Tem carimbo nacional e surge no sentido de eliminar a lista de espera por transplantes de órgãos. A startup Orgavalue pega em órgãos que seriam descartados e personaliza-os, para que sejam compatíveis com um paciente específico que precise de um transplante.
O grande objetivo passa por eliminar as listas de espera que, muitas vezes, põem em risco a vida dos pacientes.
A galardoada Orgavalue é uma startup portuguesa que se foca na reabilitação de órgãos humanos. De acordo com o P3 do Público, a ideia surgiu em 2019, pela motivação de Rodrigo Val d’Oleiros e Silva, investigador de 27 anos. Depois de se associar a um grupo do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) e desenvolver um “gel injetável que poderia ser utilizado para a regeneração de novos tecidos humanos”, pensou em regenerar órgãos de animais e humanos.
Desde aí, trabalha no sentido de “eliminar a lista de espera por transplantes de órgãos” e, embora o foco seja o fígado, a startup pode trabalhar órgãos como pâncreas, pulmão e coração. Uma vez que os testes em órgãos de animais foram bem-sucedidos, a startup vai começar a testar em órgãos humanos e, se correr como pretendido, a alternativa estará disponível já em 2028.
O que nós fazemos é pegar em órgãos que são previamente descartados para os resíduos hospitalares ou por pacientes que são incompatíveis. Removemos as células através de um processo de lavagem e colonizamos com novas células, personalizando o órgão para o paciente que necessite.
Partilhou o investigador, em entrevista, explicando que o processo consiste na retirada das células do órgão, deixando apenas “uma espécie de carcaça branca e transparente”, que pode ser congelada entre os -20 e os -80 graus Celsius, durante um período máximo de seis meses.
Comparando o órgão a uma alface que, embora possa estar no frigorífico vários dias sem se estragar, “quando é cozinhada tem de ser automaticamente comida”, Rodrigo explicou que, quando há um pedido para um órgão, essa carcaça é descongelada e são-lhe injetadas novas células, provenientes do sangue do paciente que precisa do transplante. Portanto, a Orgavalue personaliza o órgão à medida de cada doente.
Segundo Rodrigo, esta personalização de órgãos ajudaria milhares de pessoas em Portugal, reduzindo as listas de espera e aumentando a taxa de sucesso dos transplantes.
Em Portugal, sê português…
Segundo o P3, as parcerias com os hospitais, com a Universidade do Porto e com o Instituto de Engenharia Biomédica (INEB) são “apenas institucionais” e, por isso, não existe apoio financeiro a segurar o projeto, sendo este, por sua vez, suportado por prémios e pelo próprio Rodrigo.
Numa semana, posso gastar 20 mil euros em experiências, o que é absurdo. É claro que o retorno futuro vai ser astronómico, mas o risco também é sempre maior.
Partilhou o investigador, acrescentando que, em Portugal, “só temos investidores que querem investir numa ideia que já esteja no mercado”.
Além disso, revelou que a Orgavalue quer trabalhar com o Sistema Nacional de Saúde e que está em discussões para perceber como pode “colaborar ou ter apoio do Estado para que o projeto vá para a frente”.
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