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Análise The Last of Us 2 (Playstation 4)

Pelas mãos dos estúdios americanos Naughty Dog, surgiu em 2013 aquele que pessoalmente considero como um dos melhores jogos que as consolas (Playstation) tiveram oportunidade de correr: The Last of Us.

Uma aventura repleta de ação, aventura e ternura que colocava um homem duro e calejado (Joel) no papel de protetor de uma menina delicada, divertida e esperta (Ellie), enquanto palmilhavam uma terra devastada e cheia de aberrações na procura por salvação.

Passados 7 anos, surge The Last of Us 2, e voltámos a encontrar Ellie e Joel.


Quando foi lançado em 2013, The Last of Us ascendeu automaticamente aquele pedestal imaginário a que poucos jogos podem aspirar e que ainda menos conseguem chegar. Podem ler a nossa análise aqui.

No entanto, um jogo tão próximo da perfeição tem um reverso da medalha, que é o de colocar a fasquia tão alta que se torna arriscado em pensar numa sequela. Mas, foi isso mesmo que aconteceu… surgiu The Last of Us 2.

Tal como no jogo original, The Last of Us 2 deve ser interpretado sob a forma de uma narrativa interativa com uma mensagem, em vez de um simples jogo. É como se fosse um filme no qual podemos controlar os personagens e ter algum tipo de liberdade na forma como o fazemos.

Já o primeiro jogo foi assim. No entanto, existe uma clara diferença entre ambos, que altera completamente a forma como sentimos o jogo: Ellie.

Enquanto em The Last of Us, Ellie era uma criança divertida, repleta de sonhos e que precisava de proteção, neste segundo jogo surge-nos uma mulher feita e enrijecida (talvez em demasia) pelos acontecimentos ocorridos ao longo dos anos. Esta alteração é fundamental para o desenrolar do jogo.

A história começa em Jackson, onde Ellie e Joel encontraram um refúgio tranquilo e seguro junto de Tommy (irmão de Joel). Após um início que relembra algumas mecânicas de jogo, incluindo encontros com os Infetados, surge um ponto crucial do jogo e que marca toda a narrativa.

Esse trágico evento ocorre pelas mãos de Abby, uma personagem altamente revoltada e em busca de vingança (iremos perceber melhor mais adiante no jogo). À medida que vamos conhecendo melhor Abby, vamos também nos apercebendo de um dos pontos fortes do jogo: a ténue linha entre o Bom e o Mal, e o facto de todas as nossas ações terem um retorno.

Cega por uma sede de vingança, Ellie parte para Seattle atrás de Abby acompanhada pela sua amiga Dina, onde a maior parte do jogo se passa. É nesta cidade gigantesca e assustadora que a história se vai desenrolar e acabamos por descobrir as respostas para quase todas as nossas questões.

Independentemente de concordar ou não com a história e com determinados aspetos narrativos do jogo, não posso deixar de referir que apreciei bastante a ‘nova’ Ellie. Apesar de mais crescida e forte (física e mentalmente), Ellie continua a possuir os fogachos de emoção e irreverência a que nos habituou no primeiro jogo. No entanto, encontra-se também atormentada, não só pelo que sucedeu no início de The Last of Us 2 mas também por outro segredo…

Esta profundidade emocional de Ellie, expande-se a todos os restantes protagonistas do jogo conferindo-lhe uma riqueza narrativa impressionante, pelo que a Naughty Dog está novamente de parabéns.

Ellie cresceu e é agora uma mulher madura e enrijecida.

Ao longo dos anos, Ellie adquiriu novas skills. Já sabe saltar, rastejar, disparar enquanto deitada, ou mesmo produzir diversas ferramentas, armas e munições (as minas de proximidade são grandes amigas).

Enquanto avança pelas ruínas da cidade, Ellie vai também crescendo e isso surge sob a forma de aprendizagem/melhoria de novas habilidades, como, aperfeiçoar a sua furtividade, ou tornar-se mais rápida na criação de ferramentas e armas.

Ainda no capítulo da aprendizagem de Ellie, surgem espalhadas pelos cenários algumas bancadas que permitem a Ellie (e não só) melhorar as suas armas. O arsenal não é muito vasto mas é o suficiente: revólveres, caçadeiras, carabina, arco e flecha e até uma besta.

No entanto, e apesar de todo esse crescimento natural de Ellie, houve algo que me deixou um pouco intranquilo. Independentemente de ser ou não uma rapariga, e apesar de contar às vezes com o apoio de amigos (Dina é a primeira), Ellie consegue sozinha, deixar um rasto de destruição por onde passa, matando tudo e todos. É forçado…

Chegando a Seattle, Ellie encontra duas forças distintas em guerra: Washington Liberation Front (WLF) e os Serafitas (grupo fanático religioso, que usa assobios como alerta) com os quais terá de lutar. Por vezes até em simultâneo com os Infetados.

Estes momentos são deliciosos e abrem a porta a uma grande liberdade de ação, pois é perfeitamente possível (e até aconselhável) criar armadilhas que façam com que os Infetados ataquem os grupos militares inimigos e assim, facilitem o nosso trabalho.

Humanizar os inimigos

Durante a série Inside The Last of Us Part 2, a Naughty Dog referiu a sua preocupação em dar uma certa humanidade aos nossos inimigos. E realmente os seus comportamentos transmitem sentimentos e emoções realistas, como raiva e vingança quando encontram um dos seus camaradas eliminados por nós. O próprio facto de se tratarem pelos nomes cria uma forte sensação de camaradagem.

Combate

E isto leva-nos ao sistema de combate de The Last of Us 2. Com a inclusão de novas mecânicas furtivas (rastejar entre a erva alta, capacidade de escalar, uso de artimanhas), o combate tornou-se muito mais diversificado e com muitas mais opções (quer de eliminar os inimigos, quer de passar por eles despercebidamente).

Os ataques, especialmente os furtivos, são brutais. São viscerais. Facadas no pescoço, machadadas na cabeça,… e até mesmo as mortes com as minas de proximidade, que provocam chuvas de pedaços de corpos. Este é definitivamente um jogo para maiores de 18 (por isso e pela linguagem usada pelos protagonistas).

Um aparte para referir que o jogo se encontra totalmente localizado em português e com uma das melhores representações que já vi em videojogos. Se The Last of Us tinha um elenco de luxo que deu muito de si ao jogo, em The Last of Us 2, as suas interpretações estão ao nível de um óscar. Novamente, Joana Ribeiro, Marcantonio Del Carlo, Pedro Laginha e companhia encontram-se de parabéns, pois muito da beleza e da imersão do jogo depende da forma como eles interpretaram os seus papeis.

Voltando ao combate, gostaria de referir a inclusão de cães que traz um novo nível de dificuldade com que o jogador tem de se preocupar. Torna-se, por vezes, desesperante. Mesmo a rastejar nas ervas altas, os tramados dos cães apanham o nosso odor e, com os seus treinadores por perto, é extremamente complicado uma fuga.

Os Infetados

Apesar de aberrações, os Infetados têm um comportamento mais aguçado em relação ao primeiro jogo. Os seus comportamentos são menos repetitivos e mais aleatórios, assimm como continuam a ter reacções em “manada” quando notam a presença de humanos.

E há novas classes que tornam o desafio ainda maior. Apenas vou referir uma, que é deliciosamente complicada de eliminar: Trôpegos. Decididamente, além de feios como o catano, os Trôpegos têm a capacidade de largar nuvens de veneno. Definitivamente, não são a melhor companhia para se ter num corredor escuro. Mas há mais… não se preocupem.

E por falar em zonas escuras, a Naughty fez um bom trabalho na alternância entre zonas com luminosidade e zonas sombrias. Esta alternância encontra-se bastante equilibrada e ajuda, a repor o batimento cardíaco (essas zonas sombrias chegam a tornar-se, claustrofóbicas).

Os cenários estão simplesmente fantásticos e atrevo-me a dizer que será um dos melhores que a Playstation 4 já teve oportunidade de correr.

Como referi mais acima, a natureza reclamou Seattle para si e a cidade surge como um conjunto fantasmagórico de prédios em ruínas, cercados de mato e água. Existem pormenores interessantes e credíveis por todo o lado a que se vá. Casas degradadas, túneis de metro colapsados, ruas inundadas, um seminário de Banda Desenhada abandonado… tudo com uma profundidade visual simplesmente assombrosa.

Um conselho que dou a quem quiser aceitar: por assustador que por vezes o caminho se torne, percam algum tempo para investigar todos os cantos dos cenários. Vão ver que, além de encontrar items e recursos (que são escassos) importantes, vão também descobrir maravilhas que a Naughty Dog colocou no jogo.

E o som também. Os pormenores como o simples facto de subirmos umas escadas rolantes a correr e de se ouvir os passos metálicos, a água a escorrer nas ruas inundadas,…

O jogo oferece-nos uma narrativa sobre decisões e as suas repercussões. Uma decisão, independentemente de se boa ou má para alguém, tem sempre um impacto em algo ou noutra pessoa, e The Last of Us 2 reforça precisamente isso.

Lembro-me que quando terminei o primeiro jogo mantive-me uns bons momentos a olhar para o ecrã, num misto de alegria e tristeza, e pensar para mim “Então! E agora? E a Ellie?“. E essa absorção que o jogo teve em mim, foi o meu milagre de The Last of Us. É de louvar quando um jogo nos conta uma história com a que The Last of Us contou dessa forma tão imersiva que nos transporta efetivamente para dentro da sua narrativa. The Last of Us 2, vai fazer o mesmo convosco… acreditem!

Conforme repararam, pretendi não desvendar muito da história nem dos protagonistas de The Last of Us 2, pois acredito que essa descoberta deverá ficar nas mãos de todos os que experimentarem o jogo. E acreditem! Vão querer experimentar este jogo.

Veredicto

Depois de The Last of Us, acreditava ser muito difícil surgir um sucessor que conseguisse atingir aquele patamar de excelência. Aliás, depois daquela obra-prima, nem acreditava que a Naughty Dog (ou quem quer que fosse) se arricasse a tentar.

A verdade é que a Naughty Dog o fez e… ainda bem. Apesar de apresentar diferenças óbvias em relação ao original, The Last of Us 2 revelou-se uma surpresa extremamente positiva, superando claramente as minhas expectativas mais otimistas.

The Last of Us 2 não é um jogo mas uma história interativa que acompanha Ellie (e não só) numa narrativa com uma mensagem. E essa mensagem corresponde ao faco de todas as nossas decisões terem um impacto. Trata-se de uma caminhada emocional que todos os possuidores de Playstation 4 deveriam fazer.

The Last of Us 2 não é recomendável. É obrigatório!

The Last of Us 2

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