O 25 de Abril, para quem o viveu conscientemente, foi o concretizar de uma esperança. A esperança num futuro melhor, numa sociedade de mais liberdade, de melhores condições de vida, de mais abundância para todos.
Como dizia a canção do Sérgio Godinho, o que se esperava alcançar com a revolução era a Paz, o Pão, a Habitação, a Saúde e a Educação.
A liberdade e o 25 de Abril
Nestas cinco palavras estavam contidas as principais aspirações de milhões de portuguesas e portugueses. Aspirações que lhes frustravam a vida e consumiam o dia a dia, mesmo que a maioria nem se desse conta, de tão “catequizada” que estava. A “catequese” política, religiosa e social, indicativa de uma cultura geral intencionalmente acanhada e, por aí, absolutamente submissa. Ora, a ação vem do pensamento e a reação vem do sentimento…
Então, o 25 de Abril surgiu de um desejo muito restrito de ação, a que se seguiu uma reação alargada da sociedade portuguesa de então. Diria até que nem foi um movimento há muito sentido e desejado pela maioria dos que viriam depois a alinhar e a participar nele! (Antes, sim, houve alguns golpes falhados que tinham a intenção de derrubar o regime).
A Revolução aconteceu “a reboque” dos interesses sociais e financeiros de um pequeno grupo de oficiais militares. Apetece-me dizer que ela acabou por acontecer…
Estou convencido de que as aspirações de Abril, a vontade de se arriscar e levar em frente uma revolução, agitavam sobretudo as mentes comunistas ou de extrema esquerda e alguns socialistas talvez. O resto, enfim… era giro apoiar… e apoiaram… até que, um dia, decidiram “meter o socialismo na gaveta”…
Liberto do jugo ditatorial, a país entra na Europa e, forçado pelos dinheiros e normas que dessa entrada, recolheu, consegue criar melhorias substanciais ao nível de equipamentos, da criação de empresas, do crescimento económico que conduziram a uma melhoria do nível de vida da maioria da população, do desenvolvimento da educação e dos serviços de saúde. Duvido que a mentalidade popular tenha mudado assim tanto…
O valor da liberdade, hoje, em guerra pandémica
Hoje, eis-nos chegados a uma verdadeira guerra. Uma guerra que nos põe perante um espelho e nos mostra o que verdadeiramente somos como país, como povo. Como irá Portugal enfrentar esta guerra? Como ficaremos no final? Como iremos reagir às suas enormes e catastróficas consequências?
Sabemos que, depois do 25 de Abril, a Liberdade foi bem mal aproveitada e em favor das elites.
Como será depois de ficarmos libertos desta guerra que nos aprisiona, aterroriza e mata? Será que vai acontecer a mesma coisa? Iremos de novo permitir, sem reação, que uns poucos se aproveitem da libertação vírica para voltarem a apropriar-se dos meios que aí vêm e que deveriam reverter sobretudo para auxiliar os mais desfavorecidos, os mais atingidos?
É esta a dúvida maior que me assalta nesta altura, dúvida que, curiosa e diferentemente de há 46 anos, se estende a toda a Europa/Mundo! A resposta a esta dúvida, logo se verá…
Prof. José Machado, abril de 2020, para o Pplware