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Por que razão perdemos e ganhamos sotaques?

Uma especialista em linguística e professora de fonética explicou a razão pela qual as pessoas perdem e ganham sotaques, sendo eles elementos de identidade.


O sotaque é, por definição, o “tom, inflexão ou pronúncia particular de cada indivíduo ou de cada região”. Para a professora de fonética da University of Reading, a forma como uma pessoa fala “é uma parte intrínseca da sua identidade”, marcando-a “como sendo de um grupo social ou de outro”. Ora, os sotaques são, assim, “um sinal de pertença” que pode aproximar ou afastar comunidades.

Segundo Jane Setter, somos expostos aos padrões de fala que nos rodeiam mesmo antes do nascimento:

Estudos realizados a recém-nascidos concluíram que é possível detetar aspetos tonais específicos às suas comunidades de fala a partir dos seus choros. Para que as nossas necessidades sejam satisfeitas, estamos mais ou menos programados para nos integrarmos […] Avançamos através de várias fases de desenvolvimento da fala que resultam em adotarmos padrões de fala semelhantes aos que nos rodeiam.

Apesar disto, é provável que conheça alguém que, com o tempo e o decorrer da vida, perdeu esse sinal de pertença e adquiriu um novo sotaque. Mas porque será isto possível, tendo em conta a sua importância pessoal e social?

Jane Setter, professora de fonética da University of Reading

A especialista em linguística explica que o desejo “consciente ou subconsciente” de encaixar num determinado grupo pode influenciar a forma como as pessoas falam, quer elas queiram, quer não.

A evidência científica tem demonstrado que a pronúncia de uma pessoa se aproxima da do grupo de oradores com o qual se identifica em alguma fase da sua vida.

Partilhou no The Conversation, acrescentando que esta adaptação pode acontecer motivada por uma necessidade ou desejo de ser “mais claramente compreendido e aceite numa nova comunidade”.

Para as pessoas cujos sotaques mudam, a forma como falam pode ser menos importante para o seu sentido de identidade, ou a sua identidade com um grupo social ou profissional pode ser mais premente.

Ao longo da vida, vamos sendo expostos a pessoas – e consequentemente sotaques – fora do nosso grupo social, conhecendo novos padrões de fala. De acordo com Jane Setter, esta exposição pode resultar “na rápida mudança do sotaque por uma criança para ser aceite pelos seus pares”.

Por sua vez, aqueles cujo sotaque não parece mudar sentir-se-ão, eventualmente, mais seguros da sua identidade, ou sentirão “que a preservação da diferença é valiosa para eles”. Conforme exemplifica a especialista em linguística, “se um orador tiver o que a maioria considera ser um sotaque desejável, poderá não querer perder a vantagem modificando-o”, consciente ou inconscientemente.

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