…a proteção da nossa vida privada!
Hoje em dia para ter êxito na rede é necessário cuidar da visibilidade com uma página de Internet digna, estar bem referenciado pelos motores de busca, entre outras coisas, mas também, e sobretudo, ter clientes. Para tal, nada melhor do que uma base de dados bem elaborada.
Assim que se visita a página de uma entidade online, seja uma administração, um prestador de serviços, um comerciante online ou ainda um motor de busca, esta pode recolher imediatamente – na maior parte das vezes sem nosso conhecimento – o máximo de dados nossos, o endereço IP do terminal a partir do qual estamos ligados, o endereço postal, até o local onde nos encontramos quando a geolocalização é ativada. Todas estas informações pessoais que são recolhidas podem por vezes ser revendidas posteriormente a empresas terceiras que enviam publicidade direcionada de forma a captar a nossa atenção quando andamos a navegar.
Negligenciamos a proteção dos nossos dados pessoais por desejo de facilidade.
Com o predomínio da rede e a forte adesão às tecnologias móveis, é cada vez mais clara a nossa dependência relativamente às redes sociais e todas as ferramentas online que permitem a partilha constante de todos os momentos da nossa vida, principalmente, porque tudo isto é gratuito. No entanto, sem que disso tenhamos consciência, a cada “like”, comentário, partilha ou recomendação, estamos a deixar gravada na rede informação sobre toda a nossa vida, que os gigantes da rede conseguem obter através de ferramentas de recolha de dados muito eficazes e que estão a ser constantemente atualizadas e melhoradas.
Por exemplo, a aplicação móvel Angry Birds, um simples jogo divertido com um êxito fenomenal desde o momento em que foi lançado, é uma das muitas aplicações que transmitem sistematicamente o identificador único do aparelho às agências de publicidade e algumas chegam mesmo a aceder aos contactos da agenda sem autorização do seu proprietário.
Os dados pessoais são uma verdadeira mina de ouro para aqueles que os exploram, mas cuidado com os deslizes
Inscrever-se na lista de distribuição de uma newsletter, comprar bilhetes de avião, preencher um formulário administrativo, partilhar fotos através das redes sociais, utilizar o GPS integrado no Smartphone, ver um vídeo, jogar online e em rede, são tudo oportunidades para adquirir múltiplas tipologias de dados pessoais, cuja utilização poderá ser multiplicada infinitas vezes através das campanhas de e-marketing direcionadas, comportamentais e mais ou menos invasivas. O internauta terá então pela frente barras intermitentes ou deslizantes, links comerciais puxados pelo motor de busca, spams na caixa de correio eletrónico.
O dinamismo deste mercado também se serve da evolução das tecnologias e, em breve, certas informações serão recolhidas diretamente a partir do nosso corpo. Uma marca de equipamentos desportivos de renome mundial apresentou recentemente uma pulseira de medição de atividade física que permite arquivar os resultados obtidos para poder depois armazená-los nos servidores da empresa e utilizá-los mais tarde para oferecer conselhos em matéria de entretenimento desportivo ao seu utilizador.
As marcas tornam-se a elas mesmas os apóstolos dos meios de comunicação social e muitas delas criaram aplicações associadas que permitem difundir informações em direto no Twitter ou no Facebook.
A escolha do público-alvo baseada em aspetos comportamentais recorre também à técnica do redireccionamento publicitário que permite direcionar numa rede os visitantes de uma página que não tenham feito compras para os voltar a lançar. No seio de uma rede de controlo, é tecnicamente possível chegar a todos os internautas que já clicaram num banner deste ou daquele sector de atividade.
Infelizmente, o tráfego destes dados é tão importante que a sua falta de proteção atrai a cobiça de uma outra categoria de coletores de dados, um certo tipo de hackers. Foi possível constatar a amplitude dos estragos por diversas vezes, lembremo-nos da pirataria dos servidores da Sony e dos dados de milhões de jogadores de PlayStation.
O destino dos nossos dados pessoais está nas nossas mãos, se nos esforçarmos!
Os grandes nomes que fazem a rede dos nossos dias são na essência máquinas financeiras que têm como objectivo rentabilizar ao máximo a sua atividade e criar valor. Apesar dos avisos permanentes, a grande maioria dos internautas não tem qualquer consciência da utilização que é feita dos seus dados pessoais.
Desde já, podemos apesar de tudo agarrar-nos a certas medidas de base para criar o máximo de segurança para os nossos dados pessoais:
- Devemos desconfiar da facilidade! Mais vale preferir uma solução neutra e autogerida, como a Open Source, do que um gigante ultra comercializado para gerir as nossas informações. Se faz parte da blogosfera, utiliza certamente o Google Analytics para medir o desempenho do seu projeto. Ao nível pessoal a sua pesquisa pode também passar por ferramentas open source tão válidas como o Piwik, por exemplo. Este software de análise da rede em tempo real que se pode descarregar, em open source, fornece relatórios pormenorizados dos visitantes da sua página de Internet: motor de busca e palavras-chave utilizados, idiomas, páginas mais populares…Basta descarregar e instalar no seu servidor, uma operação que não demora mais do que cinco minutos.
- Devemos minimizar os riscos de utilização dos nossos dados, alojando-os de forma privada através de uma assinatura. Isso implica uma despesa, é certo, mas nunca ascenderá ao montante que certas entidades poderão obter com a sua exploração.
- Devemos ser vigilantes quanto à natureza dos dados que colocamos na rede, para evitar que um dia possam ser-nos prejudiciais. Não esqueçamos que publicar no Facebook fotografias das nossas férias nas pistas de neve para fazer ciúmes aos nossos colegas equivale mais ou menos a avisar o mundo inteiro de que o nosso apartamento se encontra portanto vazio nesse momento, um chamariz para os ladrões desocupados!
- Por fim, não hesitemos em aprofundar a nossa cultura informática para poder implementar todas estas medidas. É inegável, estamos ligados à tecnologia e não podemos prescindir dela para adquirir um mínimo de controlo sobre o nosso percurso online.
Embora esta problemática se encontre no centro das preocupações das grandes instâncias legislativas a nível mundial, ainda há um longo caminho a percorrer. Viviane Reding, a Comissária Europeia para a Justiça e Direitos Fundamentais, apresentou no dia 25 de Janeiro a este propósito uma proposta para reforçar a proteção dos dados pessoais online que não era atualizada desde 1995. Sublinha nomeadamente a criação de um «direito ao esquecimento», que permitirá limitar a circulação das informações de carácter privado sob pena de sanções financeiras.
Um primeiro passo, espero eu, rumo a uma harmonização deste mercado para (voltar a) dar confiança aos internautas, sensibilizando-os ao mesmo tempo para a importância dos seus dados pessoais.