A “paralisação” do núcleo interno da Terra traz implicações na forma como o nosso planeta funciona. Segundo um estudo apresentado pelos sismólogos Yang e Song, esta alteração poderá significar mudanças nos campos gravitacionais e magnéticos da Terra e trazer consequências geofísicas mais amplas.
O artigo científico foi publicado pela revista “Nature Geoscience“, e o resultado foi uma surpresa para os próprios autores. A dupla de investigadores estuda o fenómeno desde 1995.
Rotação do núcleo interno da Terra pode estar a inverter-se?
O núcleo da Terra parou de girar mais rápido do que o próprio planeta e poderá mesmo estar a inverter o seu sentido. Este é o resultado apresentado num estudo feito a partir de dados de sismos, realizado por Yi Yang e Xiaodong Song, sismólogos da Universidade de Pequim. A descoberta aponta para que este abrandamento leve a alterações nos campos gravitacionais e magnéticos da Terra e trará consequências geofísicas mais amplas, como a alteração na duração de um dia completo nalgumas frações de segundo.
Isso porque a duração de um dia está diretamente ligada ao movimento de rotação da Terra em torno do próprio eixo (que dura 23 horas, 56 minutos, 4 segundos e 0,9 décimos de segundo). Assim, a mudança na forma como o núcleo gira poderá estar a ter impacto no movimento de rotação em si e, consequentemente, na duração de um dia.
Outras possíveis alterações seriam relativamente ao nível do mar e à temperatura da Terra.
Nos últimos anos, os dias estão a ficar mais curtos e pode ser que haja relação com esta mudança [na forma como o núcleo gira].
A alteração na rotação também pode modificar o campo gravitacional como um todo e causar deformações na superfície, o que alteraria também o nível do mar e, por sua vez, a temperatura global do planeta.
Explicou Song numa entrevista ao jornal espanhol El País.
E como iremos perceber estas alterações no núcleo?
Numa entrevista à Nature, o John Vidale, sismólogo da Universidade da Carolina do Sul, refere que os potenciais impactos precisam de mais tempo para serem devidamente avaliados. Como tal, temos de esperar.
Para já, percebe-se que milhares de quilómetros abaixo dos nossos pés, o interior da Terra estará a preparar algo muito estranho. Mas ainda requer mais investigação para conhecer melhor o nosso planeta e as suas entranhas.
Só em 1936 é que foi descoberto o núcleo interno, após os investigadores estudarem a forma como as ondas sísmicas dos terramotos viajam pelo planeta. As mudanças na velocidade das ondas revelaram que o núcleo do planeta, que tem cerca de 7.000 quilómetros de largura, consiste num centro sólido, feito principalmente de ferro, dentro de uma casca de ferro líquido e outros elementos.
O núcleo externo, de 2.400 quilómetros de largura, separa o núcleo interno do restante do planeta. Era este isolamento que permitia que o núcleo interno pudesse girar num ritmo próprio.
Os autores concluem que esta oscilação na rotação do núcleo interno, coincidindo com mudanças periódicas no sistema de superfície da Terra, demonstra a interação entre as diferentes camadas da Terra.