Pplware

As pessoas confiam na ciência? Um estudo global diz que sim, mas falta comunicação

Um inquérito global, com respostas de 68 países, revelou que a confiança do público nos cientistas continua a ser elevada. Esta foi a maior análise pós-pandemia da confiança na ciência, das expectativas da sociedade e das prioridades de investigação.


Conduzida por investigadores da Universidade de Zurique e da ETH Zurich, a análise das respostas de quase 72.000 indivíduos desafia a perceção generalizada de que a confiança do público nos cientistas está em declínio.

Os nossos resultados mostram que a maioria das pessoas, na maior parte dos países, tem um nível relativamente elevado de confiança nos cientistas e quer que estes desempenhem um papel ativo na sociedade e na política.

Observou Viktoria Cologna, investigadora principal da ETH Zurich, cujo estudo concluiu que, em média, as pessoas em todo o mundo têm um nível moderadamente elevado de confiança nos cientistas.

Numa escala de 1 (confiança muito baixa) a 5 (confiança muito elevada), o nível médio de confiança foi de 3,62, o que indica que a maioria dos inquiridos continua a ver os cientistas de forma favorável.

Além disso, outros dados pertinentes incluem:

Estes resultados contrariam a afirmação amplamente repetida de que existe uma crise de confiança na ciência.

Apesar de a confiança geral nos cientistas continuar a ser forte, o estudo revela, também, áreas de preocupação. Uma questão fundamental é a perceção do desfasamento entre os cientistas e o público.

 

Cientistas precisam de comunicar mais e melhor com as pessoas

Apenas 42% dos inquiridos consideram que os cientistas prestam atenção à opinião pública. Este dado sugere que, embora as pessoas confiem nos cientistas, sentem que os investigadores nem sempre têm em conta as perspetivas e prioridades do público em geral.

A perceção desta lacuna pode contribuir para o ceticismo em certas áreas de investigação e políticas. Efetivamente, quando os cientistas não conseguem comunicar eficazmente com o público ou não se envolvem em discussões significativas, a confiança pode diminuir com o tempo.

Os nossos resultados também mostram que muitas pessoas em muitos países sentem que as prioridades da ciência nem sempre estão bem alinhadas com as suas próprias prioridades.

Afirmou o coautor do estudo, Niels G. Mede, da Universidade de Zurique, recomendando que “os cientistas levem estes resultados a sério e encontrem formas de serem mais recetivos ao feedback e abertos ao diálogo com o público”.

Afinal, os resultados da investigação indicam que são necessários mais esforços para colmatar esta lacuna e garantir que a investigação científica se alinhe com as necessidades e expectativas do público.

 

Níveis de confiança na ciência e orientação política

A análise destaca diferenças significativas nos níveis de confiança na ciência com base na orientação política e nos contextos regionais.

Nos países ocidentais, as pessoas com opiniões políticas de direita tendem a confiar menos nos cientistas do que as pessoas com opiniões de esquerda. Esta tendência reflete uma polarização política crescente nas atitudes relativamente à ciência, em particular em temas como:

No entanto, o estudo revelou que, na maioria dos países, a ideologia política não influencia fortemente a confiança nos cientistas, sugerindo que, embora existam divisões políticas em determinadas regiões, estas não representam necessariamente uma tendência global.

Em vez disso, a confiança na ciência é moldada por uma combinação de fatores culturais, económicos e históricos exclusivos de cada país.

 

Devem os cientistas envolver-se na política?

Globalmente, 83% dos inquiridos consideram que os cientistas devem comunicar o seu trabalho ao público, o que realça a importância da comunicação científica na criação de confiança e compreensão.

Além da comunicação, 52% dos inquiridos apoiam um maior envolvimento dos cientistas na elaboração de políticas, refletindo a vontade do público de tomar decisões com base científica em áreas como a saúde, o ambiente e a política social.

Por sua vez, as opiniões sobre a defesa de causas continuam divididas. Embora uma parte significativa da população considere que os cientistas devem contribuir para a definição de políticas, apenas 23% consideram que devem defender ativamente políticas específicas.

Apesar das conclusões positivas sobre a confiança do público, o estudo salientou a necessidade de os cientistas se envolverem ativamente com o público. A confiança não é estática, exigindo um esforço contínuo da comunidade científica para a manter e reforçar.

Exit mobile version