Fire Emblem Fates é uma daquelas séries de jogos que se podem considerar uma espécie de estandarte da Nintendo. No passado, o Pplware teve a oportunidade de analisar Fire Emblem Fates e passado um ano eis que chega Shadows of Valentia (remake de Fire Emblem Gaiden, lançado na década de 90s).
Shadows of Valentia acaba de ser lançado e o Pplware já teve o prazer de se aventurar pelas terras de Valentia…
A ação de Shadows of Valentia passa-se num continente chamado de Valentia, que se encontra envolto em guerra. Valentia encontra-se dividido em duas facções, cada uma seguidora de um de dois deuses: Rigel a norte e seguidores do Deus Duma e Zofia a Sul e adoradores da Deusa Mila. A paz entre as duas facções durou por séculos até que o Norte invade o Sul e uma vez que são mais vocacionados para a guerra, rapidamente tomam controlo de todo o território.
A história arranca com um pequeno prólogo no qual podemos assistir a uma introdução que nos apresenta os dois personagens principais do jogo, Alm e Celica. No entanto, quando as tropas de Duma se acercam da aldeia onde se encontram, Celica é levada para um local sagrado e mais seguro, ficando no ar as juras de amizade eterna entre os dois.
7 anos mais tarde, a divisão do reino mantém-se e Alm, agora mais velho e mais corajoso, alista-se na resistência do Sul (grupo chamado de Deliverance). Com o desenrolar do jogo, Alm vai ganhando um papel cada vez mais importante na história, chegando a liderar a própria Resistência. Por sua vez, Celica (cuja importância na história é bem mais importante que aquela que podemos supor ao inicio), a partir de outro ponto do Mapa também inicia a sua demanda para salvar o Reino.
Estas duas histórias acabam por ser o centro do jogo pois, correspondem a dois caminhos distintos no mesmo jogo e que são jogados ao mesmo tempo. É interessante a forma como a Intelligent Systems criou esta divisão pois, desde o primeiro momento que fica no ar a sensação de que vai haver um reencontro.
Convém referir que Shadows of Valentia apresenta uma narrativa bastante densa e extensa. A história, repleta de twists e pontos de interesse enleia o jogador numa teia de enredos e contra-enredos interessantes e que criam o ambiente ideal para a acção. Esta divisão da história origina também uma dualidade na jogabilidade pois, na prática o jogador tem ao seu dispor duas equipas distintas, com trajectos diferentes, compostas por membros de diferentes classes e que vão lutar contra adversários também eles diversificados.
E por falar em classes, Shadows of Valentia apresenta-nos um leque variado de classes distintas dos membros do nosso grupo. Temos Warriors, Cavaliers, Archers, Mages, Cleric entre outros. Infelizmente não existe a possibilidade de se poder combinar dois ou mais personagens que se encontram adjacentes, num único ataque contra um ou mais inimigos. Poderia ser uma dinâmica interessante.
A evolução do jogo, tal como nos anteriores Fire Emblem Fates é feito com base em dois mapas distintos. O primeiro é um mapa estratégico e de alto nível no qual o jogador traça o caminho a percorrer, enquanto que o segundo é o mapa operacional onde o jogador dispõe as suas unidades e executa o ataque ou defesa.
Também semelhante é a evolução dos personagens que é feita com base nos pontos de experiência adquiridos no decorrer dos combates, em dois momentos distintos. No primeiro, o jogador ganha pontos quando atinge e/ou elimina um adversário, enquanto que no segundo, o jogador recebe pontos de experiência quando a batalha termina. Contudo, se o personagem morrer, não receberá esses pontos de final de combate.
O grau de dificuldade é parametrizável em Shadows of Valentia, existindo um modo mais facilitado (Casual Mode) no qual um nosso personagem que morra um combate se mantém disponível para os seguintes, e um outro mais exigente (Classic Mode, para jogadores experientes) no qual a morte de um personagem significa a sua falta até ao próximo capitulo.
Tal nível de exigência obriga os jogadores a terem um maior cuidado com a forma como enfrenta os inimigos, bem como obriga a uma maior e melhor gestão dos itens que cada party leva para combate.
Antes de entrar em combate o jogador pode escolher, não só o armamento como os itens que cada membro da party pode levar. É crucial este momento pois durante o combate é permitido ao jogador fazer trocas de itens entre os elementos da equipa. Contudo o inventário que levamos para batalha é extremamente limitado pois cada membro da nossa party pode levar apenas um item extra para combate.
Invariavelmente, acabamos por levar para combate armas (espadas, machados, escudos, arcos, ….) e durante o jogo é possivel melhorar os seus stats (apesar de não haver conceito de durabilidade). Para tal existem algumas oficinas onde podemos comprar upgrades para as armas.
O que nos leva aos combates propriamente ditos. O sistema de papel-pedra-tesoura persiste mas com influência menor. Acima de tudo o que importa mais em Shadow of Valentia é a união das diferentes classes dos membros da nossa party e as armas/poderes que equipam lhes dão vantagens (força, resistência, defesa, …) contra os inimigos.
E os combates propriamente ditos apresentam-nos animações muito boas que, contextualizadas de acordo com o ambiente onde nos encontramos e com o 3D, apesar de não ser imprescindível, acaba por se ajustar bastante bem em dar maior beleza às cenas de luta.
Por sua vez os inimigos que encontramos em Shadows of Valentia, não são demasiado exigentes (tirando os personagens chave que dão mais luta). Um dos mais chatos são as bruxas que têm o poder de se tele-portar para qualquer local do mapa o que obriga a uma estratégia mais cuidada quando as encontramos em combate, ou os Cantors que evocam seres com grande regularidade.
Contudo, acredito que os inimigos poderiam ser um pouco mais astutos e inteligentes. Ocorrem em demasiadas ocasiões, movimentações dos NPCs descuidadas e sem grande estratégia. Creio que com a experiência desta série, já se exigiria um pouco mais a este nivel.
Existem ainda diversas masmorras (e castelos) os quais o jogador pode ir explorando e, além de conhecer mais a riqueza de Valentia, também vai ganhando mais pontos de XP. Existem ainda diversas vilas onde o jogador entra (seja com Celica ou com Alm) e nos quais, além de recrutar mais alguns elementos para a Deliverance, ainda podemos fazer algumas missões paralelas. É também nestes locais todos que vamos conhecendo um pouco mais sobre o próprio reino de Valentia e sua história. Cada uma dessas localizações apresenta algumas acções especificas: falar com NPCs ou examinar o local à procura de itens.
Algo que me satisfez particularmente foi o facto de, enquanto vagueamos pelas masmorras, podermos ser atraídos para combate pelos NPCs, ou seja, o jogo deixa de ser passivo.
Em algumas surge ainda uma estátua da Deusa Milla que nos proporciona recuperação para os nossos heróis (mediante uma oferenda). É também junto da estátua da Deusa Milla que podemos fazer evoluir os membros da party, avançando assim para a classe seguinte, como por exemplo de Cavaleiro para Paladino. Existe ainda um outro poder de Milla que não vou divulgar aqui mas que certamente será uma grande ajuda para quem escolher o nível mais elevado de dificuldade.
Contudo as masmorras apresentam um problema, redundância. Cada vez que voltamos a uma masmorra os inimigos que nela encontramos são exactamente os mesmos (e mesmas classes) dos que originalmente encontrámos. Não existe um efeito surpresa e sendo as masmorras pontos opcionais na maior parte dos casos, entrar nelas será apenas para todos os que quiserem farmar pontos de XP.
O sistema de atribuição dos pontos de XP à nossa personagem após e durante os combates é, no entanto, algo controverso. A atribuição dos pontos de XP ganhos é feita pelo jogo sem que o jogador possa ter uma palavra a dizer acerca de quais os stats que preferimos. Como stats temos HP, Ataque, Velocidade, Defesa, Skill, Resistência, Sorte entre outros.
Um outro pormenor interessante é ainda o facto de existirem diálogos entre personagens que aumentam a afinidade entre eles e nos dão dicas úteis sobre cada um deles e sobre a sua participação na história de Shadows of Valentia. Mas mais importante ainda é o facto de possibilitar a criação de laços que os tornam mais fortes em combate.
Veredicto
Shadows of Valentia, apesar de não representar nenhuma revolução na série em termos de inovação, é um digno membro da série Fire Emblem Fates. Contém todos os ingredientes que dão valor à série, como enredo forte e envolvente, componente estratégica extremamente detalhada, evolução dos personagens e um sistema de combate exigente.
Todos os que gostam de Fire Emblem Fates anteriores irão gostar de Shadows of Valentia assim como todos os jogadores que apreciem títulos exigentes de estratégia.