Uma americana de 64 anos carregou pela primeira vez no botão da “cápsula da morte”. O problema é que a Suíça não aprova que se morra desta forma. O debate sobre o suicídio assistido reacende-se após o primeiro caso mundial de utilização do dispositivo controverso, o Sarco.
Há já alguns anos que existe um dispositivo controverso ao alcance de uma pesquisa na Internet. Estamos a falar do The Sarco, esta máquina ou cápsula que tenta apoiar o suicídio assistido. Uma “espécie” de sarcófago do futuro que, por razões óbvias, não é permitido em muitos sítios.
Agora tornou-se num quebra-cabeças jurídico e moral. E na Suíça acaba de abrir um novo capítulo após a morte da primeira pessoa no dispositivo. Aconteceu numa floresta do país, onde o suicídio assistido é legal… mas afinal parece que não é bem assim!
O crime da “cápsula suicida”
A esta hora, sabe-se que a polícia suíça abriu um inquérito criminal e deteve várias pessoas na sequência da morte de uma mulher americana de 64 anos numa chamada “cápsula suicida”. O caso ocorreu na passada segunda-feira, numa floresta perto da fronteira alemã, na cidade suíça de Merishausen. Trata-se do primeiro caso num dos poucos países onde o suicídio assistido é legal, embora sob certas condições.
O Ministério Público confirmou também que abriu uma investigação sobre o alegado incitamento e cumplicidade no suicídio e está também a investigar se foram cometidos outros crimes. Entretanto, a ministra do Interior da Suíça, Élisabeth Baume-Schneider, questionou o estatuto moral e legal do Sarco.
..an idyllic peaceful death in a Swiss forest where The Last Resort @tlrswiss used the Sarco device to help a US woman have the death she wanted..Lees dit artikel op de Volkskrant https://t.co/6DbKfmzYnC
— Philip Nitschke (@philipnitschke) September 24, 2024
Tal como referimos, Sarco é uma cápsula impressa em 3D, lançada em 2018, que liberta gás nitrogénio com o clique de um botão. O dispositivo é uma criação de um grupo que se intitula The Last Resort, que afirma ser constituído por “um pequeno coletivo internacional de defensores dos direitos humanos (com formação em direito, ciência, medicina e cuidados de saúde)”.
O grupo afirma que a sua missão é “diversificar (e melhorar) o processo de morte assistida na Suíça”. Como é que funciona? A cápsula foi concebida para adormecer o seu ocupante numa questão de segundos através de gás nitroso. O gás reduz rapidamente os níveis de oxigénio na cápsula até que a pessoa morra. O processo demora cerca de cinco minutos.
O homem que criou a cápsula é Philip Nitschke, um médico australiano popularmente conhecido como “o guru da eutanásia”. Foi o primeiro a praticar a eutanásia nos Países Baixos após a sua legalização em 2001 e um forte defensor do “direito a morrer” com vários livros publicados. Há alguns anos, anunciou The Sarco para promover “tirar a vida de forma segura e não violenta”.
A primeira a carregar no botão do fim
Foi mesmo Nitschke que confirmou o primeiro caso de suicídio com o Sarco. Segundo ele, a mulher teve “uma morte idílica e pacífica numa floresta suíça” e que a cápsula foi utilizada para lhe dar “a morte que ela queria”. O homem terá assistido à morte da mulher através de uma ligação de vídeo na Alemanha e seguiu as leituras de um monitor de oxigénio e de frequência cardíaca ligado a ela.
Um cientista alemão, Florian Willet, terá sido a única pessoa presente no momento da morte da americana. Ele é um dos principais membros do The Last Resort. Blick explicou que a morte da mulher foi “pacífica, rápida e digna”. Ela sofria há muitos anos de uma série de graves problemas de saúde relacionados com uma doença autoimune”.