Coçar tem uma função necessária, mas só até certo ponto. Se exagerarmos, torna-se totalmente contraproducente, provocando apenas muito mais comichão. Mas então, por que é que coçar reduz a comichão? E será que devemos fazê-lo?
A razão pela qual nos coçamos é bastante complexa, mas interessante
Inicialmente, o objetivo é remover qualquer agente que possa estar a causar danos na pele. Pode ser um inseto que nos pica, um grão de pó ou as fibras de alguns tipos de tecido. Em qualquer um destes casos, os recetores nervosos da pele enviam um sinal para o cérebro que se traduz numa mensagem de comichão, pelo que a mão começa logo a coçar. É praticamente automático.
Infelizmente, a comichão nem sempre é causada por algo que pode ser removido com um simples coçar. Podemos remover o mosquito enquanto ele está a picar, mas não a picada. Algumas pessoas sofrem mesmo de comichão crónica sem qualquer motivo. É aqui que o coçar pode tornar-se ainda mais irritante do que a própria comichão.
Temos o impulso de nos coçarmos quando um mosquito pousa no nosso braço, mas não quando alguém o acaricia. Como é possível que umas vezes nos coçamos e outras não? Mais importante ainda, porque é que nos coçamos mesmo quando não há nada para remover?
Bem, a sensação de comichão é irritante. É o que nos leva a esfregar a pele com as unhas. Por isso, pode ser um sinal de alerta de que algo está errado internamente, seja uma alergia alimentar ou um processo inflamatório, entre outros. Nestes casos, coçar pode parar temporariamente a comichão, pois é gerada uma ligeira sensação de dor que camufla a comichão.
Só acontece quando há de facto algo que nos pode fazer mal. Durante muitos anos, os cientistas não perceberam como é que isso acontece, mas em 2015 foi publicado um estudo em ratos que trouxe à luz uma possível explicação.
Os autores suspeitaram que a causa poderia estar nas ações de um tipo de célula nervosa conhecida como interneurónios espinhais inibitórios. Estes são conhecidos por atuarem através da medula espinal. A comichão é controlada pelo envio de sinais através desta via, mas em alguns casos o sinal é inibido e não chega ao cérebro.
A hipótese foi confirmada quando se verificou que os ratos sem ou com escassez destes interneurónios tinham mais comichão a quase todos os estímulos.
Porque é que não nos devemos coçar demasiado?
Quando nos coçamos demasiado, podemos perder algumas células externas da pele, causando irritação. Isto também é detetado por recetores neurais na pele, pelo que o sinal viaja para o cérebro e é traduzido em comichão. Como resultado, a comichão não diminui, mas continua a aumentar.
Além disso, quando nos coçamos, é libertada uma ligeira sensação de dor, que desencadeia a produção de serotonina. Este é um neurotransmissor que ajuda a controlar a dor. Quando isso acontece, a comichão volta, então o cérebro desencadeia a libertação de mais serotonina e começa tudo de novo. Neste caso, a razão para se coçar já não é uma coisa boa.
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