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Escândalo Cambridge Analytica: Facebook perde 35 mil milhões

Rebentou mais um escândalo para o lado da maior rede social do mundo. A empresa de Mark Zuckerberg viu o seu valor encolher na bolsa de valores de tecnologia dos Estados Unidos. O Facebook perdeu cerca de 35 mil milhões de dólares entre a manhã e o anoitecer desta segunda-feira.

No foco do escândalo está a Cambridge Analytica, uma empresa de análise de dados que trabalhou com a equipa responsável pela campanha de Donald Trump nas eleições de 2016, nos Estados Unidos. Na Europa, a empresa foi contratada pelo grupo que promovia o Brexit (a saída do Reino Unido da União Europeia).


Presidenciais americanas, Brexit e Facebook… uma ligação tóxica

A empresa em causa é propriedade do multimilionário do mercado financeiro Robert Mercer e era presidida, à época, por Steve Bannon, então principal assessor de Trump.

As informações foram recolhidas por uma aplicação que se chama thisisyourdigitallife (esta é a sua vida digital, em português), que pagou a centenas de milhares de utilizadores pequenas quantias para que eles fizessem um teste de personalidade e concordassem em ter os seus dados recolhidos para uso académico – a app foi desenvolvida por Aleksandr Kogan, um investigador da Universidade de Cambridge, no Reino Unido (a universidade não tem ligações com a Cambridge Analytica).

Além da óbvia questão de que muitos utilizadores não leem os longos termos e condições e mal sabem que estão a entregar as suas informações, o grande problema foi que o software também recolheu as informações dos amigos de Facebook das pessoas que fizeram o teste, sem autorização.

À época, a política do Facebook permitia a terceiros a recolha de dados de amigos, mas apenas para melhorar a experiência do próprio utilizador na aplicação. Era proibido que os dados fossem vendidos ou usados para publicidade.

De acordo com a imprensa americana, 270 mil pessoas fizeram o inquérito – mas os termos de utilização, que costumam ser ignorados pela maioria, permitiam que os programadores tivessem acesso também aos dados dos seus amigos.

Isso teria feito o número de pessoas com dados recolhidos saltar para a casa dos 50 milhões. As informações obtidas por meio do teste de personalidade foram vendidas à Cambridge Analytica, segundo contou o ex-funcionário da empresa Christopher Wylie, que é um investigador canadiano na área de ciência da computação, aos jornais The New York Times e The Guardian.

 

Segundo as publicações, os dados obtidos pela empresa incluem detalhes da identidade de utilizadores do Facebook, publicações, gostos e rede de amigos.

Ao recolher os dados das pessoas e categorizar o seu perfil, isso permite-lhe segmentar a população, para direcionar mensagens sobre questões que interessam (a cada grupo), usando linguagem e imagens que as possam gerar “engagement” (compromisso). “Fazemos isso na Ásia, nos Estados Unidos…”, explicou Alex Tyler, gestor de dados da Cambridge Analytica, a um repórter do Channel 4, emissora britânica, que se fez passar por um potencial cliente.

 

O Facebook demorou para agir?

Entre as provas do acesso irregular aos perfis apresentadas por Christopher Wylie, ex-funcionário da Cambridge Analytica, está uma carta de advogados do Facebook enviada ao próprio  em agosto de 2016, solicitando para que destruísse os dados recolhidos por meio do teste de personalidade criado pelo académico Aleksandr Kogan.

A carta foi enviada alguns meses depois de uma reportagem do The Guardian apontar possíveis irregularidades no acesso a perfis de utilizadores da rede social e dias antes da Cambridge Analytica passar a atuar na campanha de Trump.

Porque os dados foram obtidos e usados sem permissão e porque a GSR (empresa criada por Kogan para obter os perfis de quem fez o inquérito) não estava autorizada a partilhar ou vender-lhe o material, ele não pode ser usado legitimamente no futuro e deve ser apagado imediatamente”

Refere a carta do Facebook.

Segundo Wylie, o Facebook não foi atrás para se assegurar que as informações foram efetivamente apagadas.

O que mais me impressionou foi isso. Eles esperaram dois anos e não fizeram absolutamente nada para verificar se os dados foram apagados. Eles só me pediram para preencher com x uma pergunta e postar de volta o documento.

Contou o ex-funcionário da Cambridge Analytica.

 

O que diz o Facebook sobre isto?

O Facebook diz que havia sido informado de que os dados dos utilizadores seriam usados para fins académicos. Conforme a rede social, Kogan obteve acesso aos dados dos utilizadores de forma legítima, mas depois quebrou as regras ao partilhar esses dados a terceiros.

O Facebook também afirmou que apagou a aplicação com o teste de personalidade em 2015 e pediu para que as informações dos utilizadores fossem removidas. Mas a carta a Wylie solicitando a eliminação dos dados só chegou na segunda metade de 2016.

Já a Cambridge Analytica nega que tenha usado os dados e afirma que apagou todas as informações assim que soube que estas haviam sido colhidas irregularmente.

Já o The New York Times afirma, contudo, que, com base em entrevistas com ex-funcionários da empresa, em emails e documentos, a Cambridge Analytica não apenas usou os dados do Facebook para fazer marketing político, mas ainda mantém a maioria dessas informações.

Desde que o escândalo veio a praça pública, o co-fundador do Facebook Mark Zuckerberg perdeu, sozinho, quase 5 mil milhões de dólares.

 

Em que pé estão as investigações?

A senadora americana Amy Klobuchar chegou a fazer pressão para que Mark Zuckerberg vá ao Senado para dar explicações. No Reino Unido, o deputado conservador Damian Collins disse que também pretende chamar Zuckerberg ou outro alto executivo para depor.

Parlamentares americanos querem mais informações do diretor-executivo da Cambridge Analytica, Alexander Nix, sobre a atuação da empresa na campanha de Donald Trump. O promotor que investiga o possível envolvimento da Rússia na eleição presidencial já pediu acesso aos emails dos funcionários da empresa de consultoria que trabalharam para a equipa do atual presidente.

No Reino Unido, onde a Cambridge Analytica foi contratada pela campanha “pró-Brexit”, autoridades dizem que pedirão à Justiça um mandado de busca e apreensão nos escritórios da empresa em Londres.

 

Novo escândalo

Além do escândalo que envolve o uso irregular de dados de utilizadores do Facebook, a Cambridge Analytica viu-se envolvida esta semana numa nova polémica. O diretor-executivo da empresa, Alexander Nix, foi filmado pelo Channel 4 News, canal de TV britânico, sugerindo táticas questionáveis para desacreditar candidatos em campanhas.

Um repórter que se apresentou como potencial cliente da Cambridge Analytica reuniu-se com Nix e gravou as informações. O jornalista disse que trabalhava para um cliente rico que desejava eleger um candidato no Sri Lanka.

Na filmagem, o executivo é questionado sobre que tipo de “investigação aprofundada” poderia ser feita contra adversários políticos. “Ah, nós fazemos bem mais do que isso”, respondeu Nix.

Ele, então, sugere que uma forma de atingir um indivíduo é “oferecer um presente que é bom demais para ser verdade e filmar isso”. Nix ainda acrescentou que poderia “enviar algumas mulheres para a casa do candidato”. Ele comentou que “as meninas ucranianas são muito bonitas e que funcionariam bem”.

“Só lhe estou a dar exemplos do que pode ser feito e do que já foi feito antes”, concluiu o executivo, nas imagens gravadas pela TV britânica. A Cambridge Analytica defendeu-se dizendo que a reportagem “interpretou errado” a conversa registada pelas câmeras.

Nix diz que se meteu na conversa apenas para poupar o “cliente de constrangimentos”. “Nós apresentamos uma série de cenários hipotéticos absurdos”, afirmou.

“A Cambridge Analytica não compactua ou participa de armadilhas ou pagamentos de subornos”, completou.

Via

 

Em resumo…

Estamos perante (mais) um caso escandaloso de usurpação de dados que os utilizadores, de forma espontânea, deixam nas redes sociais e que a falta de ética, de escrúpulos de quem gere esses serviços, abusa para fins não lícitos. São atos de terrorismo moderno que, como vimos, poderão estar por trás de decisões políticas graves, como a eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos e mesmo a decisão do Reino Unido em abandonar a União Europeia.

Este é hoje o arsenal de armamento que destrói tanto ou mais que mísseis ou bombas outrora as figuras da guerra no mundo.

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