Nos últimos anos tem-se associado a exposição prolongada, principalmente durante a noite, a dispositivos que emitem luz azul com problemas de saúde. Recentemente, foi descoberto um novo possível efeito que pode estar associado à exposição prolongada a luzes LED azuis.
Utilizando moscas como modelo de estudo verificaram que a exposição a luz LED azul levou ao desenvolvimento acelerado de características típicas de organismos envelhecidos.
A utilização de dispositivos eletrónicos como, computadores, telemóveis, televisões ou luzes LED, tem crescido muito nos últimos anos. O ser humano encontra-se, por isso, cada vez mais exposto à radiação emitida por estes dispositivos, direta e indiretamente.
A adoção da tecnologia LED (“light-emitting diode”) como fonte principal de iluminação é relativamente recente. Portanto, os efeitos da exposição prolongada a esta luz no corpo humano ainda não são completamente percebidos.
Com o intuito de compreender as consequências nefastas que as luzes LED possam ter, um grupo de investigadores utilizou moscas da fruta (Drosophila melanogaster).
Porque foram utilizadas moscas como modelo de estudo?
Na verdade, as moscas da espécie Drosophila melanogaster são muito utilizadas como modelo para estudar os mecanismos que regulam o envelhecimento.
Em primeiro lugar, reproduzem-se rapidamente e têm um tempo útil de vida relativamente curto (entre 2 e 3 meses). Permitindo avaliar rapidamente fatores que possam influenciar a sua longevidade, por exemplo. Em segundo lugar, são organismos fáceis de manipular geneticamente. Todo o genoma destas moscas (ou seja, toda informação genética contida no seu DNA) é totalmente conhecido.
Por último, grande parte dos seus genes têm um correspondente no genoma humano. Apresentando uma grande semelhança genética com o ser humano.
Luz LED azul promove o envelhecimento
Inicialmente, as moscas foram expostas a 12 horas de luz LED branca diária, intercaladas por 12 horas no escuro. Este tipo de exposição teve um efeito prejudicial tanto na mobilidade destes organismos como na sua longevidade.
De seguida, foi levantada a questão sobre quais dos comprimentos de onda que compõem luz branca seriam responsáveis por estes efeitos. Curiosamente, verificou-se que a luz LED azul era a grande responsável pela diminuição significativa da longevidade das moscas.
As moscas também são afetadas pela luz LED azul indiretamente
As moscas expostas a luz LED azul também apresentaram defeitos ao nível dos fotorrecetores. Estas células estão localizadas na retina e são responsáveis pela conversão da luz em sinais elétricos. Os sinais elétricos serão de seguida transmitidos ao cérebro.
Curiosamente, moscas sem olhos também apresentavam o mesmo fenótipo, ou seja, as mesmas características de envelhecimento acelerado. O que demonstra que também a exposição indireta a luz LED azul pode ter efeitos significativos no organismo.
Luz como regulador de ritmos circadianos
A luz desempenha um papel crucial no nosso organismo. Na verdade, este está dependente da correta regulação de vários mecanismos moleculares dependentes do tempo. Como por exemplo, ciclos hormonais (a secreção hormonal varia ao longo de um dia), padrões de sono ou ciclos reprodutivos (ciclo menstrual).
Ora, os ciclos com uma duração de cerca de 24 horas são designados por ritmos circadianos. Pensa-se que os ritmos circadianos tenham uma base genética, e que a ativação/inativação de determinados genes seja controlada por uma espécie de pacemaker interno. Este pacemaker interno é o principal regulador do nosso relógio biológico e está localizado no hipotálamo.
Os ciclos biológicos podem também ser modulados por fatores externos (conhecidos por “zeitgeber”) que os conseguem afinar temporalmente. A luz é um destes moduladores.
Assim, os ciclos circadianos são influenciados pela luz (ou falta dela) do ambiente exterior. Como é o caso dos padrões de sono: dormimos durante a noite e estamos ativos durante o dia.
Mas, será que a luz azul é mesmo prejudicial para o humano?
Recentemente, tem-se colocado a questão sobre se a intensidade da luz e o tempo a que a ela nos expomos serão suficientes para provocar efeitos prejudiciais significativos. A qualidade do sono poderá estar a ser afetada, não pela luz, mas pelo facto de a utilização dos dispositivos nos levarem a ficar mais tempo acordados.
Portanto, serão necessários mais estudos em humanos para perceber quais são exatamente os efeitos que a luz artificial possa ter. Apesar disso, a utilização de filtros de luz para telemóveis e computadores continua a ser recomendada. Mas, é certo que a melhor solução para este problema será reduzir o tempo de utilização de dispositivos eletrónicos que emitem luz, principalmente antes de adormecer.