Poderá ser um fim que ninguém quer falar abertamente e onde a ciência pode ter um papel importante, contudo a degradação do habitat, a baixa variação genética e o declínio da fertilidade estão a levar o Homo Sapiens ao colapso. Os indícios são claros. Se na década de 60 uma das preocupações era a aniquilação nuclear, a outra era a superpopulação.
Cinquenta anos volvidos já se fala em declínio inevitável da população global. E de forma já destemida é mesmo usada a palavra “extinção”, como refere o paleontólogo Henry Gee, editor da Nature, na apresentação da sua teoria na Scientific American.
Extinção: Da superpopulação à subpopulação na Terra
Se no passado as guerras eram um problema, a corrida ao nuclear fazia prever um acidente que levasse à aniquilação da humanidade, meio século depois, essa ameaça perdeu a sua iminência. No que toca ao outro grande problema desses anos, a superpopulação, também perdeu parte da sua causa. Isto porque atualmente há duas vezes mais pessoas a viver na Terra do que nos anos 60, e vive-se (em termos muito amplos) com maior conforto e riqueza do que se suspeitava.
Assim, embora a população ainda esteja a aumentar, a taxa de crescimento caiu pela metade desde 1968. As previsões populacionais atuais variam. Mas há um consenso quanto ao limite deste crescimento. Segundo Henry Gee, a humanidade atingirá o topo em meados do século e começará a cair acentuadamente.
Adiantando um pouco o calendário até ao ano 2100, espera-se que o tamanho da população global possa ser menor que é agora. Na maioria dos países – incluindo os mais pobres – a taxa de natalidade está agora bem abaixo da taxa de mortalidade. Nalguns países, a população será metade do valor atual, em breve. As pessoas agora ficam preocupadas com a subpopulação.
Pouca variação genética e menos qualidade do esperma humano
Conforme refere Henry Gee, numa visão a longo prazo, as espécies de mamíferos têm uma tendência inconstante de aparecimento, desaparecimento, num período de um milhão de anos. O registo fóssil indica que o Homo Sapiens existe há cerca de 315.000 anos, mas durante a maior parte desse tempo, a espécie era rara – tão rara, de facto, que esteve perto da extinção, talvez mais do que uma vez.
Assim foram semeadas as sementes da desgraça da humanidade: a população atual cresceu, muito rapidamente, de algo muito menor. O resultado é que, como espécie, o Homo Sapiens é extraordinariamente semelhante. Há mais variação genética em algumas raças de chimpanzés selvagens do que em toda a população humana. A falta de variação genética nunca é boa para a sobrevivência das espécies.
Além disso, ao longo das últimas décadas, a qualidade do esperma humano tem diminuído maciçamente, levando possivelmente a taxas de natalidade mais baixas, por razões que ninguém está realmente seguro. A poluição – um subproduto da degradação humana do ambiente – é um dos fatores possíveis. O stress é outro!
A economia está a “matar” as populações
Sim, a economia é responsável pelo abrandamento do crescimento populacional, segundo Gee. Atualmente a humanidade já cativa entre 25 a 40% da produtividade primária líquida – ou seja, a matéria orgânica que as plantas criam a partir do ar, da água e do sol.
Além de ser uma má notícia para os milhões de outras espécies do nosso planeta que dependem desta matéria, tal cativação pode estar a ter efeitos perniciosos à saúde, nas perspetivas económicas humanas. Hoje em dia as pessoas têm de trabalhar mais e por mais tempo para manter os padrões de vida de que gozam os seus pais, se tais padrões forem mesmo possíveis de obter.
De facto, há provas crescentes de que a produtividade económica estagnou ou até declinou globalmente nos últimos 20 anos. Um resultado poderia ser que as pessoas estão a adiar ter filhos, talvez por tanto tempo que a sua própria fertilidade começa a diminuir.
Claro, é muito positivo o facto de que há hoje uma maior emancipação económica, reprodutiva e política das mulheres. Sem dúvida que isso melhorou o nível educacional, a longevidade e o potencial económico dos seres humanos em geral.
Há atualmente uma melhor contraceção e melhores cuidados de saúde, as mulheres não precisam de ter tantos filhos para assegurar que pelo menos alguns sobrevivem aos perigos da primeira infância. Mas ter menos filhos, e fazê-lo mais tarde, significa que é provável que as populações diminuam.
Dívida de extinção
O autor revela um leque de indícios que são particularmente fortes para sustentar a teoria da extinção. Contudo, é apontado que há uma ameaça insidiosa para a humanidade, algo chamado de “dívida de extinção“. Isto é, chega-se a um momento no progresso de qualquer espécie, mesmo daquelas que parecem estar a prosperar, em que a extinção será inevitável, não importa o que possam fazer para a evitar.
A causa da extinção é geralmente uma reação retardada à perda de habitat. As espécies mais ameaçadas são as que dominam determinadas manchas de habitat à custa de outras, que tendem a migrar para outros locais, por isso dispersam-se, estão mais diluídas. Os seres humanos ocupam mais ou menos todo o planeta.
No caso dos humanos, como estes capturam praticamente toda a produtividade à escala planetária, são dominantes dentro do seu próprio habitat. Portanto, poderemos estar a ver uma espécie “morta” em andamento!