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Ciência já consegue prever o próximo grande sucesso musical e tudo graças ao nosso cérebro

Todos os dias a internet recebe e promove cerca de 60.000 temas musicais ao redor do planeta. Contudo, é quase impossível adivinhar qual será o êxito musical que vai receber milhões de visualizações e eventualmente dar muito dinheiro a ganhar ao seu autor. Para tentar resolver esse assunto, a ciência deu agora um grande passo.


Neuropredição: o nosso cérebro sabe o que é bom!

Alguns estudos indicam que menos de 4% dos temas musicais lançados na internet se tornam virais anualmente. Durante décadas, foram pesquisados vários métodos para encontrar o êxito perfeito: desde a análise das letras das canções, da tonalidade e dos acordes, até às menções que acumulam nas redes sociais.

Agora, a ciência deu um grande passo para resolver este mistério. E a resposta está no nosso cérebro.

Uma equipa de investigadores da Claremont Graduate University, em Los Angeles, utilizou uma técnica avançada de aprendizagem automática aplicada às respostas cerebrais das pessoas para identificar potenciais “êxitos” com uma precisão incrível de 97%. Resumindo: analisa a forma como a música desperta emoções e depois utiliza a IA para analisar estes padrões.

Esta forma de previsão chama-se “neuropredição”, um campo emergente que utiliza dados da atividade cerebral e que pretende ser utilizado para prever comportamentos ou escolhas da população. Por outras palavras, antecipar tendências generalizadas.

Como funciona a neuropredição?

No estudo, publicado na revista Frontiers in Artificial Intelligence, os cientistas de Claremont aplicaram esta técnica de aprendizagem automática às respostas cerebrais de 33 pessoas com idades compreendidas entre os 18 e os 57 anos.

Os participantes foram equipados com sensores cardíacos Rhythm + PPG e obrigados a ouvir 24 canções recentes. Destas, 13 eram êxitos (com mais de 700.000 reproduções) e as restantes não tinham praticamente nenhuma reprodução. Todas as músicas eram recentes e abrangiam vários géneros (pop, techno, hip hop, rock…).

A equipa mediu então as respostas neurofisiológicas captadas pelos sensores, que estavam associadas à atenção (pela libertação de dopamina) e à resposta emocional (ligada à oxitocina). Como explicado neste artigo do EL PAÍS, estes sinais em conjunto predizem o comportamento do cérebro após um estímulo que pode provocar emoções.

Os investigadores concluíram que, quando os dados foram processados através de um modelo estatístico linear, a taxa de sucesso na previsão de um acerto foi de 69%. No entanto, quando a aprendizagem automática foi aplicada ao conjunto de dados neuronais, a precisão subiu para 97,2%.

De facto, quando o modelo de IA avaliou os dados de apenas um minuto de música, a precisão continuou a ser de 82%.

Acontece que o cérebro sabe, mesmo que não o consigamos identificar conscientemente, se algo é bom ou não.

Como explica um dos autores do estudo, o Professor Paul Zak.

Além disso, o autor salienta que, embora as pessoas possam atribuir características como o ritmo ou o tom quando explicam porque é que gostam de uma canção, é impossível ter plena consciência dos motivos intrínsecos.

Um avanço fantástico para a indústria de entretenimento

Embora o estudo tenha as suas limitações (o teste foi realizado com um pequeno número de canções e o grupo demográfico também era bastante pequeno), este método pode representar um avanço para a indústria do entretenimento e pode também ser aplicado noutros sectores, como o cinema e a televisão.

De facto, há alguns anos, investigadores da Universidade de Stanford mostraram que a atividade cerebral também podia prever quais os vídeos do YouTube que se tornariam virais. E, mais recentemente, um estudo da Rotterdam School of Management mostrou que as respostas neuronais dos investidores profissionais parecem prever o comportamento futuro das ações no mercado.

Mas são sobretudo os serviços de streaming que poderiam beneficiar desta tecnologia. Esta tornaria muito mais fácil identificar novos êxitos para adicionar às listas de reprodução ou catálogos das pessoas de forma mais eficiente. É algo em que estão a trabalhar há anos com os seus próprios algoritmos de recomendação.

O Spotify, de facto, faz isso com a sua funcionalidade “Descoberta Semanal”, que oferece aos utilizadores uma lista de 30 novas músicas todas as segundas-feiras. Mas esta escolha responde a fatores exclusivamente internos à plataforma, como o número de reproduções, o género e o estilo da canção, a evolução em termos de ouvintes, etc.

Em resumo, estamos a poucos anos de sentirmos que tudo o que ouvimos foi feito para nos saciar a alma, com temas musicais dedicados a cada um de nós, hits que a inteligência artificial generativa irá servir “à medida”.

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