Os submarinos portugueses são máquinas altamente complexas e sofisticadas. Sendo meios pouco conhecidos, dada a sua inerente natureza discreta, pretendemos dar a conhecê-los um pouco mais numa série de artigos que podiam ser intitulados genericamente por “A tecnologia e os submarinos da classe Tridente”.
Sendo equipamentos de elevada sofisticação que operam num ambiente hostil, os submarinos da classe Tridente estão equipados com uma panóplia de sistemas que vão desde as tradicionais baterias de placas de chumbo e ácido sulfúrico, até um sistema sonar que apresenta um poder de processamento assinalável, tudo dentro de um cilindro de aço de quase 70 metros de comprimento, fabricado sob os mais altos padrões de qualidade e capaz de suportar mais de 35kg/cm2.
A Marinha portuguesa está equipa com dois submarinos, o “Tridente” e o “Arpão”, construídos nos estaleiros da HDW (Howaldtswerke-Deutsche Werft), actualmente designado por TKMS (ThyssenKrup Marine Systems), na cidade de <Kiel, no norte da Alemanha. A construção dos submarinos iniciou-se em 2005 e após uma fase de formação que perdurou por cerca de três anos para as guarnições, instrutores e pessoal da manutenção, o “Tridente” foi entregue à Marinha Portuguesa em 17 de junho e o “Arpão” em 22 de dezembro ambos do ano de 2010.
A tecnologia envolvida na construção do casco; nos sistemas de produção de energia e seu armazenamento; na monitorização e no controlo remoto de válvulas e equipamentos; nos sistemas de recolha de imagens; na detecção electromagnética e acústica e no armamento, aquela apresenta um especial interesse para quem gosta de tecnologia de uma forma geral.
Sendo o Pplware um site dedicado à tecnologia, será interessante apresentar alguns detalhes sobre todos estes sistemas que equipam estes nossos submarinos, tudo de uma forma acessível a todos e sem comprometer a exigida reserva a que estas informações estão sujeitas.
A necessidade dos submarinos
Embora este conjunto de artigos se centrem na tecnologia usada nos nossos submarinos, existe sempre uma questão de fundo que interessa clarificar: a sua necessidade e utilidade para Portugal. Em vez de evitar esta questão que, infelizmente, na sociedade portuguesa sempre esteve envolta em polémica, julgamos melhor enfrentá-la e dar a conhecer muito resumidamente o que, na nossa opinião, levou o Estado português ao longo de vários anos e diversos governos, a prosseguir com a compra de um equipamento dispendioso na aquisição, mas de elevada utilidade e económico na sua operação.
Sem nos alongarmos muito nesta importante questão, importa ter consciência de dois factos: por um lado a localização geográfica de Portugal e a dimensão da sua área marítima, e por outro a importância da economia do mar ligada a esta nossa dimensão. No que respeita ao primeiro aspecto, e ao contrário do que é commumente aceite, Portugal não é um país pequeno, mas é sim um país com a 11ª maior área mundial de águas jurisdicionais, incluindo mar territorial e ZEE, posicionando-se à frente de países como a China (fonte).
Se contarmos com a previsível extensão da plataforma continental, Portugal aumenta ainda mais as suas dimensões, ficando como detentores de um território marítimo equivalente à dimensão da Índia, ou seja, 41 vezes superior à nossa área terrestre e equivalente a 87% da área total da União Europeia (dados disponíveis neste excelente artigo).
Quanto ao segundo facto, a importância desta nossa dimensão marítima, i.é, a economia do mar verificamos que ela representa, de acordo com Estratégia Nacional para o Mar 2013-2020, cerca de 2,5% do PIB nacional, tendo um enorme potencial de crescimento, esperando-se que este Hypercluster venha a representar 4 por cento do PIB nacional até ao 2020. Para aprofundar um pouco mais este tema deixo aqui uma excelente referência.
Com estes dois factos indubitáveis, será indiscutível que Portugal tem que conseguir explorar, controlar e defender este seu espaço sob pena de outros poderem fazê-lo por nós. Para cumprir este objectivo, Portugal poderá optar, genericamente, por duas estratégias. A mais dispendiosa, seria a de ter uma presença permanente em todo este vasto espaço marítimo, tendo a capacidade para actuar sempre que necessário. Esta via exigia um conjunto de meios humanos e materiais, que um país com parcos recursos como o nosso, dificilmente conseguiria suportar.
A outra estratégia, seria a de dissuasão, onde Portugal pode criar a credibilidade de conseguir controlar esta área sempre que necessário, sem pré-aviso e sem ser perceptível por eventuais adversários. É nesta última estratégia de dissuasão – que consideramos como sendo a mais viável – que os submarinos devem ser encarados como um valioso activo e uma ferramenta indispensável.
A incerteza ou a “invisibilidade” em relação à posição do submarino assim que este entra em imersão à saída do porto, é uma das suas maiores capacidades. Sem me alongar mais deixo um excelente artigo sobre “Porque são importantes os submarinos para Portugal?” como referência.
Voltando ao tema de futuros artigos, espero entreabrir um pouco este universo que causa habitualmente muito curiosidade, focando a tecnologia usada nestes submarinos de fabrico alemão mas com alguma tecnologia portuguesa.
É precisamente o sistema 100% português que temos a bordo dos submarinos da classe Tridente e que muito sucesso internacional tem tido que iremos abordar num futuro artigo.