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Há mais de 30 anos que um sinal de rádio interestelar se liga e desliga a cada 22 minutos

Os astrónomos procuram sinais de rádio repetidos no espaço. Estes normalmente ligam-se e desligam-se muito rápido. Os sinais repetidos mais comuns têm origem nos pulsares, estrelas de neutrões em rotação que emitem feixes energéticos como faróis. A sua ação leva a que estes “se liguem e desliguem” à medida que giram em direção à Terra e quando se afastam dela. Mas estes sinal de rádio a cada 22 minutos, está a deixar os astrónomos… intrigados!


Os pulsares abrandam à medida que envelhecem, e os seus impulsos tornam-se mais fracos, até que acabam por deixar de produzir ondas de rádio.

Estes pulsar em causa, invulgarmente lento, pode ser explicado como um magnetar, isto é, um pulsar com campos magnéticos extremamente complexos e poderosos que pode gerar ondas de rádio durante vários meses antes de parar.

Conceção artística de um magnetar localizado no aglomerado estelar de Westerlund 2.

Infelizmente, os cientistas detetaram a fonte recorrendo a dados recolhidos em 2018. Quando analisaram os dados e descobriram o que pensavam ser, um magnetar, já estavam em 2020 e a fonte já não produzia ondas de rádio. Sem dados adicionais, os astrónomos não puderam testar a teoria do magnetar.

Nada de novo debaixo do Sol

O nosso Universo é vasto e, até agora, cada novo fenómeno descoberto não é único. Os astrónomos sabiam que se voltassem a procurar, com observações bem planeadas, tinham boas hipóteses de encontrar outra fonte de rádio de longo período.

Assim, meteram mãos à obra e utilizaram o radiotelescópio Murchison Widefield Array, na Austrália Ocidental, para analisar a nossa galáxia da Via Láctea de três em três noites, durante vários meses.

Na verdade, não foi necessário esperar muito tempo para encontrarem uma nova fonte, numa parte diferente do céu, desta vez a repetir-se a cada 22 minutos.

Usaram todos os telescópios disponíveis, em rádio, raios-x e luz ótica, para conseguirem o maior número de observações possível, partindo do princípio que o sinal não estaria ativo durante muito tempo. Os impulsos duraram cinco minutos cada, com intervalos de 17 minutos entre eles. O objeto parecia-se muito com um pulsar, mas girava 1000 vezes mais devagar.

Escondido à vista de todos

A verdadeira surpresa surgiu quando procuravam as mais antigas observações de rádio desta parte do céu. O Very Large Array, no Novo México, Estados Unidos, tem o arquivo de dados mais antigo. Como tal, os astrónomos encontraram impulsos da fonte em dados de todos os anos em que procuraram – o mais antigo foi encontrado numa observação feita em 1988.

A observação ao longo de três décadas permitiu cronometrar com precisão os impulsos. A fonte está a produzi-los como um relógio, a cada 1.318,1957 segundos, mais ou menos um décimo de milissegundo.

Conforme as teorias atuais, para que a fonte estivesse a produzir ondas de rádio, deveria estar a abrandar. Mas, de acordo com as observações, não está.

No artigo publicado na Nature, foi mostrado que a fonte se encontra “abaixo da linha da morte”, que é o limite teórico de como as estrelas de neutrões geram ondas de rádio; isto é válido mesmo para modelos de campos magnéticos bastante complexos. Para além disso, se a fonte for um magnetar, a emissão de rádio só deveria ser visível durante alguns meses ou anos – e não 33 anos e a contar.

Assim, quando os cientistas tentaram resolver um problema, acabaram por criar outro. Afinal, o que são estas misteriosas fontes de rádio repetitivas?

Serão sinais de civilizações extraterrestres?

Claro que, nesta altura, é muito tentador pensar em inteligência extraterrestre como uma opção. O mesmo aconteceu aquando da descoberta dos pulsares: a astrofísica Jocelyn Bell Burnell e os seus colegas, que encontraram o primeiro pulsar, apelidaram-no de “LGM 1” (Little Green Men 1).

Mas assim que Bell e os seus colegas fizeram novas deteções, souberam que não podiam ser extraterrestres. Seria incrivelmente improvável que tantos sinais semelhantes viessem de tantas partes diferentes do céu.

Os impulsos, semelhantes aos desta fonte, não continham qualquer informação, apenas “ruído” em todas as frequências, tal como as fontes de rádio naturais. Além disso, a energia necessária para emitir um sinal em todas as frequências é impressionante: é preciso usar, bem, uma estrela de neutrões.

Apesar de ser tentador tentar explicar um novo fenómeno desta forma, é um pouco difícil. Não incentiva a continuar a pensar, a observar e a testar novas ideias. A comunidade cientifica chamou a abordagem dos “extraterrestres das lacunas“.

Felizmente, esta fonte ainda está ativa, pelo que qualquer pessoa no mundo a pode observar. Talvez com observações criativas de acompanhamento e mais análises, seja possível resolver este novo mistério cósmico. Quem, ou o quê, está a enviar estes sinais?

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