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COVID-19: Estudos que desaconselham uso de hidroxicloroquina podem ter fonte falsa

Muito se tem falado nos medicamentos antimaláricos, como a hidroxicloroquina, para o tratamento à COVID-19. Contudo, houve um estudo, publicado por uma reputada publicação de informação científica, a Lancet, que apontava para resultados ineficazes e absolutamente mortais no uso deste medicamento no combate à doença provocada pelo novo coronavírus. Agora, o estudo que está apenso aos resultados apresentados está a ser colocado em causa. Erros e fontes falsas podem estar por trás dos resultados.

Surpreendentemente, na passada quarta-feira, dia 3, a Organização Mundial da Saúde anunciou que vai voltar a testar o medicamento hidroxicloroquina.


A hidroxicloroquina é ou não benéfica no tratamento da COVID-19?

Um estudo publicado no dia 22 de maio na reputada revista científica sobre medicina, Lancet, está a ser colocado em causa. Segundo informações, este estudo terá usado fontes pouco credíveis que usaram registos hospitalares adquiridos por uma empresa de análise de dados pouco conhecida, a Surgisphere.

Tais dados levaram à conclusão que os doentes com o novo coronavírus, que receberam o medicamento cloroquina ou hidroxicloroquina, eram mais propensos a apresentar ritmo cardíaco irregular. Este efeito colateral, que era conhecido, mas considerado raro, estaria a ser apontado como uma causa de morte nos doentes em 671 hospitais de seis continentes.

 

OMS volta a insistir na hidroxicloroquina

A Organização Mundial de Saúde, após vários meses em que se colocou em causa a eficácia da hidroxicloroquina, anunciou que vai retomar os testes com o medicamento. Conforme foi por várias vezes referido entre alguns especialistas, este medicamento é um dos mais cotados como um auxiliar funcional na luta contra a COVID-19.

Esta notícia terá deixado muitas pessoas surpreendidas, principalmente nos meios de investigação que trabalham afincadamente para descobrir um tratamento que neutralize o SARS-CoV-2.

Segundo o tweet de Tedros Adhanom Ghebreysus, diretor da OMS, o Conselho Executivo de Testes de Solidariedade da COVID-19 analisou os dados disponíveis e chegou à conclusão de que não há motivo para descontinuar os ensaios.

O grupo executivo recebeu esta recomendação e endossou a continuidade de todos os testes, incluindo os da hidroxicloroquina.

Referiu o diretor da Organização Mundial de Saúde.

De um momento para o outro, a OMS mudou a sua posição face a este medicamento o que deixou de facto muita gente a interrogar-se o que terá acontecido. Posteriormente, os indícios começaram a revelar algo preocupante!

 

Indícios mostram que o estudo terá várias falhas

O estudo publicado pela revista começa a revelar-se. Segundo a Lancet, a empresa Surgisphere, que forneceu dados de pacientes para dois outros documentos de grande visibilidade sobre a COVID-19, foi alvo de um escrutínio parte de investigadores. Então, foram levantadas muitas dúvidas sobre as conclusões que a Lancet revelara.

Foram colocados em causa dados que recolhidos de um número surpreendente de pacientes envolvidos. A revista publicou que o estudo teria envolvido 15 mil pacientes que receberam cloroquina ou hidroxicloroquina, sozinhos ou combinados com uma classe de antibióticos e com mais 81 mil que não tinham recebido os medicamentos experimentais.

Este enorme número de pessoas levantou de imediato muitas dúvidas em especialistas um pouco por todo o mundo.

Além da grande quantidade de pacientes, outros fatores foram apontados como potencialmente confusos. Entre eles estariam a idade, raça, doença pré-existente e gravidade da COVID-19. Assim, os investigadores constataram que o risco de morrer no hospital era de 9,3% para o grupo que não tinha recebido o medicamento, contra 23,8% para aqueles que receberam hidroxicloroquina a par de um antibiótico.

Estes resultados causaram grande impacto e, provavelmente, foram responsáveis pela decisão da OMS em suspender os testes com estes medicamentos. Aliás, foi mesmo sugerido que parassem todos os testes que estivessem a ser feitos ao redor do planeta.

 

Vários estudos, resultados idênticos, mas com fontes de dados comuns

Ontem, dia 3, a Lancet emitiu uma “nota de preocupação”. Conforme pode ser lido, é referido que “foram levantadas questões científicas importantes sobre os dados” no documento e salientam que “uma auditoria independente da proveniência e validade dos dados foi encomendada pelos autores não afiliados à Surgisphere está em curso, com resultados esperados muito em breve”.

Outras publicações, como a The New England Journal of Medicine (NEJM), também estão céticas e estão a colocar em causa um segundo estudo que também tem como base os dados da Surgisphere, publicado a 1 de maio. O jornal relatou que alguns investigadores sugeriram que tomar certos fármacos para a tensão arterial, incluindo inibidores da enzima conversora de angiotensina (ACE) não parece aumentar o risco de morte entre os pacientes com COVID-19.

Recentemente, foram levantadas preocupações substantivas sobre a qualidade da informação nesta base de dados. Pedimos aos autores que forneçam provas de que os dados são fiáveis.

Refere um comunicado da NEJM.

Quer as publicações que anunciaram os resultados do trabalho sobre o uso da hidroxicloroquina, quer vários investigadores, já fizeram saber que  estudo não controla devidamente a probabilidade de os pacientes, que receberam os medicamentos experimentais, estarem mais doentes do que o que eventualmente foi reportado.

 

Quem é a empresa Surgisphere?

Segundo uma investigação do The Guardian, a empresa norte-americana Surgisphere, cujos funcionários parecem incluir um escritor de ficção científica e um modelo de conteúdo adulto, forneceu dados para vários estudos sobre o Covid-19, em coautoria com o seu diretor-executivo. Contudo, até o momento, a empresa não conseguiu explicar adequadamente os seus dados ou metodologia.

Além disso, o mesmo jornal descobriu que vários funcionários do Surgisphere têm poucos ou nenhum dado ou formação científica.

A página do LinkedIn da empresa tem menos de 100 seguidores e na semana passada listou apenas seis funcionários. Isso foi alterado para três funcionários na quarta-feira. Embora a Surgisphere afirme ter um das maiores e mais rápidas bases de dados do mundo, quase não tem presença on-line. O seu identificador no Twitter tem menos de 170 seguidores, sem publicações entre outubro de 2017 e março de 2020.

Até à passada segunda-feira, o link “Contacte-nos” na página inicial da Surgisphere estava redirecionado para um site de criptomoeda. Tal situação levanta questões sobre como os hospitais poderiam facilmente entrar em contacto com a empresa para fazer parte da sua base de dados.

Estas são apenas algumas das muitas incongruências que podem ser lidas na investigação da publicação inglesa. Conforme podemos perceber, existem muitas questões por responder, grande parte delas refletem a idoneidade deste estudo e da empresa por trás dele.

 

 

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