A infertilidade não é um problema exclusivamente feminino, pelo que os homens também podem conhecer entraves. Agora, um grupo de investigadores pegou na tecnologia do momento, a Inteligência Artificial (IA), e treinou-a para ajudar homens inférteis a serem pais.
De acordo com o New Atlas, a forma mais grave de infertilidade, a azoospermia não obstrutiva (em inglês, NOA), afeta cerca de 1% dos homens e cerca de 5% dos casais que procuram tratamento de fertilidade.
Este problema consiste na ausência de espermatozoides nas amostras de sémen e pode ser causado por fatores genéticos, desequilíbrios hormonais, radiações, toxinas e medicamentos específicos.
Atualmente, o tratamento da NOA sujeita os homens a um procedimento em que o esperma é extraído manualmente para poder ser utilizado para fertilizar os óvulos da parceira. Este processo é desafiante e pode demorar até seis horas, uma vez que os embriologistas precisam de separar a amostra de tecido para encontrar e isolar os espermatozoides.
IA entra em ação em mais uma área
Por forma a otimizar o processo, um grupo de investigadores da University of Technology Sydney (UTS) recorreu à tecnologia do momento. A equipa desenvolveu um algoritmo de IA que elimina o trabalho manual necessário para encontrar espermatozoides numa amostra de tecido.
O chamado SpermSearch foi treinado através de milhares de imagens microscópicas estáticas com esperma, bem como altos níveis de outras células e resíduos. Por forma a assegurar que o algoritmo de IA reconhece o aspeto do esperma, nas imagens, este estava destacado.
Os investigadores utilizaram amostras de esperma saudável e de tecido testicular de sete homens, com idades compreendidas entre os 36 e os 55 anos, diagnosticados com NOA e que já tinham sido submetidos a uma colheita de esperma. Os homens tinham doado tecido restante que não foi utilizado para o procedimento.
Depois, os investigadores compararam o desempenho da IA versus o de um embriologista, em termos de tempo necessário para identificar os espermatozoides com exatidão.
Os resultados são curiosos. Em geral, a IA encontrou mais espermatozoides; alguns foram detetados apenas por ela, mas outros só foram detetados pelo profissional. Este encontrou 560 espermatozoides, ao passo que a IA detetou 611.
Além disso, o algoritmo identificou os espermatozoides mais rápido do que o embriologista e foi 5% mais exato do que este.
Este é um estudo preliminar sobre a utilização da IA para encontrar espermatozoides saudáveis em homens com este tipo de infertilidade. Encontrar espermatozoides saudáveis ao microscópio em fragmentos de biopsias testiculares pode ser um processo árduo. A perspetiva de utilizar a IA para tornar o processo mais rápido e mais preciso é muito interessante. Precisamos de ver mais investigação para desenvolver estes resultados.
Explicou Carlos Calhaz-Jorge, presidente da European Society of Human Reproduction and Embryology, esclarecendo que é preciso reunir mais evidência científica, bem como fazer mais testes.
O estudo foi apresentado, ontem, 27 de junho, durante o encontro anual da European Society of Human Reproduction and Embryology.