As operadoras em todo o mundo estão a apontar o ano de 2017 para desligar as suas redes GSM. Há razões para essa decisão e 3 operadoras em Singapura já anunciaram os seus planos para reutilizar o seu espectro GSM para outros serviços.
Ao desligarem o GSM as operadoras irão libertar mais largura de banda de rede para serem aproveitadas para redes mais rápidas com melhores tecnologias, como o 3G e 4G… mas isso também poderá levar a que um nicho de utilizadores fique sem rede!
No mundo, a convergência parece certa. Nesta segunda-feira as operadoras em Singapura, a M1, Singtel e StarHub definiram mesmo um calendário para desligar as suas redes, num país que, aí sim, o impacto é muito maior. Mas esta decisão não é virgem, segue-se a outras tomadas já por operadoras como a Telstra, na Austrália, que afirmou ter planos para o fazer até ao final de 2016 ou a norte-americana AT&T que vai desligar o interruptor no dia 01 de Janeiro de 2017.
Esta decisão, para a grande maioria dos utilizadores não terá qualquer impacto e passará mesmo despercebida. Actualmente, a maioria dos clientes dos serviços móveis já se ligam apenas às redes 3G e 4G, há um pequeníssima percentagem de assinantes GSM ainda usa somente rede de dados por esta via, isto num mercado como o de Singapura, porque a Telstra fez o anúncio no ano passado, onde referiu que o GSM representava menos de 1% do tráfego total.
Terá impacto em Portugal?
Em Portugal, ainda haverá algum impacto, embora muito pouco, isto não será pelos terminais mas sim por locais onde o 3G (e muito menos o 4G) ainda não penetrou, por questões técnicas, infraestruturas antigas em que somente via GPRS é que as pessoas têm dados.
Quais são as razões para desligar esta rede?
Claramente as razões são financeiras. Sim, as questões técnicas também fazem ao caso, porque desligar esta rede permite reutilizar o espectro livre para redes mais eficientes 3G e 4G, que permitem usar a mesma largura de banda para transportar mais dados ou atender mais clientes, portanto, gerar mais receita. Claro que tendo menos uma rede para gerir são menos custos a pesar na receita.
Ligações máquina-a-máquina (M2M) em risco
Este ritmo acelerado de substituição telefones que vemos hoje significa que a maioria dos telefones em uso estão prontos para esta alteração, pois suportam, sem qualquer problema, somente dados via 3G ou 4G, mas esse não é o caso de muitos dispositivos conectados. Há outros serviços que usam terminais que recorrem à rede de dados Wireless GSM.
Por causa do seu baixo custo e boa cobertura, o GSM é uma opção popular para as chamadas ligações máquina-a-máquina utilizadas para ligar os veículos, alarmes, máquinas de venda automática e uma série de outros dispositivos ligados. Havia cerca de 160 milhões delas até o final do ano passado, de acordo com a Machina Research. Uma nova geração de chipsets está já a preparar o terreno para que possam ser colocados modems LTE baratos, substituindo tais aplicações, mas a maioria dos dispositivos M2M que existem hoje dependem do GSM, como referiu o CEO Matt Hatton da empresa Machina Research à PCWorld.
Claramente que estas actualizações no hardware irão trazer mais valias, como defende a operadora AT&T. As mais altas velocidades oferecidas pelas redes 3G e 4G permitem às empresas oferecer melhores aplicações M2M. Por exemplo, câmaras de vídeo para câmaras de streaming e usar os sistemas GPS de frotas para rastreios dos carros em tempo real, que em muitos países ainda usam redes GSM para esta função. O que em Portugal só mesmo por dificuldades técnicas de cobertura e não no que toca a equipamentos. Pelo menos o nosso mercado nestas áreas é desde há bastantes anos rico nestas ofertas e já com tecnologias de ponta, acompanhando a evolução das próprias redes.
É uma decisão sem consenso mundial?
Embora haja um consenso quando à necessidade desta mudança, não há, contudo, uma atitude assim tão agressiva face ao timing. Há operadores com o seu próprio ritmo para traçar os planos para desactivar esta tecnologia. Em geral, os operadores europeus estão a ser mais cauteloso. Para o operador da rede francesa Orange, não haverá grande switch off, de acordo com Yves Bellego, director da área técnica e estratégica de rede do operador francês. Outra operadora, a norueguesa Telenor, tem planos para desactivar a sua rede 3G em 2020, e sua rede GSM em 2025, como anunciou recentemente.
Há algumas reticências também por questões de lucro. Se para uns há lucro em desligar, para outros, tendo em conta o suporte que oferecem e o lucro que daí advém, desligar pode significar um impacto enorme em serviços M2M existentes. Os operadores europeus ainda têm negócios de roaming lucrativos e, mesmo em questões de regulamentos que estejam acordados, por essas razões as cautelas são maiores… aqui na Europa, o desligar nos próximos anos será algo ainda a ponderar, isto de acordo com as palavras de Matt Hatton.