Os astrónomos apelam à proteção do lado escuro da Lua, o local mais silencioso para sinais de rádio no sistema solar. Mas há cada vez mais empresas e agências governamentais de olho no espetro de rádio que será utilizado para comunicações e transmissão de dados entre a Terra e a Lua.
O setor privado quer as ondas lunares
Nos últimos 15 anos, a União Internacional de Telecomunicações (ITU) recebeu mais de 50 pedidos para utilizar o espetro eletromagnético em torno da Lua.
Pela primeira vez, no último ano, o número de pedidos de caráter comercial superou os apresentados por agências espaciais e governos, segundo o Financial Times. Este é um momento decisivo na corrida pela economia cislunar.
Há poucos dias, a SpaceX lançou, pela primeira vez, dois módulos lunares no mesmo foguete: o Blue Ghost, da empresa norte-americana Firefly Aerospace, e o Resilience, da empresa japonesa ispace. Ambas são fortemente financiadas pela NASA e pela JAXA (agência espacial japonesa).
Mas o transporte não é a única atividade em que o setor privado pode intervir na Lua. No ano passado, a Intuitive Machines ganhou um contrato de 4,8 mil milhões de dólares da NASA para desenvolver uma constelação de satélites que transmitam dados entre a Lua e a Terra.
Uma tendência emergente
De acordo com um relatório da consultora Analysys Mason, das 450 missões lunares previstas para a próxima década, cerca de metade será conduzida pelo setor privado, gerando um potencial de 151 mil milhões de dólares em receitas.
Com a crescente presença de empresas privadas na Lua, aumentam também os pedidos para operar sistemas de satélites e missões na superfície lunar, que exigem transmissão de dados.
As implicações regulatórias
O aumento dos pedidos para explorar o espetro lunar destaca a necessidade de rever e atualizar as normas internacionais que regulam a utilização das frequências no espaço. Esse será um passo essencial para evitar conflitos e garantir que a infraestrutura necessária para a economia cislunar se desenvolva de forma ordenada e segura.
A próxima Conferência Mundial de Radiocomunicações (WRC), que acontecerá em 2027, tem como um dos seus objetivos “rever as disposições relativas à gestão do espetro na Lua”, permitindo que os Estados-membros estabeleçam novas regulamentações para a emergente economia lunar.
O ponto de vista dos astrónomos
Enquanto o setor privado se apressa a reivindicar o espetro lunar, surge uma preocupação crescente na comunidade científica. Os astrónomos alertam para a necessidade de proteger a face oculta da Lua, reconhecida como o local mais silencioso em sinais de rádio do sistema solar, já que está voltada para longe da Terra.
Esta região é ideal para instalar radiotelescópios capazes de captar sinais dos primórdios do universo. No entanto, há o receio de que a instalação de infraestruturas de comunicação, como constelações de satélites e retransmissores de dados, prejudique essa escuridão tão valiosa para a astronomia.