A sua robustez tornou-o quase lendário. O jipe UMM é, talvez, a maior glória da indústria automóvel portuguesa, sendo atualmente um clássico com muitos adeptos. Esteve no Dakar e em teatros de guerra. Mas não resistiu à invasão estrangeira.
União Metalo-Mecânica… o jipe português!
São um marco na indústria automóvel portuguesa e ainda hoje é comum vê-los a rolar estrada fora, confirmando a robustez que sempre foi seu apanágio.
Falamos desse absoluto clássico que são os jipes UMM (sigla da União Metalo-Mecânica), produzidos em Portugal desde o final dos anos 1970 e que se tornaram famosos pela sua versatilidade e durabilidade, conquistando adeptos, tanto no uso civil, quanto militar.
A história da UMM começa em 1977, quando a União Metalo-Mecânica, uma empresa portuguesa especializada na construção de equipamentos agrícolas, decide diversificar as suas operações e entrar no mercado automóvel.
O modelo base que inspirou os jipes UMM era o Cournil, um jipe francês desenhado pelo engenheiro Bernard Cournil, originalmente destinado a trabalhos agrícolas e industriais.
Com a aquisição dos direitos de produção da Cournil por parte da UMM, iniciou-se o desenvolvimento do jipe português. Os primeiros modelos adotaram o nome do seu criador, ficando deste modo com a designação UMM 4×4 Cournil disponíveis em três versões, o Tracteur, o Randonneur e o Entrepreneur.
Em 1979, surge um jipe marcante na história da marca. Foi o UMM 4×4 Alter, um veículo que se destacou pelo seu design simples e robusto, características que se mantiveram ao longo dos anos e o tornaram num dos mais respeitados jipes todo-o-terreno da sua época.
Expansão e aplicações
Os UMM rapidamente ganharam popularidade entre diversas instituições públicas e privadas em Portugal. Foram amplamente utilizados pelas forças armadas portuguesas, serviços de emergência e corporações de bombeiros, dada a sua capacidade de enfrentar os terrenos mais difíceis.
Para além disso, os UMM foram exportados para vários países, nomeadamente para França, Angola e Espanha, onde eram igualmente apreciados pela sua fiabilidade.
Nos anos 1980 e 1990, a marca chegou ao auge da sua produção, com a introdução de novas variantes como o UMM Alter II, uma versão modernizada e mais potente.
Apesar de nunca ter atingido uma produção em massa ao nível de grandes marcas internacionais, a UMM conquistou uma legião de entusiastas graças à durabilidade dos seus veículos e à facilidade de manutenção.
O declínio da UMM
Com o passar do tempo, e com o aumento da concorrência no mercado automóvel, especialmente de grandes marcas internacionais, a UMM começou a enfrentar dificuldades financeiras.
A empresa lutou para modernizar os seus modelos e acompanhar as exigências do mercado. Em 2004, a produção foi oficialmente suspensa, encerrando assim uma era da história automóvel portuguesa.
Apesar do fim da produção, os jipes UMM continuaram a ser uma presença forte em competições todo-o-terreno e em encontros de entusiastas. Muitos dos veículos ainda estão em circulação, especialmente em zonas rurais e em missões de resgate ou de manutenção de infraestruturas, atestando a sua durabilidade.
O mundo UMM
- O UMM no Rally Dakar: uma das maiores façanhas da UMM foi a sua participação no Rally Dakar, uma das provas de resistência mais exigentes do mundo. Os UMM não só conseguiram terminar a corrida em várias edições, como em 1982 o piloto português José Megre conquistou o melhor resultado da marca, alcançando o 6.º lugar geral. Este feito ajudou a consolidar a reputação dos UMM como veículos de alta resistência.
- Utilização militar: o UMM foi durante muitos anos o veículo oficial do exército português, sendo utilizado em diversas missões dentro e fora do país. A sua capacidade de enfrentar terrenos difíceis e o baixo custo de manutenção fizeram dele uma escolha natural para as forças armadas.
- Fábricas em Portugal: os UMM foram inteiramente produzidos em Portugal, nas fábricas da empresa em Azambuja e Setúbal, gerando centenas de empregos e ajudando a desenvolver a indústria automóvel do país. As fábricas produziam não só os veículos, mas também várias peças, fortalecendo a cadeia de valor local.
- Máquina de guerra: em 1991 é produzido um UMM Alter II equipado com mísseis Milan e SS-11. Era um protótipo, claro. O Chile esteve quase a comprá-lo. Os exércitos holandês e belga também se interessaram.
- GNR vai à concorrência: em 1993, num concurso para a aquisição de algumas centenas de novos jipes, a GNR opta, em detrimento do UMM Alter II, pelo Nissan Patrol… fabricado em Espanha.
O legado dos UMM
Embora a produção dos UMM tenha cessado há duas décadas, o seu legado perdura. A sua simplicidade mecânica, aliada a uma resistência fora do comum, faz com que muitos dos veículos ainda sejam utilizados.
Atualmente, o UMM continua a ter um grupo de seguidores leais, com clubes e associações dedicadas à preservação e restauro dos jipes. É que os jipes UMM foram mais do que simples veículos: tornaram-se um símbolo de inovação e resistência e um orgulho para a indústria automóvel portuguesa.