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Tragédia de Santiago – Acidente de comboio que não deveria ter acontecido

Um terrível e trágico acidente marcou ontem (24/07) a história ferroviária espanhola. Considerado já como o pior acidente dos últimos 50 anos no país, o acidente com o comboio de alta velocidade, aconteceu numa curva apertada que faz parte da linha ferroviária que passa em Santiago de Compostela. Pelas imagens que as câmaras de segurança mostraram, não deixa margem para dúvida que se tratou de excesso de velocidade (num local onde apenas o limite era de 80 Km/h, o comboio seguia a 190 Km/h), mas ainda estará por apurar se este excesso de velocidade se deveu a erro humano ou erro mecânico/tecnológico, ou a alguma situação anómala técnica que ultrapassa a capacidade humana de controlo da composição. Até ao momento foram já contabilizados cerca de 78 mortos e mais de 150 feridos, muitos deles com gravidade.

Segundo a RENFE (Red Nacional de Ferrocarriles Españoles) – empresa responsável pela circulação ferroviária no país vizinho,“o controlo da velocidade está garantido é de uma tecnologia avançadíssima que quase não necessita da intervenção do maquinista”.

Na verdade, estes equipamentos estão equipados com um sistema tecnológico que se chama ASFA TBS (Anúncio de Sinais e Travagem Automática). Então o que poderá ter falhado?

A RENFE adotou o sistema ASFA nos anos 70 e desde então estendeu este sistema aos seus comboios que cruzam o país. Segundo a nossa investigação, a RENFE contratou a Invensys Rail que instalou o sistema ASFA TBS (Anúncio de Sinais e Frenagem Automática) em mais de 1.000 veículos do parque da Renfe, em comboios e locomotivas.

A instalação deste avançado Automatic Train Protection (ATP) visa aumentar a confiança e segurança no tráfego ferroviário.

Isto não poderia ter acontecido:

 

ASFA TBS o que é?

O sistema ASFA (Anúncio de Sinais e Frenagem Automática), é um sistema de Proteção Automática de Comboios (ATP), e anúncio de sinais na cabine desenvolvido pela DIMETRONIC SIGNALS para ajudar a condução de comboios, antecipando na cabine toda a sinalização presente na linha, evitando assim situações de perigo devidas a má visibilidade, confusões, excesso de velocidade e inclusivamente erros humanos.

Ao ser detetado um excesso de velocidade o ASFA TBS para o comboio accionando o travão de emergência

A última versão do sistema ASFA é o ASFA TBS. O ASFA TBS informa antecipadamente ao condutor o conhecimento do aspeto de sinais espetáveis no seu percurso assim como outras circunstâncias de relevo para a circulação. Na frente de cada sinal no sentido de marcha do movimento do comboio existem duas balizas: uma junto do sinal e outra no mesmo plano horizontal a trezentos metros da mesma (baliza avançada).

O ASFA TBS é um ATP pontual, no sentido em que recebe a informação de sinalização junto da localização das balizas, actuando sobre o comboio caso este não reaja na medida do que seja requerido pele indicação da baliza. O ASFA TBS é um sistema de supervisão contínua de velocidade.

Durante todo o percurso do comboio étem monitorizada a sua velocidade de modo a que não seja ultrapassada a velocidade limite permitida em cada situação em que ele se encontre. No caso de ser detetado um excesso de velocidade o ASFA TBS para o comboio aplicando o freio de emergência.

O sistema ASFA, nas suas diferentes evoluções, constitui o ATP standard adotado pelas administrações espanholas ADIF (Administração de Infra-estruturas Ferroviárias), FGC (Ferrocailes de la Generalitat de Cataluña) e FEVE (Ferrocarriles Españoles de via Estrecha). O sistema ASFA foi instalado em mais de 3000 veículos e protege mais de 13.000 km de via.

É de destacar que o ASFA TBS não se aplica só nas linhas convencionais, mas também pode atuar com total garantia em linhas de alta velocidade, como o demonstra o facto de estar em funcionamento nas linhas AVE, Madrid – Sevilha, Madrid – Barcelona e Madrid – Córdoba – Málaga.

Nas linhas de alta velocidade de Espanha, os comboios equipados com o sistema ERTMS estão equipados com a função ASFA como sistema alternativo. Está claro que comboios não equipados com ERTMS podem usar esta vias com a velocidade especificada pelo sistema ASFA TBS.

Nesta altura e depois de percebermos que tanto a via em que circulava a composição como o comboio como todos os sistemas de segurança existentes em todos estes componentes que conjugam o meio de transporte (via, comboios, tecnologia de segurança e meios de comunicação com a cabine) questionámo-nos o que terá falhado, teria ainda esta via um sistema analógico sem controlo de velocidade? Será então erro humano? Que outros erros poderão estar em causa?

Circulam, contudo, informações que referem estar a decorre um inquérito para apurar as causas deste acidente ferroviário, onde se explica que o sistema de segurança na curva em causa é diferente do resto da linha. Quatro quilómetros antes de Santiago de Compostela o sistema passa para manual, provavelmente estando a partir daí no total controlo do maquinista.

São tudo questões que uma investigação detalhada por parte das autoridades espanholas responderá… mas que não trarão de volta a vida de quem depositava a confiança nesta tecnologia que afinal… poderá ter falhado!

Na sua perspetiva, considera que a tecnologia poderá ter tido a sua parte de culpa neste acidente?

Referências:

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