O teletrabalho resulta em muita controvérsia e há uma consequência que ainda não abordamos por aqui: a modalidade está a moer o mercado imobiliário.
Em 2020, o teletrabalho parecia idílico para funcionários e empresas, tendo estas aproveitado e usado a modalidade como bandeira e como farol, para atrair mais e melhor força de trabalho. Com o tempo, a questão foi adotando outras formas – pelo menos para as empresas, que deixaram de ver o teletrabalho como uma vantagem.
Por um lado, os funcionários querem que a modalidade permaneça, permitindo que trabalhem a partir de casa, com todas as vantagens que daí resultam. Por outro, as empresas, que não acreditam em trabalhadores produtivos, estando em casa.
Curiosamente, por cada estudo que corrobora a perspetiva dos gestores, existe outro a confirmar a vontade dos funcionários. De facto, a produtividade é uma métrica difícil de medir, e os estudos tendem a favorecer um dos lados da moeda, baseando-se em opiniões e crenças.
Há um mercado a sucumbir devido ao teletrabalho: o imobiliário
Atualmente, entre 12% e 25% dos escritórios nos Estados Unidos da América estão vazios. Esta realidade não foi conhecida nem mesmo nos piores momentos da crise de 2008.
Penso que se, por magia, tivéssemos cada vez mais pessoas a voltar aos escritórios, assistiríamos a um aumento da produtividade.
A questão da produtividade foi levantada, há uns meses, por Larry Fink, CEO da BlackRock, uma empresa de investimentos e um dos principais investidores em imóveis de escritórios. A par de outras do mesmo ramo, esta tem mais de 1,2 mil milhões de dólares investidos em escritórios – espaços que estão, atualmente, vazios.
Durante a pandemia, as taxas de juro negativas motivaram os fundos de investimento a dedicaram-se à compra de edifícios de escritórios. O objetivo passava por rentabilizar o investimento, quando as empresas voltassem à normalidade.
No entanto, segundo alguns meios de comunicação social, a adoção do teletrabalho despistou as empresas, que veem os seus investimentos em perigo. Se estes não conseguirem fazer face aos pagamentos relativos à compra dos escritórios, os bancos terão de executar a hipoteca e ficarão com milhares de escritórios vazios.
Segundo um relatório do McKinsey Global Institute, que analisa o impacto do trabalho híbrido e remoto no setor imobiliário, estima-se que, em nove grandes centros empresariais (Pequim, Houston, Londres, Nova Iorque, Paris, Munique, São Francisco, Xangai e Tóquio), o trabalho remoto “está pronto para eliminar até 800 mil milhões de dólares do valor dos escritórios até 2030 (-26% do seu valor atual)”.
De ressalvar que está é uma projeção moderada. Pelas previsões, São Francisco e Silicon Valley serão os mais afetados.
Se os trabalhadores não voltarem aos escritórios, isso poderá ter um impacto significativo nas empresas das grandes cidades.
De acordo com relatório de analistas do Morgan Stanley, o mercado imobiliário comercial deverá cair, acentuadamente, nos próximos anos.