Este é o primeiro ano repleto de eleições cruciais no qual a Inteligência Artificial (IA) marca presença, de forma evidente. Se já tínhamos sido avisados da possibilidade de a tecnologia ser usada para fins reprováveis, eis que uma chamada automática com a voz de Joe Biden surge para mostrar que o problema é, de facto, real.
Em dezembro, vimos que as imagens que já conhecemos como deepfakes são, para os especialistas, particularmente preocupantes. Segundo Martina Larkin, executiva-chefe do Project Liberty, uma organização sem fins lucrativos que procura promover a segurança na Internet, os políticos estão “no topo da pirâmide”, quando se trata de desinformação impulsionada pela IA.
Também a Google partilhou, na mesma altura, que iria limitar as questões eleitorais a que o Bard, o seu chatbot, e a pesquisa baseada em IA poderiam responder.
O gabinete do procurador-geral do estado de New Hampshire, nos Estados Unidos da América (EUA), está a investigar uma chamada automática que os eleitores receberam, no domingo, antes das primárias de ontem (das quais resultou a vitória de Donald Trump) no estado.
Esta não é a primeira vez que a tecnologia de IA é usada para imitar um político e não será a última.
Disse Arshin Adib-Moghaddam, professor de Pensamento Global e Filosofias Comparadas na SOAS, University of London, à Sky News.
Segundo informações, a chamada automática terá sido feita pela voz de Joe Biden gerada por IA, servindo para desencorajar os cidadãos de exercerem o seu direito de voto.
Após uma frase típica do atual Presidente dos EUA, “What a bunch of malarkey”, a chamada prosseguiu com:
É importante que guardem o vosso voto para as eleições de novembro.
Votar nesta terça-feira apenas permite aos republicanos eleger Donald Trump novamente. O seu voto faz a diferença em novembro, não nesta terça-feira.
A Casa Branca confirmou que Joe Biden não gravou a chamada e disse que ela sublinha os desafios que as tecnologias emergentes apresentam, especialmente antes das eleições presidenciais de novembro.
O Presidente deixou claro que existem riscos associados aos deepfakes. Imagens falsas e desinformação podem ser exacerbadas pelas tecnologias emergentes.
Esclareceu a secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre.
Apesar de Biden não estar em campanha em New Hampshire e o seu nome não aparecer nas eleições primárias – uma vez que escolheu a Carolina do Sul como a primeira primária oficial do partido – os seus aliados têm feito campanha em seu nome.
O procurador-geral de New Hampshire, John Formella, disse que a mensagem gravada parece ser uma tentativa ilegal de suprimir as eleições, acrescentando que os eleitores “deveriam desconsiderar totalmente o conteúdo desta mensagem”.