Há situações em que sabemos que algo que ainda não vemos se aproxima. Por exemplo, quando estamos na estação do metro e começamos a ouvir um comboio a chegar, embora ainda não esteja visível. Não o vemos, mas sabemos que dentro de momentos estará à nossa frente, na estação.
O OpenOffice.org ainda é relativamente desconhecido em Portugal.
A maioria dos portugueses ainda ignora que existe esta alternativa ao Office mais utilizado. Não o vê ainda. Mas gradualmente isso está a mudar.
A Direcção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular do Ministério da Educação tem estado a distribuir por todas as escolas o CDs “Software Livre na Escola”, que o inclui.Os 500.000 portáteis Magalhães que serão entregues no Ensino Básico incluem-no, na partição Linux Caixa Mágica.
Os utilizadores do sistema operativo Linux contam com ele diariamente, e o crescente número de adeptos de portáteis Mac tem tido ao seu dispor a variante NeoOffice.
Muitas pequenas e médias empresas adoptaram sem grande alarido o OpenOffice.org como a sua ferramenta de trabalho. Nos últimos quatro meses foram feitos 520.000 downloads do OpenOffice.org em Portugal. Algo está a mudar.
A intensificação do ataque à pirataria por parte da Microsoft, com anúncios ilustrando lojas fechadas, processos a revendedores informáticos e confisco de computadores pessoais, irá sem dúvida colocar mais e mais pessoas e empresas à procura de alternativas a um software que já é demasiado caro em relação aos benefícios.
Todos os dias vemos os preços do hardware a baixar continuamente, mas o preço do software comercial não tem acompanhado essa descida.
Conforme o plano de investimentos do estado o demonstra, o licenciamento do software representa já, a seguir aos serviços, a maior fatia nos orçamentos informáticos.
Num cenário de crise económica é inevitável que as empresas e a administração pública comecem a olhar com mais atenção para essas verbas, e a interrogar-se sobre como poupar. E a por em causa a política do fornecedor único, que não deixa a concorrência actuar.
E entretanto, que se passa nas nossas portas? Na Andaluzia e na Extremadura todos os serviços públicos estão a ser migrados para Linux e OpenOffice.org.
Na recente Conferência Internacional de Software Livre em Málaga, organizada pelas Juntas dessas regiões espanholas, foi anunciada a migração de 1 milhão de computadores. A Comunidade Valenciana, a Xunta de Galícia, o Principado das Astúrias estão a começar a seguir-lhe os passos.
Ao contrário do que a promoção governamental da visita de Steve Balmer o poderia fazer crer, o milhão de portáteis Magalhães vendidos para a Venezuela só serão instalados com Linux e OpenOffice.org.
Pelas exposições dos representantes governamentais do Brasil, Paraguai, Uruguai e Cuba na conferência de Málaga, qualquer computador que seja eventualmente exportado por Portugal para esses países terá também Linux e OpenOffice.org como base.
O mundo está a mudar. A independência do estado face aos fornecedores, especialmente os estrangeiros, é especialmente prezada nos países em desenvolvimento, que querem estimular o conhecimento local e afirmar a sua soberania. O que se passa na América latina passa-se também na Rússia, Malásia, e China.
Mas esta não é uma posição apenas de governos do “terceiro mundo”, como alguns poderiam desdenhar. Algumas das maiores implementações mundiais de OpenOffice.org decorrem em França – toda a polícia, vários ministérios, a PSA (que fabrica os automóveis Peugeot e Citroen), levam a adopção de OpenOffice.org em grandes organizações ao milhão de utilizadores.
E porque está tudo isto a acontecer? Porque gradualmente as administrações públicas e as empresas, que até agora não tinham alternativas descobriram que afinal a têm. O comboio está finalmente a chegar à estação. E se em Portugal o som ainda é fraco, e apenas alguns o conseguem ouvir, nem por isso deixará de chegar. A economia encarregar-se-á disso.
Artigo por Paulo Vilela, responsável de marketing do OpenOffice.org em Portugal
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