Desde o lançamento das primeiras consolas que algumas questões se colocaram à indústria de desenvolvimento de videojogos e que fizeram com que certos tipos de jogabilidades demorassem o seu tempo a colonizar essas plataformas, nomeadamente os RTS que apresentam mecânicas muito próprias e que exigem grande personalização de controlos e atalhos.
Um desses exemplos, bem sucedido diga-se, foi Halo Wars, um RTS baseado no Universo Halo mas que o mostra segundo uma nova perspectiva. Agora, passadas quase duas mãos cheias de dedos de anos após o lançamento do original, surge Halo Wars 2 e o Pplware já o experimentou.
Halo Wars 2, a história
Para quem é fã do Universo Halo, Halo Wars 2 apresenta uma história que facilmente será absorvida e compreendida. 28 anos após os eventos do primeiro Halo Wars, a nave UNSC Spirit of Fire é enviada para o espaço profundo, onde anda à deriva durante largas dezenas de anos. No entanto, ao receber uma transmissão de socorro, a I.A. da nave decide acordar a tripulação. Essa transmissão vem precisamente da Ark, construída pelos Forerunners. Liderados pelo comandante James Cutter, a tripulação da Spirit of Fire com os Banished. Tratam-se de Jiralhanae liderados pelo cruel Atriox que se revoltaram contra os Covenant e são agora, eles próprios uma força temida pelo Universo.
Curiosamente (ou não) a inclusão de uma narrativa densa e complexa como esta num jogo RTS acaba por ser algo “estranho” mas, na realidade, em Halo Wars 2, acaba por funcionar na perfeição (especialmente no modo Campanha).
Modo Campanha
E comecemos precisamente pelo Modo Campanha que, à partida poderia ser o membro mais pobre dos modos de jogo mas acaba por se tornar robusto e uma mais-valia para o resultado final. Apesar de aqui ou ali se assemelhar a uma espécie de tutorial sobre as mecânicas do jogo, o Modo Campanha consegue criar um sentimento de evolução na história que deixa o jogador com vontade de permanecer agarrado aos comandos sempre mais um pouco.
A Campanha consiste assim numa conjunto de várias missões, ao longo das quais teremos diversos desafios a ultrapassar até ao objectivo final: a eliminação da ameaça dos Banished. Estas missões acabam por ser variadas o suficiente para que o Modo Campanha não caia na repetibilidade e assentam em mecânicas tão variadas como conquistar determinadas Bases, missões stealth onde os snipers são os principais intervenientes, ou simplesmente sobreviver a hordas de Brutes.
No decorrer das missões da Campanha, e à semelhança dos modos online temos de construir bases para o nosso exército. Essas instalações podem ir sendo melhoradas com o objectivo de proporcionar melhorias nas unidades militares, como nos próprios edifícios. Seleccionando um determinado edifício surge uma roda com as várias opções. Por exemplo, as Barracas permitem produzir soldados de infantaria mas também permitem fazer o upgrade das mesmas. Aliás, as próprias Barraca podem ser melhoradas.
Entretanto, e apesar do Modo Campanha seguir um guião principal, também existem variados objectivos paralelos que trazem um pouco mais emoção às missões, tanto pela diversidade que trazem como e principalmente pelo facto de obrigar o jogador a ponderar bem os seus passos e a ter de dividir as suas forças para os atingir.
Pode parecer estranho mas estes tipos de missões acaba por funcionar bem com a mecânica típica de RTS, como a criação de bases, recolha de matéria-prima e construção de exércitos.
E é precisamente neste processo de criação de exércitos que acaba por se incluir uma mais-valia de Halo Wars 2, em relação ao seu antecessor, e fiel à génese do género: criação de grupos heterogéneos de unidades.
Criação de grupos e atribuição de atalhos
A equipa da Creative Assembly conseguiu de uma forma extremamente inteligente desenvolver um mecanismo de criar grupos de unidades e atribuir-lhes atalhos de acesso rápido, simulando assim o que se passa no PC. Existem duas formas de o fazer, ambas simples e bastante práticas. A mais simples de todas, consiste em selecionar todas as unidades presentes na área que vemos no ecrã (com o RT) e atribuir-lhe o atalho (pressionando RB + seta direccional). A segunda consiste na criação de um grupo de unidades mais restrito, localizado numa área mais pequena, premindo para isso o RT e no botão A em simultâneo para as seleccionar e atribuir-lhes o atalho, segundo o mesmo processo do RB + tecla direccional.
Apesar de ser uma mais-valia extremamente útil para se jogar RTS na consola, acaba ainda por ser limitado, uma vez que num PC temos muito mais opções de teclas para criação de atalhos. No entanto, não se pode negar que funciona bastante bem na Xbox One. Para se selecionar de volta os grupos criados, basta pressionar em RB mais a tecla direcional respetiva.
Sinto, no entanto, saudades de criar grupos mistos mas que obedeçam a uma formação especifica. Algo que era possível fazer em Age of Empires, por exemplo.
Creative Assembly conseguiu de uma forma extremamente inteligente desenvolver um mecanismo de criar grupos de unidades e atribuir-lhes atalhos de acesso rápido, simulando assim o que se passa no PC.
Todo este processo acaba por se tornar extremamente simples de apreender e essa é também parte da magia de Halo Wars 2, transformando-o num jogo extremamente acessível. Mas atenção … ser fácil de apreender, não significa fácil de dominar. Para dominar Halo Wars 2 é crucial o conhecimento do Universo Halo e das diferentes unidades à disposição.
E realmente um dos pontos mais importantes se ser bem sucedido em Halo Wars 2 é precisamente o conhecimento que se possui do Universo Halo. Tendo em atenção que as unidades presentes no jogo (nomeadamente as da UNSC) são sobejamente conhecidas pelos seguidores da série, não deixa de fazer sentido que esse conhecimento seja uma mais valia, tanto nos Modos offline como online.
Modos de jogo online
E por falar em modos de jogo, deixem-me indicar-vos que Halo Wars 2 apresenta uma lista bastante robusta e diversificada de modos de jogo, tendo em atenção de que se trata de um RTS, claro. O Modo Campanha tal como anteriormente indicámos, quase que se pode caracterizar como sendo um sólido preâmbulo do que se segue… o online.
E modos online não faltam, cada qual mais ou menos bem identificado para os fãs de RTS. Por exemplo, temos o Modo Team AI que permite que até 3 jogadores unam esforços em missões cooperativas e lutem contra o computador. Rumble que funciona como uma mecânica de Strongholds enquanto por outro lado temos o Team Objective que consiste num modo Domination no qual ganha a equipa que conseguir adquirir mais Domination Points. Solo War (mano a mano até um aniquilar o outro) e Team War (equipas de 2 ou 3 jogadores lutando pela total aniquilação da equipa adversária) são os dois restantes modos de jogo mais entusiasmantes de Halo Wars 2 …
Para dominar Halo Wars 2 é crucial o conhecimento do Universo Halo e das diferentes unidades à disposição.
E por fim chegamos à grande novidade Halo Wars 2 … o Modo Blitz.
Modo Blitz
Mas, como poderá ser descrito o Modo Blitz?? Uma descrição possível poderia ser “casamento de Halo Wars com Hearthstonte“. O Modo Blitz consiste, portanto, num misto de estratégia em tempo real e respectivas unidades a evoluírem no ecrã em tempo real, com o conceito de decks e respectivas cartas.
A ideia é interessante. Cada jogador cria os seus decks, com um líder especifico, e dessa forma parte para o combate. Os desafios do Modo Blitz consistem em combates de curta duração, 1×1, 2×2 ou 3×3 na qual a ideia é atingir o máximo ponto de Domination possivel. O cenário apresenta-se como um labirinto de média dimensão no qual existem 3 bases espalhadas. Ganha-se pontos pelo domínio dessas bases o que faz com que cada jogador tenha de, muitas vezes, saber dividir o seu exército.
A novidade prende-se precisamente com a forma como criamos o nosso exército. Cada carta corresponde a uma unidade (ou poder especial) e é dessa forma que vamos lançando unidades na contenda. Escusado será dizer que um deck equilibrado pode ser uma mais-valia mas pela minha experiência pessoal, já me deparei com muitos jogadores que usam e abusam de determinados tipos de unidades. Tal como de um jogo Hearthstone, é tudo uma questão de saber criar os nossos decks com as cartas mais fortes e que melhor se complementem.
Se a escolha das cartas do deck é muito importante, não será menos crucial a capacidade de reacção e adaptação às situações e dessa forma, a escolha das cartas para os nossos decks é fundamental.
Tal como de um jogo Hearthstone, é tudo uma questão de saber criar os nossos decks com as cartas mais fortes e que melhor se complementem.
A escolha de cartas é determinante
Tal como referi inicialmente, o conhecimento do Universo Halo é extremamente importante e acaba por ser determinante na escolha das cartas os decks. Por exemplo, se queremos unidades fortes anti-aéreas podemos facilmente escolher a carta Vulture ou a carta Wolverine. No entanto, uma carta adequada para combate aos veículos será a carta dos Veteran Cyclops. Por fim, a infantaria não pode ser desprezada e para lidar com a infantaria inimiga convém sempre ter uma carta Sniper ou Marine à mão. Estes são exemplos das dezenas de cartas à disposição.
Resta mencionar que existem diversas formas de adquirir novas saquetas de cartas. Seja ao completar as missões do Modo Campanha, seja através da conquista dos challenges diários ou semanais, seja através da subida de ranking … E quanto mais cartas… maior a dificuldade (ou não de se criarem os melhores decks).
Existem diversos tipos de cartas possíveis de nos “calhar” nas saquetas. Temos as Cartas comuns menos valiosas e com menos poderes especiais, temos as cartas incomuns que são já mais poderosas. Depois temos as cartas raras (por exemplo, o poder Ark Defence que provoca o aparecimento de sentinelas que atacam até 12 inimigos em combate) e, por fim, as poderosíssimas cartas legendárias (como o ataque Condor Strike, que lança na luta a super unidade Condor).
Um aspecto curioso de Halo Wars 2 é o facto de que não há praticamente cartas repetidas.A Creative Assembly criou um sistema muito bem idealizado no qual as cartas repetidas servem para dar mais poder à carta igual que dispomos. Dessa forma, todas as cartas que venham nas saquetas são importantes e raramente ficamos com a ideia de que são desnecessárias.
Existe ainda a possibilidade de se adquirirem saquetas por compras ingame o que se pode traduzir numa potencial desvantagem para quem não esteja interessado em gastar mais umas coroas.
Contudo o modo Blitz acaba por padecer de um pequeno problema. As suas características acabam por o tornar numa batalha rápida e com pouca substancia. Por outras palavras os combates desde modo teimam em ser demasiado rápidos e algo repetitivos, especialmente pela ausência do conceito da criação de bases e respectiva gestão.
Apesar de Halo Wars 2 se encontrar num patamar muito elevado de qualidade para um RTS adaptado para as consolas, existem ainda alguns problemas que não conseguem ser totalmente resolvidos ou ultrapassados, como por exemplo, a selecção de uma única unidade no meio de uma grande força de ataque. Realmente, torna-se bastante complicado difícil seleccionar uma unidade especifica quando temos uma grande força militar no ecrã (mesmo com o zoom).
Este problema é em parte um resultado directo de outro, que se prende com a ocasional confusão visual que se gera num combate com múltiplas unidades de cada lado.
Gostaria de terminar mencionando que a banda sonora e efeitos sonoros de Halo Wars 2 é digna de uma das mais valiosas séries de jogos de sempre. Impecável, desde o primeiro menu do jogo até ao final de um combate.
Veredicto
Quem disse que os RTS não iriam vingar nas consolas, enganou-se redondamente, como podemos verificar com este Halo Wars 2. Apesar de algumas limitações óbvias a maior parte dos problemas da transição PC para consolas foram ultrapassados e Halo Wars 2 apresenta-se como um RTS robusto, sólido e sóbrio.
Halo Wars 2 é claramente um RTS muito direccionado para os fãs da série Halo, para os quais facilmente se torna um jogo Must Have.