O ano de 2024 foi marcante para a Steam. A plataforma atingiu um recorde, recebendo quase 19.000 novos jogos ao longo do ano. No entanto, a realidade por detrás destes números é menos animadora: cerca de 80% destes jogos permaneceram praticamente sem jogadores e com vendas muito reduzidas.
Culpa da própria Steam, ou dos desenvolvedores?
Esta situação tem raízes num fenómeno que começou há alguns anos, quando a Steam permitiu que os jogos na sua loja incluíssem incentivos colecionáveis para os jogadores, como cromos, conquistas e insígnias. Estes elementos criaram uma espécie de “gamificação” dentro da própria plataforma, o que incentivava os utilizadores a explorarem múltiplos títulos para acumular estas recompensas.
No entanto, a iniciativa trouxe efeitos colaterais indesejados. Muitos programadores começaram a lançar títulos extremamente simples e baratos, desenhados quase exclusivamente para facilitar a obtenção de conquistas e insígnias. Estes jogos, muitas vezes apelidados de “jogos de spam”, eram comprados mais pelo valor das recompensas do que pela experiência de jogo propriamente dita.
Perante esta avalanche de conteúdos de baixa qualidade, a Valve introduziu uma medida de controlo: todos os novos jogos publicados na loja passam a ser classificados como “limitados”. Estes jogos não têm acesso imediato a funcionalidades como conquistas ou recompensas colecionáveis. Para saírem deste estado, os jogos precisam de cumprir determinados critérios de vendas e engagement por parte dos jogadores.
Embora os requisitos exatos não tenham sido divulgados pela Valve, sabe-se que são rigorosos. Segundo um artigo de Bill Young, diretor do departamento de jogos da Twitch, a percentagem de títulos classificados como “limitados” tem vindo a aumentar drasticamente. Em 2018, 33% dos jogos na Steam encontravam-se nesta categoria. Em 2024, o número subiu para uns impressionantes 79%.
Excesso de oferta…
De acordo com dados do SteamDB, dos 18.992 jogos lançados em 2024, 14.951 permaneceram na categoria “limitado”. Isto significa que a grande maioria destes títulos não conseguiu alcançar os critérios necessários para ganhar maior visibilidade na loja. Este cenário reflete não apenas as elevadas exigências da Steam, mas também um problema estrutural da indústria: a criação de um número excessivo de jogos.
A verdade é que os jogadores estão a enfrentar um volume esmagador de lançamentos diários – cerca de 50 a 60 jogos por dia chegam à Steam. Adicionalmente, muitos destes títulos são desnecessariamente extensos, recheados de conteúdo repetitivo e supérfluo, o que torna a experiência de jogar e explorar novas propostas ainda mais desafiante.
A Steam pode ser criticada pela sua política rigorosa, mas o problema vai além das restrições impostas pela plataforma. A sobreprodução de jogos está a criar um leque saturado, onde mesmo títulos de qualidade enfrentam dificuldades em alcançar o público-alvo.
No final, a questão não está apenas na exigência da Steam, mas sim na impossibilidade de um mercado absorver tudo o que é produzido.
Se esta tendência continuar, é provável que os desenvolvedores tenham de repensar as suas estratégias, focando-se mais na qualidade do que na quantidade. Para os jogadores, por outro lado, o desafio será encontrar o que realmente vale a pena num mar de opções aparentemente infinito.
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