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A polémica ideia na Florida: usar resíduos radioativos para construir estradas

A Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) aprovou um projeto-piloto na Florida para construir troços de estrada utilizando fosfogesso como material base, apesar dos potenciais riscos associados. A ideia gerou muita controvérsia, pois estes resíduos são radioativos!


Este é um projeto já com algum tempo em discussão. Agora, a EAP deu o aval para avançar.

A Florida apresentou um plano para testar um material de construção rodoviária pouco convencional: o fosfogesso, um subproduto radioativo da mineração de fosfatos. Esta decisão tem gerado tanto otimismo quanto preocupação, enquanto especialistas avaliam os possíveis benefícios económicos face aos riscos para a saúde pública.

O que é o fosfogesso?

O fosfogesso é um resíduo produzido durante a extração de fósforo, essencial na produção de fertilizantes. Para obter fósforo, a rocha fosfática é dissolvida em ácido. Este processo separa o urânio, que fica no ácido, e o rádio, que permanece no material residual. O resultado final é o fosfogesso.

O rádio, ao decompor-se naturalmente, liberta radão, um gás radioativo que aumenta o risco de cancro do pulmão com exposição prolongada. Por isso, as normas federais exigem que o fosfogesso seja armazenado em estruturas específicas, conhecidas como pilhas de engenharia.

Estas pilhas, semelhantes a montanhas artificiais, podem atingir centenas de metros de altura e cobrir áreas extensas. O seu objetivo é conter o material radioativo e limitar a exposição humana, garantindo a segurança pública.

Resíduos radioativos: luz verde para um projeto-piloto

Assim, a EPA aprovou recentemente um projeto-piloto da Mosaic, o maior produtor de fosfatos nos EUA. Este projeto prevê a construção de quatro troços de estrada experimental nas instalações da Mosaic em New Wales, no condado de Polk, utilizando fosfogesso como base.

Segundo a agência de proteção ambiental, os riscos associados ao projeto são “baixos”, com base em modelos de simulação. No entanto, esta aprovação aplica-se exclusivamente ao projeto-piloto, e qualquer utilização mais ampla exigirá novas avaliações e autorizações regulamentares.

Riscos para a saúde associados ao radão

O radão é um gás incolor e inodoro que representa um risco significativo para a saúde quando em níveis elevados. É a segunda maior causa de cancro do pulmão nos EUA, responsável por cerca de 21.000 mortes anuais, segundo o Centro para a Diversidade Biológica.

A exposição prolongada, especialmente nas proximidades de estradas construídas com fosfogesso, pode levantar sérias preocupações para a saúde pública. Por isso, o uso de fosfogesso em construção tem sido historicamente proibido, com exceções apenas para fins agrícolas ou de investigação sob controlo rigoroso.

Os críticos afirmam que a aprovação da EPA prioriza os interesses da indústria em detrimento da segurança pública. A Florida já enfrentou problemas com fosfogesso no passado. Em 2021, uma rutura num antigo local de mineração de fosfatos libertou 815 milhões de litros de água tóxica na baía de Tampa, causando uma crise ambiental e de saúde pública.

Ambientalistas alertam para as implicações a longo prazo do uso de materiais radioativos na infraestrutura, incluindo a exposição ao radão por trabalhadores e comunidades próximas, além do risco de contaminação das fontes de água.

Potencial económico do fosfogesso nas estradas

Os defensores do uso do fosfogesso destacam o seu potencial económico. Jackie Barron, representante da Mosaic, mencionou as vantagens de custo em relação a materiais tradicionais como o calcário.

Se houver uma alternativa para utilizar este material e evitar o aumento desnecessário destas pilhas, por que não explorar essa possibilidade?

Disse Barron numa entrevista à NPR em 2023.

Incerteza regulamentar e política no uso de resíduos radioativos

Embora a Florida tenha aprovado legislação para expandir a lista de materiais permitidos na construção rodoviária, o Departamento de Transportes do estado ainda precisa avaliar a adequação do fosfogesso antes de uma adoção mais ampla.

A questão já foi alvo de decisões políticas divergentes. A administração Trump permitiu o uso de fosfogesso em estradas, mas a administração Biden reverteu esta decisão. O futuro do material sob administrações futuras permanece incerto.

O projeto-piloto da Mosaic pode abrir caminho para uma reciclagem inovadora, mas sublinha a necessidade de uma avaliação rigorosa dos riscos. O debate sobre o fosfogesso reflete um desafio mais amplo: equilibrar os benefícios económicos com as preocupações ambientais e de saúde pública.

A experiência da Florida poderá tornar-se um caso de estudo importante para o resto do mundo. Seja um avanço ou um erro, o resultado terá implicações duradouras para a construção rodoviária e a gestão de resíduos radioativos.

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