Nunca a energia solar esteve tão barata e nunca houve tanta vontade do mundo em geral produzir a sua própria energia. Depois de termos explicado que já é possível produzir a sua própria energia elétrica, de termos abordado os sistemas fotovoltaicos de autoconsumo, as suas vantagens e desvantagens e a forma como podem reduzir a sua fatura de energia e melhorar a eficiência da sua habitação, hoje vamos analisar alguns cuidados que devem ser tidos em conta quando estiver a estudar a possibilidade de investir num sistema do género para a sua habitação/empresa.
Estes cuidados devem ser considerados, pois podem fazer a diferença entre ser ou não um bom investimento.
Dimensionamento do sistema
O primeiro passo – e talvez o mais importante – será determinar qual o potencial de poupança no seu caso, ou seja, qual o número de painéis que deve instalar. Uma vez que a venda da energia excedente produzida por este tipo de sistemas não é tão vantajosa como o autoconsumo dessa mesma energia (≈0,06€/kWh vs. ≈0,23€/kWh), o objetivo deverá ser sempre reduzir o máximo possível de consumo no seu edifício durante as horas de sol com o mínimo possível de excedente.
Para determinar o seu consumo nestes períodos e por conseguinte o número de painéis indicados para cada caso, é necessária uma monitorização, que poderá ser feita de várias formas. A mais simples passa por instalar um monitor de energia na sua instalação elétrica que registará todo o seu consumo elétrico durante os diferentes períodos do dia e nos diferentes dias. Com esses dados detalhados será então possível determinar o tipo de sistema mais indicado. Esta forma de monitorização exige investimento, no entanto existem equipamentos cada vez mais acessíveis para estes fins.
Outra forma viável e sem qualquer investimento inicial, contudo passível de erro, passa por retirar os valores registados no seu contador geral de energia duas vezes por dia, uma logo pela manhã, e outra ao final do dia/pôr do sol. Após a recolha dos valores durante alguns dias será possível também determinar com uma boa aproximação o tipo de sistema que deve instalar na habitação/empresa.
Escolha dos diferentes materiais:
Painéis fotovoltaicos
Os painéis fotovoltaicos existentes no mercado podem ser divididos em painéis policristalinos e painéis monocristalinos. Como o nome indica, os painéis policristalinos têm células constituídas por vários cristais, enquanto os monocristalinos são constituídos apenas por um cristal.
Como os cristais de maiores dimensões são mais eficientes, as células monocristalinas são também mais eficientes que as policristalinas, ou seja, conseguem produzir mais energia com a mesma área disponível. É, por isso, normal ver painéis monocristalinos com maior potência/capacidade de produção que os policristalinos, tendo, no entanto, um custo de produção mais elevado e sendo por isso mais caros.
As células monocristalinas têm um melhor comportamento com radiação difusa, bem como a temperaturas elevadas (têm um coeficiente de temperatura mais baixo), tratando-se de fatores importantes que devem ser tidos em consideração aquando da escolha dos painéis.
Outro fator em consideração é a classe dos painéis. Tal como outros equipamentos, existem diferentes classes de qualidade dos painéis, designadamente A B e C. Os painéis que não os de classe A apresentam defeitos de fabrico (maiores ou menores, também com maior ou menor influência no rendimento do equipamento) que fazem reduzir significativamente o seu preço. Na hora da aquisição dos painéis tenha em atenção esse fator e não compre um equipamento de classe B ou C, pensando que se trata de um equipamento de classe A, (algo que infelizmente acontece em algumas ocasiões). No caso de lhe ser apresentada informação pouco clara, o consumidor pode consultar os dados que habitualmente estão disponíveis na “chapa característica” presente na parte traseira de todos os painéis fotovoltaicos.
Tenha também em atenção a potência dos diferentes painéis e de que forma se adequam aos inversores/microinversores escolhidos.
Inversores
Em relação aos inversores podem ser considerados dois tipos, microinversoes e inversores centrais.
Os microinversores, tal como o nome indica, são inversores de menores dimensões e que por norma estão associados a apenas um ou dois painéis fotovoltaicos. As suas principais vantagens são a maior eficiência (otimizam a produção para cada painel e uma sombra/impureza num painel não afeta os restantes), a capacidade de produção com menores valores de radiação (ao nascer e pôr do sol), a sua modularidade (podendo adicionar inversores/painéis ao longo do tempo de acordo com as suas necessidades) e garantia mais elevada por terem menor desgaste.
Os inversores centrais por outro lado suportam um número “finito” de painéis, sendo por isso “fechados” e são também menos eficientes e sujeitos a maior desgaste. No entanto são também mais baratos que os microinversores, especialmente em instalações de grandes dimensões.
Outro dado que, apesar de parecer irrelevante, também tem a sua importância prende-se com o consumo em stand-by dos inversores. Durante a noite, os inversores ficam em stand-by a aguardar pelo nascer do sol para começarem a produzir novamente, ou seja, durante uma grande quantidade de horas por dia. Tenha em atenção esse fator e procure inversores com o menor consumo possível.
Sistema de suporte/fixação dos painéis
Tão importante como a escolha dos painéis e inversores é a escolha da estrutura de fixação/suporte dos mesmos.
Os painéis fotovoltaicos são por norma aplicados nas coberturas, ficando por isso sujeitos a condições atmosféricas. Essas estruturas são extremamente importantes, uma vez que irão orientar o seu sistema para o local que retire maior aproveitamento possível, bem como garantir a segurança dos seus equipamentos. Opte por estruturas resistentes (materiais que aguentem bem o tempo, como por exemplo o alumínio) e robustos, com os ângulos adequados.
Tenha também atenção à fixação dessas mesmas estruturas, pois podem comprometer de forma grave a estanquicidade da sua cobertura. Procure que a sua instalação seja sempre feita por técnicos qualificados que usem os melhores equipamentos e métodos (nunca permita a furação de telhas/lajes de cobertura para a fixação do sistema) e que possam ser responsabilizados por qualquer defeito no processo de instalação do sistema.
Desconfie também de qualquer empresa que apenas lhe venda os equipamentos e não lhe ofereça o serviço completo, ou seja, com a respetiva instalação, uma vez que poderá ser muito importante nos casos em que tenha algum problema com os seus equipamentos e necessite de acionar as respetivas garantias e pedir as consequentes responsabilidades.
Acompanhamento produção/rentabilidade e respetiva poupança
Tão importante como escolher os melhores equipamentos e garantir o melhor serviço de instalação possível, é acompanhar o funcionamento do seu sistema e os seus possíveis problemas e falhas.
Tenha especial atenção às produções registadas e à redução de consumo que a sua habitação irá registar. Não deixe o sistema ao esquecimento pois só o consumidor poderá identificar eventuais problemas com o sistema e se ele está a produzir corretamente.
Para o auxiliar existem também equipamentos que lhe permitem monitorizar/registar os seus consumos e produções para possa acompanhar estes dados com o maior rigor e cuidado possíveis. Se tiver alguma dúvida ou desconfiar de algum dos valores apresentados questione sempre a empresa que lhe forneceu a solução e tente perceber o que se pode estar a passar com o seu sistema.
Mudança de hábitos de consumo
A redução significativa dos seus consumos e a rentabilização do sistema fotovoltaico passa também por uma alteração dos hábitos de consumo.
Uma vez que a produção destes sistemas acontece durante as horas de sol, pode colocar algumas das cargas de consumo da casa durante esses períodos (sistemas aquecimento/arrefecimento, máquinas, sistemas de rega, bombas de água/piscina, etc) e aproveitar dessa forma a energia gratuita produzida pelos sistemas fotovoltaicos.
É importante, no entanto, conhecer a fundo os consumos dos diferentes equipamentos bem como as horas de utilização, para conseguir dessa forma tirar o maior partido possível do sistema.