populares na rede social. Em sua defesa temos já Ben Shapiro e o senador Ted Cruz.

Ao mesmo tempo, várias outras figuras do panorama político mais conservador também acrescentaram as suas vozes. Criticam sobretudo aquilo a que chamam de viés esquerdista de todo o Silicon Valley. Apontam o dedo às tentativas falhadas das tecnológicas em parecer neutras, enquanto punem os conservadores.

Em boa verdade, o YouTube sendo uma empresa privada não tem que se pautar pelos ditames constitucionais per se. Ainda assim, tendo em conta a influência global da plataforma de vídeos, há quem diga que esta deve ser responsável e proteger a liberdade de expressão.

E é precisamente aqui que terminamos. Enquanto o debate continua na esfera online, a verdadeira questão transcende as disputas pessoais. Deverá o YouTube, a Google, o Facebook ou o Twitter serem tratados como algo mais do que empresas privadas?

Numa nota pessoal, creio que nem o YouTube sabe o que fazer…

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