Tal como as festas populares desse Portugal fora que tanto gostamos , regressando ano após ano, eis o regresso do melhor e mais completo jogo de estratégia e gestão futebolística, Football Manager.
No ano passado, a edição de 2015 teve o condão de mostrar que a série se encontra mais madura que um dióspiro no Outono. E tal não será de estranhar pois após mais de 20 anos de experiência (contanto com os antigos Championship Manager) pouco mais há por desvendar no capitulo de simulação de como se gere e treina uma equipa de futebol.
Mas será que é mesmo assim?
O Pplware já experimentou Football Manager 2016 para tirar teimas.
Sou jogador da série desde os velhinhos tempos de CMIta, CMEsp, CMIng ou CMPor na longínqua década de 90, na qual os jogos ainda eram instalados a partir de diskettes 3.5 HD (lembram-se das diskettes?) e portanto é com um sabor nostálgico mas também critico que inicio cada nova edição de Football Manager. E também recoso, convém dizer …
Football Manager já percorreu um longo caminho e é impressionante a quantidade de features que foram sendo sucessivamente incluídas ou melhoradas no jogo. E esta é precisamente a palavra-chave para qualquer análise de Football Manager, a inovação.
Ta como nas versões anteriores de Football Manager (e generalidade dos jogos sazonais) a distinção entre um jogo novo e uma mera actualização pode se tornar muito reduzida e como tal existe a premente necessidade de se conseguir sistematicamente uma evolução efectiva e positiva do que o jogo tem para oferecer.
Mas será que é esta edição de 2016 aquela que vai atingir o ponto critico?
Antes de vermos a resposta a essa questão, vamos ver algumas das novidades que o jogo traz consigo …
Apesar de algumas serem meramente cosméticas, tais como os menus e algumas das novas opções, ou mesmo o ecrã de tácticas da equipa, outras são mais profundas e principalmente, mais efectivas no decorrer do jogo.
Falando nos modos de jogo, uma das novidades foi a inclusão dum Modo de Create-a-Club que permite a partir de agora a jogadores de todo o Mundo criarem as suas equipas e planteis a seu bel-prazer ao mesmo tempo que tentam assim vingar num mundo online extremamente competitivo. Trata-se duma opção que apesar de ser potencialmente interessante, pessoalmente não me cativa mas, vai de encontro aquilo que a comunidade gamer vem a pedir há muito tempo. Acaba por ter um funcionamento semelhante ao do Editor que acompanha o jogo.
Por outro lado, foi acrescentado o modo Fantasy Draft permitindo a criação duma competição online com a nossa equipa de sonho (ou não?!?!) e que funciona um pouco como a edição da NFL, NBA onde existem drafts de jogadores. Existem ainda opções de parametrização da competição que implicam o resultado desse mesmo draft, tais como o orçamento inicial ou o tempo disponível para a escolha dos jogadores.
Deixei para o ultimo o novo Modo Football Manager Touch. Trata-se Modo Clássico da edição anterior mas com um novo nome e mais que isso … com a possibilidade de ser multi-plataforma. A ideia é … uma versão light de Football Manager 2016 mais orientada para jogadores com menos paciência/tempo e que tanto possa ser jogada em PC como em dispositivos mobile.
A ideia, que inicialmente me pareceu ser algo castradora acaba por ser interessante tratando-se de uma jogada importante e inteligente da Sports Interactive no sentido de que assim consegue agradar a esses mesmos jogadores com menor disponibilidade para a complexidade do jogo completo, e permitindo-lhes em simultâneo, continuar os seus jogos em praticamente qualquer lado.
Bem mas vamos para onde interessa: balneário/relvado.
Este ano a Sports Interactive acrescentou algumas novas opções tácticas que acabam por se revelar interessantes e com impacto no próprio comportamento da equipa e jogadores.
Talvez a mais importante corresponda à gestão dos lances de bola parada. Para todos aqueles que se queixavam de ter poucas opções no que toca a cantos e livres, a Sports Interactive criou um Set-Piece Creator, ou seja, um editor de lances de bola parada que, apesar de ainda ter algumas limitações, nomeadamente do tipo de de abordagem que cada jogador pode ter no decorrer do lance, acaba por ser uma mais valia e aumentando assim o leque de opções tácticas para cada jogo.
Uma das minhas principais preocupações antes de cada jogo é a de ter a certeza que cada titular tem pelo menos, 85% de capacidade física actual. Em FM 2016 foi incluída uma feature na qual os treinadores adjuntos estão mais atentos a esse pormenor alertando antes dos jogos sobre jogadores em baixa de forma física. Pena apenas que não possa parametrizar com exactidão qual o valor mínimo.
Uma coisa que gostei foi a de me ter apercebido que as alterações tácticas que fazemos no decorrer do jogo serem reflectidas no próprio jogo. Se optarmos a partir de determinada altura por um jogo mais de posse de bola e contenção, consegue-se efectivamente verificar que os jogadores tendem a jogar para manter a posse do esférico (chegam a trazer a bola até ao meio campo defensivo e tudo).
Uma das inovações incluídas no próprio jogo foi a inclusão de Manager on the Touchline. Na prática temos o nosso avatar (personalizado no momento da criação do nosso perfil) visível no jogo, na zona do banco e que vai interagindo com os jogadores de acordo com as nossas instruções. Ok, é giro e tal ver o nosso eu virtual a gerir a equipa a partir do banco mas … é algo inócuo também.
No entanto, será de realçar a melhoria substancial que a Sports Interactive fez ao desenrolar do próprio jogo. As movimentações dos jogadores estão mais fluídas e inteligentes, o desenrolar do jogo está menos artificial e até as próprias tácticas dadas parecem estar melhor representadas e melhor interpretadas pelos jogadores. Assistir a um jogo em Football Manager 2016 está bastante mais polido que na edição do ano passado. Mas atenção … ainda falta bastante até ser uma representação realista de um jogo verdadeiro.
Umas das coisas que, não sei se acontece só comigo mas que permanece nesta edição e que é chata é que parece que a partir de determinada altura do campeonato e, independentemente de mantermos a mesma equipa, a mesma estrutura técnica e mesmas tácticas, a equipa tem uma quebra brutal de forma contra todas as probabilidades e começa a perder jogos infantilmente e inesperadamente. Algo no algoritmo não foi mudado e continua com este comportamento estranho, ou pelo menos, que eu considero estranho.
Os ecrãs de tácticas da equipa e instruções dadas aos jogadores foram revistos e de certa forma tornaram-se um pouco mais claros. Trata-se acima de tudo de uma alteração estética mas cujo resultado acaba por ser melhor pois permite uma leitura mais simples das instruções a dar.
Também durante o jogo o nosso adjunto nos vai dando informações úteis e que se as tivermos em conta podemos conseguir algumas surpresas agradáveis.
Após o jogo é quando as coisas se tornam bem mais interessantes. Além da nova opção, Multi Match Highlights que permite aceder ao que de mais importante aconteceu na jornada em questão da nossa Divisão (estatísticas, visualizar melhores lances doutros jogos, …) foi incluído um novo sistema de estatísticas, intitulado Pro Zone Match Analysis. Pro Zone Match Analysis representa uma forma bastante robusta e completa de mostrar todas as estatísticas, quer da equipa, quer individual daquilo que se passou durante um jogo. Pessoalmente gosto de números e estatísticas pelo que apreciei bastante esta nova forma de apresentar esses dados.
Gosto de poder ver individualmente a zona por onde determinado jogador andou mais, em que situações ele errou mais cortes ou passes ou por exemplo onde foram feitas as faltas. É precisamente este tipo de análise (individual ou colectiva) que o Pro Zone permite, o que acho extremamente interessante e imersivo na nossa análise dos jogadores e suas performances.
Uma das promessas para esta edição de 2016 foi a dum sistema de conferências de imprensa mais dinâmico e mais humano. Apesar de ter notado que determinados órgãos de comunicação social reagirem às nossas afirmações anteriores de forma diferente e trazendo-as a lume mais tarde, não reparei em outras grandes mudanças neste capitulo, além se tornarem por vezes, demasiado longas.
Os jogadores por outro lado começaram em FM 2016 a ser mais pedinchões e exigentes com constantes preocupações sobre pouca utilização, castigos impostos, vendas de colegas, compras de outros jogadores para a mesma posição. Não se pode dizer que se trate de uma inovação mas é mais visível agora e … mais chato também.
Aliás, toda a questão das interacções com os jogadores no que toca ao tom a ser utilizado (agressivo, assertivo, calmo, …) ainda não me convenceu. Apesar de terem efeitos imediatos acaba por não se reflectir ao longo do tempo na nossa relação com os jogadores. Por exemplo, numa ocasião podemos falar agressivamente e noutra calmamente que não há qualquer tipo de ressentimento anterior. Acho que é algo que pode ser melhor explorado ainda.
Há ainda algumas velhas questões de volta. Creio que a principal corresponde às contratações e negociações de contratos que continuam a ser um pouco rígidas.
Por fim, acredito que há ainda alguns pontos que podem vir a ser aprofundados nas próximas edições. Por exemplo, a exploração do merchandising de forma mais minuciosa, continua a ser descurada. Ou mesmo a exploração dos terrenos periféricos aos estádios (lojas, centros comerciais, parques de estacionamento, …). E mesmo a gestão do espaço interior dos grandes estádios, como por exemplo, as lojas, bares, restaurantes, museus, que os grandes estádios possuem.
Há certamente ainda muito mais features que foram acrescentadas ou melhoradas (imagens aéreas dos estádios, público, resumo das novidades mensais, …) e que não tive oportunidade de referir mas que no seu conjunto fazem de Football Manager 2016 um jogo a ter … no PC ou no tablet.
Veredicto
No ano passado tive a oportunidade de referir que Football Manager estava a chegar a passos largos aquele momento em que a linha que separa um jogo novo duma actualização se torna muito fina. Mas … será que já a cruzamos?
À luz das novidades e melhorias que Football Manager 2016 traz, acredito que não. Football Manager continua com a edição de 2016 a ser, de longe, o melhor e mais completo jogo de simulação da vida de um Clube de Futebol, com toda a complexidade, variedade de decisões e pormenores inerentes ao cargo dum manager.
O aparecimento de Football Manager Touch a apontar para as plataformas mobile e permitindo assim uma jogabilidade cross-platform agradará certamente a todos aqueles jogadores mais casuais ou mais superficiais que podem passar a levar o seu jogo para qualquer lado.
Football Manager 2016 continua a ser o Rei! Mas atenção … o grau de exigência dos jogadores, em particular dos mais antigos seguidores da série mantém urgente a necessidade de mais e melhores inovações!