A Apple tem estado a forçar os programadores das aplicações que estão dentro da App Store a corrigir algumas falhas no sistema de compras integradas. Depois do caso da Epic, que quis contornar as regras, e por isso foi colocada fora da loja da Apple e da Google, agora aparece um caso com a aplicação WordPress para iOS. Depois de algumas semanas sem atualizações, o seu responsável veio partilhar em público a estranheza das exigências da empresa de Cupertino.
Segundo os pedido da Apple, a app WordPress tem de colocar as compras dentro da App devidamente assinaladas e apagar as comissões devidas. Mas que compras, se o serviço é gratuito?
App WordPress com compras integradas dos planos wordpress.com
A Apple supostamente bloqueou as atualizações da aplicação WordPress para iOS até a empresa implementar compras integradas para planos pagos wordpress.com. Contudo, num tweet feito ontem, o responsável do WP, Mat Mullenweg, disse que a falta de atualizações da app nas semanas anteriores foi devido ao processo estar “bloqueado” na App Store.
New name: The app has always done a ton of work to support WordPresses hosted anywhere, using the XML-RPC API included in core WP since WP 2.6 was released in 2008. That’s why we called it “WordPress” and not “https://t.co/lj1vCfp4UL” or “Jetpack.”
— Matt Mullenweg (@photomatt) August 21, 2020
O caso tem contornos que inicialmente parecem estranhos. Então o WordPress não vende nada e a Apple está a pedir que estes incluam o modulo de compras integradas? Será um erro da Apple?
O fundador do WordPress até partilhou no Twitter a sua admiração com as exigências da Apple, dado que a app WordPress tem os mesmos contornos desde que nasceu. Além disso, Mat detalhou o problema e até pediu feedback à sua comunidade no Twitter.
Pese o facto da atitude de Mat Mullenweg parecer genuína, há algumas informações que não foram referidas. Inicialmente o responsável referiu que o WordPress não estava a tentar contornar alguma regra ou que não ia cumprir o que a Apple pediu, apenas deu a entender que seria um mal-entendido da Apple.
A Apple sabia que não estava tudo “bem contado” no WordPress
A explicação dava a entender que de facto havia algo estranho. Afinal a app WordPress para iOS é open source e só permite que os utilizadores criem um site WordPress alojado gratuitamente. Portanto, tudo era informativo e não era possível sequer comprar um domínio único. Contudo, conforme Ben Thompson observa, nesta situação, a Apple está a pedir 30% das vendas de domínios dos planos .com da Automattic.
WordPress (and the app) are GPL, and App Store TOS and DRM violate GPL. Thus only the copyright holder can submit an app for all of WordPress, both self-hosted and https://t.co/WHTtnmKYAZ.
Apple is thus holding millions of websites hostage for 30% of Automattic domain sales 🤷♂️
— Ben Thompson (@benthompson) August 21, 2020
Mas então se não há qualquer vendas, o que quer a Apple?
Verdade que não há, mas a app WordPress, segundo parece, violou as restrições da Apple sobre o direcionamento de utilizadores para sites de compras e pagamentos fora da app. Isto é, pese o facto da app declarar não ter planos de armazenamento dentro da app, na área “Help Center “está lá o link para enviar os utilizadores para os planos pagos deste serviço de alojamento.
Hey Matt,
When I open the Help Center from the app, I can get guidance about upgrading to one of your paid plans. If I tap on “Plans” as seen the screenshot, the app opens Safari and shows the plans. This is a violation according to App Store Review Guidelines. pic.twitter.com/peTcdn5DZo
— Mysk (@mysk_co) August 21, 2020
É importante notar que a app WordPress para iOS é um projeto do WordPress.com. É um serviço de alojamento construído no backbone do WordPress, mas tecnicamente separado da plataforma de código aberto em wordpress.org.
As regras são claras e, segundo parece, tentar contornar as políticas aceites pode ser imensamente prejudicial. A empresa já disse que em 30 dias tem o pedido da Apple implementado.
Provavelmente que este “desabafo” do CEO do serviço de sites e blogs era para aproveitar o “ruído” causado pela Epic depois de ter posto em causa as comissões de 30% da Apple e da Google. Assim, esta poderá ser uma forma de tentar pressionar a empresa de Cupertino numa altura em que esta está num processo de escrutínio antitruste mais amplo dos reguladores nos EUA e na Europa.