Foram realizadas novas investigações que trouxeram resultados impressionantes relacionados com o primeiro ponto de um processo neurodegenerativo que leva à demência, com especial foco no Alzheimer.
Investigadores da Universidade de Southwestern descrevem a descoberta como sendo o “Big Bang” da doença de Alzheimer. Espera-se que o trabalho leve a novos tratamentos e formas de detetar a doença antes que os principais sintomas se instalem.
Poderá ser o Big Bang no combate ao Alzheimer
Um novo estudo publicado esta semana na eLife foca-se na proteína tau. Esta poderá ser a nova linha de investigação: estudar os emaranhados neurofibrilares que podem acumular e até matar neurónios.
Esta é talvez a maior descoberta que fizemos até agora, embora, provavelmente, demore algum tempo até que qualquer benefício se materialize ao nível clínico. Isso muda muito a forma como pensamos sobre o problema.
Referiu Marc Diamond, um dos principais investigadores deste estudo.
A investigação moderna de Alzheimer concentra-se numa proteína específica chamada beta-amilóide e suspeita-se que a agregação dessa proteína seja a principal causa patológica dos sintomas da doença. Mas, depois de uma longa série de falhas em testes clínicos de medicamentos destinados a atacar essas placas de beta-amilóide, alguns cientistas estão a voltar as suas atenções para outras investigações.
A TAU poderá ser a chave…
Esta nova investigação concentra-se numa proteína diferente, chamada Tau. Descobriu-se que estas proteínas Tau formam aglomerados anormais no cérebro, chamados emaranhados neurofibrilares, que podem acumular e matar neurónios. Alguns cientistas acreditam que esta é realmente a principal fonte causadora da doença de Alzheimer.
Até agora, não se sabia como ou quando estas proteínas Tau começavam a acumular-se em emaranhados no cérebro. Acreditava-se anteriormente que as proteínas Tau isoladas não tinham uma forma distintamente prejudicial, até que se começaram a agregar com outras proteínas Tau. Mas, nesta nova linha de investigação, foi revelado que uma proteína Tau tóxica, na verdade, apresenta-se de forma desdobrada, expondo partes que geralmente são dobradas no interior, antes de se começarem a agregar.
São essas partes expostas da proteína que permitem a agregação, formando os maiores emaranhados tóxicos.
Olhamos para isto como o ‘Big Bang’ da patologia Tau. Esta é uma maneira de olhar para o início do processo da doença. Isso leva-nos de volta a um ponto muito discreto, onde vemos o aparecimento da primeira mudança molecular que leva à neurodegeneração na doença de Alzheimer.
Referiu Diamond.
Há agora novos caminhos possíveis…
A partir daqui, a investigação está definida para ter dois caminhos de prospeção diferentes. Um primeiro olhar para o desenvolvimento de um teste de diagnóstico simples para detetar sinais desta proteína Tau anormal, seja através de um exame de sangue, ou um teste de fluido espinhal (que não é o ideal). Se estas proteínas tóxicas da Tau puderem ser facilmente detetadas, os clínicos poderão diagnosticar a doença de Alzheimer antes que os principais sintomas cognitivos degenerativos se instalem.
O segundo caminho de investigação que flui para fora desta grande descoberta envolve investigar tratamentos prospetivos de drogas que poderiam interromper o processo de agregação de Tau. Os cientistas apontam para uma nova droga chamada Tafamidis, como o exemplo interessante de um medicamento similar projetado para estabilizar uma proteína que pode acumular-se e causar sintomas adversos.
O Tafamidis foi desenvolvido para retardar o comprometimento da função nervosa causado pela agregação tóxica de uma proteína normalmente inofensiva, chamada Transtirretina, e está atualmente aprovada para uso na Europa e no Japão. No entanto, a FDA (Food and Drug Administration) pediu mais provas clínicas antes de aprovar o medicamento para uso nos Estados Unidos.
Agora que essa alteração inicial na forma das moléculas de Tau foi identificada, os investigadores podem concentrar-se mais efetivamente nos possíveis alvos de drogas para inibir as agregações tóxicas nesse estágio.
Esta nova abordagem está já a permitir que se estudem novos medicamentos que sejam eficazes no bloqueio do processo neurodegeneração… logo no início deste. Se funcionar, a incidência da doença de Alzheimer pode ser substancialmente reduzida. Isso seria incrível.
Concluiu Diamond.
Pese o facto de ainda demorar algum tempo até os resultados serem passados para o nível de tratamento, é já uma nova luz no combate a uma terrível doença que desde há 25 anos para cá tem aumentado a usa incidência.