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Análise Little Nightmares (Xbox One)

Quando o Pplware esteve presente na 1ª edição do 4Gamers (aqui ou aqui) teve o prazer de assistir a uma discussão sobre a temática dos Videojogos e o seu futuro.

Um dos assuntos discutidos então foi a força das grandes corporações (grandes companhias de desenvolvimento e distribuição de jogos) que, com o seu forte investimento nos media, conseguem uma maior divulgação e visibilidade dos seus produtos, mesmo que muitas vezes, não apresentem a maior ou melhor qualidade ou inovação.

O jogo que hoje vos trazemos é um bom exemplo disso mesmo. Desenvolvimento pelo pequeno estúdio sueco Tarsier Studios (equipa interveniente no desenvolvimento de LittleBigPlanet), trata-se de um titulo que facilmente passará despercebido à maior parte dos jogadores … mesmo daqueles que apreciam este tipo de jogos. Felizmente, o Pplware teve a oportunidade de o jogar e deixamos aqui o nosso testemunho.


Acredito que este seja um jogo que não tenha um grande meio-termo, ou se gosta, ou não se gosta. Tal como o nome indica (tradução poderá ser “Pequenos Pesadelos”), trata-se de um titulo com um perfil psicologicamente denso mas que nunca acaba por entrar no campo do exagero ou do horror descarado.

Em Little Nightmares, a acção decorre no interior de um local sombrio e inimaginável, denominado The Maw no qual o jogador encarna um pequeno e vulnerável personagem, de nome Six. Desde cedo o jogo avisa ao que vem. A introdução (curta) é parca em explicações mas não deixando duvidas de que Six terá de fugir daquele local. Vestindo apenas uma gabardine amarela Six começa então a evoluir naquele antro de maldade e escuridão que esconde um derradeiro segredo.

A história vai-se escrevendo à medida que avançamos na aventura e a ausência de diálogos ou outro tipo de interacções acaba por mal se notar. O jogo explica-se aos poucos … mas sem nunca perder a sensação de que … temos de fugir. Temos de nos salvar a todo o custo.

Aliás, é também essa ideia com que se fica relativamente ao que a equipa da Tarsier pretende do jogador: que, tal como Six, se vá “desenrascando” sozinho. Por outras palavras, Little Nightmares é um jogo que mistura várias influências, desde o Survival Horror, ao jogo de Plataformas mas que, numa forma extremamente inteligente, não facilita em demasia a tarefa ao jogador.

A maior parte dos obstáculos que o jogador encontra no The Maw, apresentam-se naturalmente e encaixam perfeitamente no tipo de cenários que nos aparecem. Não há puzzles estranhos nem soluções etéreas. Nada disso … a solução para cada problema encontra-se ali, e só temos de saber procurar e de pensar. São principalmente obstáculos decorrentes dos diferentes tipos de cenários e objectos nele existentes e isso ajuda a criar uma sensação de realismo e de imersão no jogo. Essa é, sem dúvida, uma das maiores mais-valias do jogo.

No entanto, só não atinge níveis de excelência pois, em muitos aspectos o jogo acaba por jogar contra si. A câmara de Little Nightmares encontra-se numa perspectiva lateral e Six movimenta-se lateralmente (num espaço tridimensional). O que acontece é que uma vez que existem diversos obstáculos nos cenários, por vezes a câmara não nos dá a visão mais adequada, dificultando a interpretação daquilo que se está a ver, ou do que teremos de fazer. Por vezes, a meio de uma fuga ou durante um salto, embatemos contra objectos que ali se encontram e, perdemos valiosos segundos que podem ser importantes para não se ver o ecrã de Game Over.

Associado a isto, também o facto do ambiente dentro do The Maw ser pesado, sombrio e cinzento, ajuda a que se percam muitas vezes pontos de interacção espalhados pelo cenário, levando a que em certas alturas demos por nós a tentar empurrar uma parede, ou saltar para tudo o que existe a tentar descobrir como avançar.

À medida que avançamos no jogo, um dos sentimentos predominantes é que Six é efectivamente, o “elo mais fraco“. A sua fragilidade é notória até pelo pormenor de não possuir armas ou qualquer tipo de defesa mais activo contra os seres que habitam o The Maw. Basicamente Six apresenta alguns movimentos básicos como correr, esconder, empurrar ou puxar coisas, … e pouco mais.

Dado o ambiente que se cria em nosso redor, tantas limitações impregnam-se na nossa mente e levam-nos realmente a recear. A recear o escuro, a recear o vem ao transpor a próxima porta, ou o que acontece se falharmos o timing certo para fugir.

Não sendo coincidência claramente, o grafismo e a própria física do jogo apresentam grandes semelhanças com Little Big Planet. Fiquei extremamente surpreendido com a física imposta, não só a Six, mas sobretudo aos objectos com os quais ele interage. As folhas de papel no chão, as cadeiras, os móveis, … potenciado pelo motor Unreal.

Todo o aspecto gráfico de Little Nightmares é, à semelhança de Little Big Planet, bastante cuidado, preenchido com inúmeros pormenores e com uma clara preocupação em fazer sentido, no âmbito do jogo, claro está. Não há nada que esteja deslocado e tudo faz sentido. Até mesmo o exagero que se verifica em determinados objectos ou personagens é propositado. A maior parte dos cenários apresentam um estilo muito próprio. Os objectos (e os próprios cenários) encontram-se frequentemente com ângulos estranhos, e os objectos têm muitas vezes dimensões estranhas e formatos retorcidos. Tudo isto dá um toque de absurdo e grotesco a um jogo que, acima de tudo quer deixar transparecer para o jogador, o intimo pesadelo de infância (ou não).

O facto do jogo se apresentar com um ambiente sombrio e com recurso a uma panóplia de cores mais escuras, existe um problema que desde cedo se revela. Uma vez que, para passar determinadas secções, temos de descobrir objectos ou itens com os quais teremos de interagir para despoletar algo, tanta a falta de mais luminosidade aliada à posição lateral da câmara acaba por prejudicar descoberta desses mesmos objectos.

Contudo, uma das belezas do jogo é o facto de exigir ao jogador, tanto uma grande capacidade de discernimento, como também rapidez e destreza na execução. E esta parelha encontra-se deliciosamente retratada em alguns pontos chave do jogo até porque existe uma clara exigência ao jogador para saber os momentos certos para agir. Esconder?? Avançar?? Saltar?? Este tipo de decisões são constantemente lançadas ao jogador e são um dos pontos altos do jogo. Little Nightmares obriga o jogador a estar atento a qualquer momento e a ponderar bem as suas acções assim como a forma como as faz.

Já falei por várias ocasiões acerca dos habitantes do The Maw. Estes são seres grotescos, asquerosos, brutais e nada amigáveis, perfeitos habitantes do Mundo dos Pesadelos. São eles a nossa principal ameaça e é deles que temos de saber quando nos esconder, quando fugir ou quando enganar.

Little Nightmares é, como referi, um jogo que obriga o jogador a tomar atenção a certos detalhes. Por exemplo, convém tomar especial atenção às rotinas dos Mawenses, pois apresentam rotinas bem delineadas o que faz com que a principal preocupação do jogador seja a de perceber essas mesmas rotinas e saber agir nos momentos certos.

Como aspecto menos bem conseguido não poderia deixar de mencionar um que me deixou os cabelos em pé em determinadas alturas: savepoints. Infelizmente, a equipa da Tarsier colocou os pontos de gravação em certas alturas, demasiado espaçados, pelo que quando se morre torna-se demasiado chato e frustrante ter de repetir secções inteiras para voltar a morrer no mesmo sitio outra vez e voltar ao inicio da secção.

O jogo acaba por ser extremamente curto, e para tal muito contribuí, não só uma história principal curta, mas também a inexistência de objectivos alternativos e de diversidade. No entanto, eles também existem tais com o de partir umas certas bonecas de cerâmica que se encontram espalhadas pelos cenários e que poderá levar os jogadores a repetirem alguns níveis (episódios) de forma a concluir o jogo a 100%. Fora isso, há muito pouco além da história principal.

Para terminar gostaria apenas de referir os efeitos sonoros que se apresentam deliciosamente discretos. Durante a maior parte do jogo não há acompanhamento musical. Isso permite que o ênfase seja dado aos sons ambientes, como os passos (nossos e não só), sons dos objectos, sons do soalho de madeira … , Até dá para ouvir os seres monstruosos que habitam este jogo a lamberem os lábios.

Veredicto

Eis uma bela surpresa para todos os amantes de jogos diferentes e que puxam pelos neurónios de quem os joga.

A Tarsier Studios conseguiu de uma forma super inteligente, combinar as mecânicas típicas de jogos de plataforma com uma ambiência survival horror que tem momentos de cortar a respiração. Little Nightmares apresenta-se ainda recheado de quebra-cabeças deliciosamente bem idealizados (e exigentes também) que, apesar de algum descuido da câmara, são super recompensadores de ultrapassar.

Little Nightmares é um daqueles títulos que facilmente se recomendam a quem gosta de jogos diferente e que fazem o jogador puxar pela cabeça.

 

Little Nightmares

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