Os medicamentos, por melhor que seja o método tecnológico empregue na sua produção, têm uma validade. Todos os dias são produzidas enormes quantidades de resíduos de medicamentos, desde a sua produção até ao consumo final, depois de ter sido criado um sistema de recolha e gestão dos resíduos de embalagens de medicamentos e de medicamentos fora de uso/validade.
Assim, os cidadãos devem entregar os medicamentos fora de validade na farmácia. Sim, todos eles, até aqueles que lhe custaram os olhos da cara. Mas quem determina a validade desses medicamentos? Conheça os mitos e verdades sobre o assunto.
As boas práticas sugerem a cada um de nós que, de tempos a tempos, deve ser feita uma vistoria à farmácia doméstica para:
- Separar os medicamentos fora de uso: consumo suspenso pelo médico e fora do prazo de validade;
- Separar as embalagens vazias e acessórios (colheres medida, copos medida, etc.);
- Os medicamentos devem ser entregues na Farmácia onde são colocados em contentores próprios.
Contudo, deitar fora medicamentos e cosméticos fora de validade, especialmente os mais caros, nunca é uma tarefa fácil. Mas quais são os mitos e verdades sobre o assunto?
1. O prazo de validade é uma estratégia comercial de laboratórios para que compremos mais
A legislação de todos os países exige que os medicamentos comercializados tenham um prazo de validade. O cálculo é feito após estudos científicos exaustivos. Nos Estados Unidos, por exemplo, o procedimento existe desde 1979. Em Portugal foi criado em 2006 o Estatuto do Medicamento que trouxe ao mercado regras importantes.
Há alguns anos, a Organização Mundial de Saúde decidiu que os prazos de validade não deveriam superar cinco anos”
Explicou à BBC José Ramón Azanza, director de farmacologia da Clínica Universidad de Navarra, na Espanha.
Segundo ele, o mais comum é a data de vencimento de dois anos. Mas, há depois outros especialistas em Farmacologia a afirmar que a lei se aplica mesmo se o laboratório produzir fórmulas que resistam mais tempo.
Podem existir medicamentos que continuem a funcionar após a data de validade, mas a legislação impede-os de dizer isso
Afirmou Inmaculada Posadas, professora de Farmacologia da universidade espanhola de Castilla-La Mancha
2. Se tomo um medicamento fora de validade, posso passar mal
Mas então o que poderá acontecer se tomarmos um medicamento que está fora de validade?
Segundo o especialista Azanza “se alguém toma um medicamento após a data de validade ter terminado, nada acontecerá. São raríssimos os medicamentos que podem produzir efeitos tóxicos em pacientes após a data de validade expirar.”
Mas também não irá ter qualquer efeito ─ é uma questão muito mais de eficácia do que tolerância. Contudo, o especialista alerta que nunca se pode ter certeza absoluta de que os medicamentos fora de validade sejam inofensivos. A razão é simples: os organismos nacionais e internacionais que regulamentam a produção e comercialização de medicamentos não realizam estudos sobre os efeitos pós-validade, estudam sim a sua eficácia durante a vida útil.
Na farmacologia, a incerteza não é aceite porque afecta a segurança das pessoas
Refere Azanza.
Outra razão para respeitar a data de validade é, no caso dos medicamentos de uso sistemático, em especial os que mantêm a qualidade de vida de um paciente.
Se nesses casos não respeitarmos a data de validade, o efeito negativo sobre o paciente pode ser muito grave. Por isso, é melhor termos uma data-limite e estarmos seguros de que o medicamento será eficaz no tratamento de condições mais graves”
Adverte Inmaculada.
No artigo “Não caia na tentação de usar medicamentos vencidos”, a FDA, a agência de vigilância sanitária dos Estados Unidos, indica que “certos medicamentos fora de validade correm o risco de estimular a produção de bactérias e antibióticos com potência reduzida, estes não vão atacar as infecções, desencadeando doenças mais graves e aumentando a resistência ao medicamento”.
3. Aspirinas fora de validade não representam risco algum
Um dia não é a mesma coisa que seis meses. Mas, de acordo com a professora de Farmacologia, a aspirina não deve ser utilizada muito tempo depois de expirada a data de validade. Isto porque a degradação do princípio activo da aspirina, o ácido acetilsalicílico, forma outra substância, o salicilato, que é abrasivo e não deve ser consumido por via oral.
A especialista explica que “não há problema em consumir uma aspirina poucos dias depois da validade, mas em seis meses a quantidade de salicilato contido no comprimido é suficientemente alta para ser tóxica”.
4. Um medicamento pode perder a sua eficácia antes da data de validade
Questionado sobre este afirmação, Azanza, refere que “os medicamentos contêm substâncias químicas estáveis e instáveis, dependendo da sua composição, e do meio onde se encontram”. Factores como a humidade, temperatura e a incidência de luz solar podem reagir com essas substâncias e modificar as suas estruturas químicas.
Os laboratórios garantem que um medicamento funcionará durante um determinado período de tempo, mas com um importante alerta: que seja armazenado nas devidas condições.
Se o medicamento está num local com mais humidade e calor que o testado em laboratório, por exemplo, ou que tenha sido exposto à luz, nada pode assegurar que a data de validade esteja garantida
Referiu a farmacologista.
Isto leva-nos para a importante recomendação de que é muito importante, ler cuidadosamente a bula para saber como se devem guardar os medicamentos.
5. Vitaminas não precisam dos mesmos cuidados
Precisam sim. O princípio é o mesmo. Quando o laboratório vende um composto vitamínico, assegura que as vitaminas funcionarão como esperado: desde o primeiro dia ao último. Depois do prazo, pode haver alterações na fórmula e perda de efeito.
6. Um creme que não seja aberto funcionará depois da data de validade
Como refere Inmaculada, “um creme faz parte da legislação sobre produtos sanitários e tem uma data de validade que nos diz que, até aquele momento, terá as suas propriedades adequadas. Mesmo que não seja aberto, o creme tem ingredientes que também contam com um prazo de validade médio”.
E como explicar a situação na qual, depois de muito tempo sem ser usado, um tubo de creme expele uma espécie de óleo amarelado quando o abrimos?
É um sinal de que o creme ficou tanto tempo sem ser usado que a sua base ficou de um lado e o medicamento de outro. Pode ser usado? Talvez não vá causar danos, mas sua eficácia poderá não ser a mesma.
Explicou Azanza.
7. Colírios devem ser deitados fora mesmo ainda na data de validade
Muitos colírios não contém conservantes para evitar problemas de irritação ocular. Isso significa que, quando os seus frascos são abertos, devem ser usados conforme orientação médica e deitados fora depois do tratamento, ainda que estejam dentro do prazo de validade.
Referiu Azanza.
De acordo com este especialista, o mesmo colírio não serve para o mesmo paciente novamente, inclusive, nos casos em que o problema original se volte a manifestar, isto porque a solução pode estar contaminada com bactérias e mesmo fungos por causa do contacto com o ar.
As organizações de saúde recomendam que os medicamentos fora de validade sejam levados a locais autorizados para serem destruídos.
E que, embora tomar um analgésico expirado numa emergência não seja um grande problema, isso nunca se deve tornar uma prática sistemática. Além disso, os armários de medicamentos devem ser limpos e renovados com regularidade.