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Plataformas de trading: estaremos perante uma dinâmica de crescimento imparável?

De acordo com o portal especializado Trading Platforms, a generalidade das maiores plataformas de trading registou um crescimento assinalável ao longo do ano de 2020. O movimento reflete várias tendências, mas antes de mais representa a crescente democratização e popularização do ato de investir nos mercados financeiros.

Poderá estar a desenvolver-se uma dinâmica semelhante àquela que se viveu em Portugal nos anos 80, com o chamado “capitalismo popular”, mas desta vez de forma mais sustentável e permanente, por causa da tecnologia.


A Trading Platforms começa por destacar a eToro, uma das plataformas mais presentes em termos de publicidade online. A eToro ganhou 5 milhões de utilizadores só em 2020, registando um crescimento de cerca de 38% em relação ao ano anterior.

A Robinhood, cuja notoriedade cresceu imenso durante o recente episódio GameStop, também observou um crescimento de 30% no ano passado. Outras empresas menos conhecidas ou de menor valor também cresceram fortemente em 2020, nalguns casos com um crescimento percentual bem maior que os grandes nomes já estabelecidos. A Capital.com, por exemplo, cresceu 236% e tem agora 1,3 milhões de clientes.

A mais pequena Freetrade ainda não tem um milhão de utilizadores, mas cresceu 361% no espaço de um ano. E outras empresas, mesmo crescendo menos, acompanham esta tendência geral, como a Interactive Brokers que cresceu 57% e conseguiu agora ultrapassar a marca de 1 milhão de clientes.

Os motivos explicam estas subidas

Razões conjunturais e estruturais ajudam a explicar o crescimento quase exponencial das plataformas de trading. A Trading Platforms UK ajuda a explicar o que aconteceu no ano anterior.

Criptomoedas

As criptomoedas têm vindo a fazer o seu caminho desde há mais de uma década. Não é por acaso que a eToro, num dos seus anúncios e com o ator Alec Baldwin como protagonista, “censurava” os seus potenciais clientes por “não terem tido tempo” para investir em Bitcoin ou em Ethereum.

A Bitcoin, especialmente depois da grande valorização de 2017-18, demonstrou com a posterior correção que se trata de um ativo sólido, ainda que algo volátil, mas que de forma segura não é puramente especulativo como os críticos apontavam na primeira metade da década passada.

Operar trading em criptomoedas é muito mais fácil através de apps de trading e a grande consciencialização em torno deste tipo de investimento é agora muito alargada.

Procura por trading sem comissões

As instituições financeiras tradicionais cobram, por norma, valores de comissão elevados por operações de trading. O Novo Banco, por exemplo, pode chegar a cobrar cerca de 30 euros por operações de compra de ações cotadas nas bolsas norte-americanas. Já o Banco BEST pode chegar aos 15 euros por operações semelhantes.

As novas aplicações, além de geralmente não cobrarem este tipo de comissões, podem também ter ofertas mais abrangentes; por exemplo, no momento atual ainda não é possível investir na American Lithium Minerals Inc. através das plataformas portuguesas de bancos, ao contrário do que sucede com as apps internacionais.

Tempo livre e procura de rendimentos extra

Ao longo de 2020, milhões de pessoas viram-se com mais tempo livre ou menos oportunidades de lazer, ficando mais despertas para novas oportunidades e aprendizagens.

A crise económica mundial, verificando-se com maior ou menor intensidade, contribuiu igualmente para levar muitos a pensar em fontes de rendimento alternativas e/ou adicionais.

A possibilidade de ganhar dinheiro nos mercados de ações esteve “sempre lá”, ainda que alguns a vissem como algo esotérico ou ao alcance dos mais inteligentes ou afortunados.

O trabalho das plataformas eletrónicas não se limitou a facilitar o acesso e as operações de trading, em si; veio criar também uma certa desmistificação do próprio ato de investir em bolsa ou noutro tipo de ativos.

Estes fatores, juntando os conjunturais aos estruturais, contribuíram provavelmente com a “parte de leão” no crescimento maciço das plataformas online de trading.

WallStreetBets: que impacto?

Desengane-se quem pensa que o episódio das restrições colocadas pela Robinhood aos utilizadores do WallStreetBets, o subgrupo do Reddit, na recente “frenzy” à volta das ações da Gamestop possa vir a criar problemas às app de trading.

Ainda segundo a Trading Platforms, a Robinhood registou um número recorde de 3 milhões de downloads só no mês de janeiro de 2021.

De resto, se há algo que o “Gamestonk” (para usar a expressão do já famoso ‘tweet’ de Elon Musk) veio mostrar é que é possível fazer dinheiro nos mercados financeiros. Mesmo que não se pretenda “embarcar” em movimentos de “combate” ao short-selling e passando apenas por abordagens mais convencionais.

A digitalização dos mercados financeiros

O investigador Alvin Toffler (1928-2016) alertou, na sua obra A Terceira Vaga (1980), que a disseminação do computador e dos “computadores ligados em rede” traria não só inovações previsíveis, como o teletrabalho, como outras imprevisíveis, mas sempre apontando numa direção: o relativo “empoderamento” do utilizador individual, munido de ferramentas que não existiam na era industrial.

Quarenta anos depois, a Internet e os verdadeiros microcomputadores que são os nossos smartphones trazem esta revolução aos mercados financeiros. É altamente improvável que este movimento de digitalização, acompanhado do investimento direto, fácil e frequente nas bolsas e nos mercados por parte de milhões de pessoas (mesmo em pequenas quantias), se venha a inverter.

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