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Manuela Veloso: Potencialidades e ameaças da IA

As potencialidades e ameaças da Inteligência Artificial (IA) são bastante controversas. Para darmos uma ideia mais apurada do que realmente é a IA, entrevistamos uma das maiores referências mundiais nesta área, a professora Manuela Veloso que desenvolveu várias gerações de robôs autónomos, ao longo de mais de duas décadas, entre os quais os CoBot – robôs com capacidade de aprender e interagir com os seres humanos e de explicar as suas experiências na nossa linguagem.


A Professora Manuela Veloso é líder do departamento de Machine Learning na Carnegie Mellon University, em Pittsburgh, nos EUA, distinguida com vários prémios académicos, já publicou mais de 250 artigos científicos e é a mulher que inventou os “cobots”. Foi presidente da Associação para o Avanço da Inteligência Artificial (AAAI) e fundadora do laboratório de investigação Coral. É também uma das responsáveis pelo RoboCup, um campeonato anual de futebol de robôs, que teve a primeira edição em 1997, no Japão.

No próximo dia 17 de outubro estará presente na Conferência Business Transformation Summit 2017. Saiba mais aqui.

Entrevista a Manuela Veloso

Quais os desafios atuais da Inteligência Artificial?

A Inteligência artificial atualmente tem desafios ligados ao processamento de dados. Todas as nossas atividades acumulam e traduzem-se em cada vez mais dados e em dados de toda a espécie – sejam eles vídeos, imagens, dados alusivos ao clima, etc. – e existe uma quantidade de dados que estão disponíveis e computadorizados, o que permite que a IA seja bastante viável no tratamento e processamento dessa informação, permitindo dessa forma a beneficiar a sociedade.

Elon Musk considerou recentemente que a IA é mais perigosa que a Coreia do Norte. Partilha da opinião do CEO da Tesla?

Não, não partilho dessa opinião porque partilho do meu otimismo em relação às pessoas. Esse perigo é grande porque a tecnologia pode ser bastante potente, mas o uso dessa mesma tecnologia só depende das mentes humanas. Há pessoas que poderão fazer mau uso da tecnologia, mas com o uso de outro tipo de tecnologia para a humanidade, o uso pode ser igualmente dramático. A minha esperança é que os humanos que utilizam essa tecnologia façam bom uso dela.

Em que áreas poderá a IA ajudar o ser humano?

Tudo o que tem a ver com o aspeto diário é ilimitado. Podemos mencionar áreas como a saúde, o clima, a energia – áreas relacionadas com a vida nas cidades, a agricultura, o espaço – a investigação de ambientes que são inacessíveis aos humanos – como o espaço. A IA são técnicas de processamento de investigação, esta capacidade e diferentes maneiras de processar textos, imagens, vídeos e toda esta informação que se encontra alojada nos computadores. Todo o espectro de problemáticas que a sociedade enfrenta, permitindo cobrir toda a gama de áreas que a sociedade tem de fazer. Estamos longe de ter sucesso e de estar perto do que a IA pode ajudar.

Quais os perigos da IA?

Os perigos é o mau uso da IA. A Inteligência artificial são algoritmos que correm no computador para determinar ações que otimizam qualquer objetivo. O uso de um carro, por exemplo, um carro pode igualmente ser potencialmente perigoso. Uma pessoa conduzir um carro e estar embriagada, o carro em si não tem perigo, pode é levar a perigos. O motor ao fazer a combustão com a gasolina pode representar um perigo, mas não é isso que é o perigo em si. O mesmo acontece com a IA, que pode ser utilizada para fazer coisas extraordinárias, como por exemplo os robots que eu tenho aqui na universidade, que podem movimentar-se, fazer uso de informação e imagens…

O mau uso da tecnologia… As pessoas deviam tentar perceber mais o que é a IA e não tanto o uso da IA. O problema de combinar informação que está escrita em textos, imagens, som, mergulhar num espetro de técnicas que permitam sonhar com coisas que antes, no passado, não era possível. Imagine o que seria um médico ter acesso a informação de uma determinada patologia e ter acesso a casos clínicos do mundo inteiro, a cruzar essa informação de uma forma abrangente, de forma disponível, permitindo sonhar que se vai descobrir um caso difícil de saúde de uma pessoa – por exemplo na recôndita Austrália – onde há um caso semelhante, que por acaso está digitalizado num computador e ao qual se tem acesso. É como o ditado “descobrir uma agulha num palheiro”, esta oportunidade. Por isso, não são tantos os perigos da IA mas mais as oportunidades que a mesma nos proporciona.

Quais os projetos mais relevantes nesta área?

Tem a ver com o processamento de informação, onde existem dois tipos – toda a informação que está dentro dos computadores – como imagens, texto, vídeos – e a informação sobre o espaço físico – como as imagens novas do espaço físico e o espaço digital – e isto são projetos muito interessantes.

Há 10 anos que as pessoas ainda estão muito focadas na informação que está dentro dos computadores e depois há a robótica do espaço físico – nas nossas cidades e nos projetos das mesmas. E depois há uma outra dimensão, projetos de estar na presença de tomadas de decisões. O meu robot quando vai ver as paredes de um edifício vai necessitar de fazer determinadas ações e tomar decisões – como vou virar, para a direita ou para a esquerda, ou será que vou para a frente – e todo o processamento para toda a decisão. Numa dimensão há o espaço físico e o digital. Numa grande dimensão é a interação desta IA com os humanos. As pessoas querem ter uma boa interação com a IA e os humanos e isso provoca outros desafios e projetos no mundo da ciência do ponto de vista dos humanos ensinarem os robots e os robots pedirem ajuda aos humanos para o fazer – este é um tema que falarei no BTS – no sentido de os humanos fazerem uso da IA para o nosso dia-a-dia. Quando interagimos com a IA, queremos ter mais aplicações e máquinas mais transparentes, sendo por isso fundamental a relação entre os humanos e a IA. O digital e o físico e a parte da relação com os humanos e a transparência, são quatro campos fundamentais.

Manuela Veloso – Human AI Interaction

Saber mais sobre a Conferência Business Transformation Summit 2017 aqui.


O Pplware agradece à Professora Manuela Veloso a disponibilidade para esta entrevista sobre um tema que é tão pertinente.

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