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Análise Fire Emblem Fates (Nintendo 3DS)

Fire Emblem é um daqueles casos de jogos que, apesar de terem a sua origem localizada no Extremo Oriente, conseguiram ultrapassar a barreira do espaço e invadir (pacificamente) os mercados ocidentais. Trata-se de um JRPG (Japanese Role Playing Game) e que representa uma série já com mais de 20 anos de existência.

É também um dos grandes RPG de aventura com a chancela Nintendo, e em 2016 regressa à nossa companhia, com Fire Emblem Fates. Aliás, em abono da verdade, Fire Emblem regressa mas com 3 novos títulos (veremos melhor este aspecto mais adiante).

O Pplware já experimentou Fire Emblem Fate e sentiu o pulso ao poder deste RPG à moda antiga.

À semelhança da maior parte dos RPGs, (especialmente os JRPGs) a história de Fire Emblem Fates é complexa e repleta peripécias e reviravoltas. Tratam-se de jogos que tentam transmitir as suas histórias com grande detalhe e sustentação e como tal, isso obriga a que sejam títulos com uma densidade bastante considerável em variados aspectos. Em Fire Emblem Fates essa complexidade surge de tal forma que faz com que o jogo se transforme em 3 jogos. Mas … já lá vamos.

Todas as histórias têm um inicio, certo? Fire Emblem Fates começa precisamente quando nós (após a criação do nosso personagem de forma altamente personalizavel) acordamos num quarto de um castelo no Reino de Nohr, meio aturdido e com poucas memórias. Nesse primeiro momento, apercebemos-nos que somos filhos do Rei de Nohr (Rei Garon)e pouco depois surgem em cena os nossos irmãos que nos levam de volta para o castelo do Pai.

Quando chegamos ao castelo e na mesma altura em que nos encontramos com Garon, são apresentados ao Rei alguns prisioneiros Hoshidan (Nohr está em guerra contra Hoshido). Garon exige-nos a execução dos prisioneiros e quando nos recusamos, como castigo, Garon manda-nos numa missão de reconhecimento (supostamente pouco perigosa, chegando a nos oferecer uma espada mágica). Acontece que afinal a missão era bem mais perigosa e acabamos capturados pelos Hoshidan.

Esta primeira missão serve também para nos oferecer um primeiro vislumbre da forma que se desenrolarão os combates. Ao nosso dispor temos um punhado de unidades (nós e mais 4) e por turnos vamos movimentando as nossas unidades no mapa estratégico e entrando em combate com forças inimigas.

No entanto esta primeira missão tem também o objectivo de nos apresentar os Hoshidan e invariavelmente somos capturados pelos guerreiros de Hoshido e levados para a sua capital. Aí, temos uma nova revelação quando descobrimos que afinal somos um herdeiro real de Hoshidan, raptado pelo Rei Garon e levado para Nohr. Trata-se de uma reviravolta que traz consigo um impacto bem maior que o simples facto de sermos Príncipe de Nohr ou de Hoshido.

Entretanto, a espada que Garon nos ofereceu encontrava-se amaldiçoada e quando a sua magia negra é libertada provoca grande destruição em Hoshido, matando inclusive a Rainha (nossa mãe de sangue). Este é um momento chave em Fire Emblem Fates. Basicamente após estes eventos (capitulo 6), uma decisão terá de ser tomada. De um momento para o outro descobrimos que nós além de sermos um Príncipe de Nohr (onde somos extremamente chegados aos nossos irmãos) somos Príncipes Reais de Hoshido (e que fomos raptados contra nossa vontade à nossa mãe, que agora encontra-se morta).

A decisão a tomar é  … ou somos Hoshidan e encetamos uma luta contra os nossos irmãos adoptivos e contra o nosso pérfido padrasto … ou decidimos lutar pelas forças de Nohr, combatendo os nossos irmãos de sangue mas tentando em simultâneo curar Nohr da corrupção e malevolência do Rei Garon.

Essa decisão faz também com que o jogo ingresse numa de duas direcções. Se escolhermos o lado de Nohr, estaremos a escolher a aquisição de Fire Emblem Fates: Conquest. Por outro lado se escolhermos o sangue do nosso sangue, teremos de fazer o download de Fire Emblem Fates: Birthright.

Basicamente cada um destes Downloads apenas traz a história sob a perspectiva de cada facção mas tem também um outro efeito, um pouco mais … nocivo. Invariavelmente, quem adquirir um dos Downloads, pode adquirir o outro mas terá de o comprar também. Bem sei que é opção de negócio mas acredito que seja algo questionável.

Bem, dito isto, e consoante a nossa escolha, começamos a aventura ou por um lado ou por outro. Convém indicar que cada um tem as suas particularidades e exigências, sendo o de Conquest talvez um pouco mais talhado para os veteranos da série (RPGs no geral).

A mecânica de Fire Emblem Fates é episódica, o que quer dizer que, temos variados episódios (missões) que são feitos e nos intervalos regressamos ao nosso hub principal, o nosso castelo. E o castelo é extremamente importante no jogo pois existem um vasto conjunto de acções e iniciativas que podemos/temos de tomar enquanto estamos entre missões. O nosso castelo, é a nossa base e onde a parte de gestão se processa.

Consoante a nossa evolução na aventura, vamos podendo fortalecer o castelo construindo variados edifícios (que podem ser melhorados) no seu interior, cada qual com a sua função. Apesar de alguns dos edifícios serem mais importantes que outros, temos variedade para todos os gostos. Por exemplo, o Smithy serve para melhorar as nossas armas, ou então a Lottery Shop que é uma espécie de casino onde jogamos à roleta para ganhar prémios variados que podem ir de comida a armas especiais, ou o Dawn Armory que é o local certo para comprar ou vender armas, a Rod Shop onde compramos acessórios e poções várias, a Mess Hall que curiosamente é uma cantina onde podemos confeccionar refeições antes das missões ou dos Challenges e que atribuem aos soldados alguns pontos únicos para esses combates (pontos de defesa, de HP, de magia, …) ….

Um dos edifícios mais importantes é o Lillith’s Temple, onde vive a Lillith (um Astral Dragon que nos apoia ao longo do jogo e tem um papel muito importante no seu desenrolar) e que quanto mais forte, mais protecção nos pode dar. Outro é o Private Quarter que se trata dos nossos aposentos privados e onde podemos receber os nossos companheiros de armas para jantar e assim fortalecer a nossa afinidade com eles.

Aliás, a melhoria de relações entre unidades pode ser feita também mediante conversas entre personagens que se passam enquanto andamos no castelo. Basicamente são secções animadas onde os diálogos por vezes são algo extensos e que fazem com que a afinidade entre dois personagens evolua e assim se tornem mais produtivos quando trabalhem em equipa o que conforme se poderá ver mais abaixo, pode ser extremamente importante no decorrer das batalhas.

Mas falando um pouco melhor de como surgem as batalhas. Existem 3 diferentes formas de entrar em acção todas despoletadas quando encaminhamos o nosso personagem para uma saída do castelo, que nos abre um menu onde podemos escolher algumas opções (as 3 primeira levam-nos para os campos de batalha):

Pelo caminho principal da aventura, vamos encontrando variadas outras personagens de diversas tribos (Rinkah da Flame Tribe ou Felicia da Ice Tribe por exemplo) que se juntam à nossa equipa e ao longo de todo o jogo é interessante ver como a postura dos diferentes personagens vai variando em relação aos eventos que acontecem. Aliás, o jogo continua constantemente a ter uma grande profundidade na caracterização dos personagens sendo o peso dessa profundidade apoiado em diálogos por vezes grandes demais.

Antes de cada missão (seja ela principal ao jogo ou auxiliar) temos de escolher os personagens que nos acompanham. Este momento é extremamente importante pois não basta verificar quais as unidades de nível mais elevado por exemplo. Convém também ter em atenção identificar as unidades com melhor afinidades entre elas. Isto porque, no decorrer dos combates (em pelo mapa táctico) podemos associar 2 unidades numa espécie de esquadrão que atacam/defendem juntos. E quanto melhor essa afinidade melhor essa defesa/ataque conjunto.

Isto direcciona-nos para o combate propriamente dito.

Os combates (por turnos) apresentam-se através de duas perspectivas diferentes. Primeiramente temos um ecrã táctico que apresenta a visão estratégica do mapa, numa perspectiva lateral-superior e que nos mostra o mapa e todas as unidades à nossa disposição, bem como os inimigos. É neste mapa táctico que podemos movimentar as nossas unidades.

Em segundo lugar, e quando entramos em combate, temos um zoom in feito ao local onde um ataque se vai desenvolver (gostava de referir que este ecrã está extremamente fiel ao que se vê no ecrã táctico). Os ataques decorrem de forma automática e com base na classe dos personagens, nas armas equipadas, na afinidade entre os aliados … o desfecho é obtido. Antes de cada combate é-nos apresentado uma preview em relação às forças em confronto (e onde podemos alternar entre armas equipas, por exemplo) e convém ter particular atenção a este preview.

O aspecto das aramas a equipar é deveras importante antes de cada combate (cada unidade pode levar até 5 com ela) pois existe um ranking. Por exemplo as armas vermelhas são mais fortes que as verdes que por sua vez são mais que fortes que as azuis e essas mais poderosas que as vermelhas. É um triângulo importante de ter em mente antes de cada combate.

Com tanta personagem e tantas armas distintas que existem no jogo, a gestão das mesmas poderia ser uma terrível dor de cabeça. Felizmente, e para evitar isso, existe uma opção de Optimização de equipamentos que distribui automaticamente as melhores armas por personagem. Bem haja esta opção.

Apesar de não possuir vantagens práticas, existem 3 opções de visualização dos combates:

Existem várias classes à disposição e cada personagem tem a sua principal (pode ser alterada mediante o uso de Master Seals ou Heart Seals), o que lhes proporciona equipamentos (armas e/ou acessórios) específicos que pode levar para as missões. Existem bastantes classes todas elas com as suas vantagens e desvantagens, como por exemplo (do lado Hoshidan) a Subaki que é um Sky Night e monta um cavalo alado seja mais esguia em combate, temos o Kaze que é um ninja e é mestre no ataque à distância com uso de Shuriken, Silas que é um cavaleiro e assim mais forte nos ataques de proximidade … ao longo da aventura podem-se juntar a nós mais de 20 personagens.

E é ainda com o decorrer dos combates que, conforme as suas performances (no ataque e defesa) cada unidade ganha pontos de experiência. Esses pontos de experiência ao atingirem determinado valor permitem-lhe aumentar de nível. Com mais de 10 habilidades diferentes (Pontos de Saúde, Magia, Resistência, Velocidade, Defesa, …)  por personagem é pena que esses pontos de experiência ganhos sejam distribuídos pelo jogo e não pelo jogador.

Já que estamos a falar de combates e de pontos que poderiam ser melhorados, creio que faria sentido a existência de penalização às probabilidades de ataque/defesa para quando a unidade tenha terminado de se movimentar na totalidade no mapa táctico. No entanto nada destas sugestões sugere que o combate de Fire Emblem Fates seja fraco, supérfluo ou pouco empolgante. Nada disso … o jogo é extremamente táctico e no grau de dificuldade intermédio e sem ajudas (que veremos mais adiante) é extremamente viciante.

No nosso castelo, podemos ainda visitar as fortalezas de outros jogadores, podendo assim comparar os nossos feitos com outros jogadores de outros Países. No entanto, essas visitas a outros castelos acaba por ser interessante também, porque permite interacções, enquanto os visitamos. Por exemplo, podemos comprar equipamentos, contratar mercenários, entrar em combates nas arenas, comprar acessórios, oferecer acessórios, … podemos até participar em raides a esses castelos.

E podemos inclusive, dar o nosso feedback sobre os castelos que visitamos.

Uma palavra sobre o nível de dificuldade de Fire Emblem Fates que permite várias personalizações entre elas como por exemplo, a de permitir que unidades nossas mortas em combate, renasçam em vez de morrerem de vez na missão em curso. Esta opção é compreensível na medida que servirá para aproximar o jogo de jogadores menos experientes com a série, piscando o olho em simultaneo a jogadores seniores e a novos jogadores. No entanto não deixa de ser uma particularidade estranha a inclusão da possibilidade de se reduzir o grau de dificuldade do jogo mas, em caso algum, de voltar a subi-la. Por outras palavras, caso queiramos reduzir temporariamente o nível de dificuldade podemos fazê-lo mas voltar ao nível anterior já não será possivel. Estranho!!

Conforme mencionei, é pena que alguns diálogos sejam particularmente grandes, especialmente os que envolvem o inicio de cada episódio ou os que envolvem as melhorias de afinidades entre os personagens, sendo bastante fácil não nos apercebermos de determinada conversa importante. No entanto, é de louvar a inclusão de possibilidade de se relerem os diálogos.

A Nintendo 3DS não é conhecida pelas suas capacidades sonoras, logo não se poderá esperar nenhum Disco de Ouro de Fire Emblem Fates mas a sonoridade clássica e tranquila que apresenta acaba por encaixar na perfeição e criar um fantástico acompanhamento para a aventura. Desgostei foi da opção de cortar os diálogos dos personagens a meras interjeições.

Por fim, uma palavra para a ausência da língua portuguesa. É pena que um jogo deste valor e envergadura não tenha a nossa língua ainda.


Veredicto

Fire Emblem Fates encontra-se na senda dos grandes RPGs que têm acompanhado a Nintendo ao longo dos anos. Tem todos os ingredientes que fazem destes títulos, autênticos jogos de culto no Extremo Oriente (e não só).

A dualidade Nohr (Conquest) e Hoshido (Birthright) por polémica que possa ser pela questão da aquisição dos DLCs, acrescenta uma profundidade extra ao jogo ao mesmo tempo que lhe acrescenta robustez, tanto nas mecânicas, como na forma de encarar a história e o seu desenrolar o que o torna simplesmente irresistível.

Felizmente o interesse neste tipo de jogos, fora do Extremo Oriente, continua a e a crescer, pois caso contrário o Ocidente perderia a oportunidade de jogar este magnifico Fire Emblem Fates. Um dos melhores do ano para a 3DS.

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