Deathloop, é um jogo que temos vindo a acompanhar com particular interesse, e que foi desenvolvido pelos Arkane Studios (equipa responsável por Dishonored, por exemplo).
Desde o momento em que foi anunciado, que Deathloop adquiriu muitos motivos de interesse, muito em particular por apresentar uma narrativa moldada por um eterno loop que se reinventa a cada reinicio.
Deathloop já foi lançado e tivemos a oportunidade de o experimentar para a Playstation 5.
Desenvolvido pelos estúdios franceses Arkane Studios, Deathloop é um jogo de ação cuja mecânica principal se baseia no conceito tão em voga nos tempos que correm, dos ciclos intermináveis.
Seguindo as pisadas de jogos como Returnal ou Hades, Deathloop vive e renasce em sucessivos loops através dos quais o jogador avança na sua narrativa e completa os seus objetivos.
No entanto, Deathloop é muito mais que isso e, conforme podem ver nas linhas que se seguem, é um jogo feito à medida da Playstation 5.
Colt? Quem é Colt?
Em Deathloop, o jogo começa com o nosso personagem Colt, numa praia deserta da ilha de Blackreef, sem armas, ferramentas e memória do que se passou.
Acreditando que apanhou a pior piela da sua vida na noite anterior, o nosso personagem avança para uma espécie de tutorial onde nos são apresentados os principais fundamentos do jogo que nos indicam que, estamos presos num eterno loop a menos que o consigamos quebrar. E para quebrar o loop, vamos descobrir que temos de eliminar 7 indivíduos (chamados de Visionários) que habitam Blackreef.
No entanto, e já veremos melhor mais adiante, existe uma presença omnipresente em cada loop. Uma adversária à altura que quer impedir Colt de levar a sua adiante, Julliana.
Ao início reina a sensação de nos sentirmos perdidos, mas, aos poucos e poucos, com a sucessão de loops e de informações recolhidas, o cenário começa a montar-se e a verdadeira dimensão e beleza do jogo também.
Quanto mais avançamos na narrativa e vamos descobrindo as mecânicas manhosas de Deathloop, mais vamos querer ver e esse é um dos pontos fortes do jogo, o de manter um crescendo de interesse no jogador.
Sem tempo para estar em todo o lado
Mas as coisas não são assim tão simples e parte da beleza do jogo consiste em integrar os conceitos de tempo e espaço de uma forma bastante interessante.
Blackreef encontra-se dividida em 4 distritos distintas e o dia em 4 alturas distintas (manhã, almoço, tarde e noite) o que faz com que a cada momento, cada um dos 7 Visionários possa estar num distrito e noutra altura do dia, já possa estar noutro distrito.
Cabe ao jogador conseguir descortinar todas as pistas que vai descobrindo para descobrir a forma de eliminar os 7 visionários num único dia.
É claro que isto quer dizer obrigatoriamente que, os loops vão ser imensos e o voltar àquela praia será um lugar-comum para os jogadores.
Cada distrito, consoante a altura do dia apresenta também várias alterações que faz com que o jogador esteja sempre a descobrir dados novos, novas pistas e informações sobre Blackreef, a anomalia que ali ocorre e sobre o próprio Colt.
Há portas que estão abertas de manhã, mas, ao anoitecer, já se encontram fechadas. Há casas disponíveis ao almoço, mas ao final da tarde já não estão… as possibilidades são imensas e ao início é uma avalanche de eventos que esmaga o jogador.
De forma a tornar as coisas ainda mais interessantes, a Arkane Studios desenvolveu Deathloop simulando que o tempo continua a decorrer nos restantes distritos. Ou seja, se de manhã nos encontramos em Updaam, os eventos da manhã continuam a ocorrer nos outros 3 distritos.
É claro que, a cada momento podemos mudar para outro distrito, mas, o tempo não volta atrás. Explicando melhor, se estivermos de manhã em Updaam e quisermos mudar para Karl’s Bau, o tempo avança o que quer dizer que lá chegamos apenas de tarde.
Eu sei mais que tu
Há poucos jogos deste género que dão tanto relevo e importância à informação que Deathloop dá. Com efeito, cada distrito (em cada altura do dia) presenteia-nos com uma enorme quantidade e diversidade de informações (umas mais úteis que outras). Cartas, folhetos, quadros, painéis, mails, audiogramas,… existem centenas de dicas prontas a serem encontradas (e decifradas) pelo jogador.
E todas essas pistas ou informações que vamos recolhendo são de extrema importância, pois serão elas que nos permitirão descobrir a melhor forma (e altura) de eliminar os 7 Visionários.
Quanto mais informação obtivermos, melhor. Isto, pois os 8 visionários que temos de abater estão espalhados pelos vários distritos de Blackreef e em cada momento podem estar completamente separados. Isto dificulta a tarefa de os eliminar a todos antes que o dia termine. Dessa forma convém obtermos o máximo de informações sobre as suas rotinas para delinear as melhores estratégias.
Todas as visitas a Blackreef (todos os loops) são de extrema importância. Isto, pois em todos os ciclos ganhamos um pouco mais de conhecimento (que persiste entre loops) sobre a ilha, sobre Julianna, sobre Colt e, acima de tudo, sobre os Visionários.
Essa envolvência dos conceitos de tempo, espaço e aliados às dicas que vamos recolhendo fazem do jogo uma experiência extraordinariamente envolvente e um dos pontos fortes de Deathloop.
Armas são para combater
Existem vários tipos de armas disponíveis em Deathloop. Caçadeiras, pistolas, metralhadoras, carabinas ou snipers. Ah… e quase esquecia-me… catanas.
Consoante o seu grau de raridade, terão mais ou menos espaços para equipar aquilo a que a Arkane Studios denominou de Trinkets. Estes Trinkets, são peças que podem ser associadas a cada arma e que lhes dão mais valias ou melhorias. Por exemplo, podem aumentar a distância máxima em que fazem 100% de dano, ou podem reduzir o coice do disparo. Existem dezenas de Trinkets à nossa espera para serem encontrados.
Existem vários níveis de raridade de cada arma, sendo que as mais raras, podem equipar mais Trinkets, além de serem menos propensas a avariar.
Tal como as armas, também cada Trinket apresenta um nível de raridade, que faz com que seja mais ou menos poderoso.
No entanto, existem ainda Trinkets para ser associados ao próprio Colt (recuperação de energia mais rápida, por exemplo).
Com tamanha variedade, de armas e Trinkets a associar, Deathloop oferece aos jogadores uma tremenda liberdade no que respeita à melhor estratégia a empregar em cada loop. Se assim pretender, o jogador pode optar por uma postura mais aberta e avançar pelas ruas e espaços abertos de caçadeira na mão, ou então usar os telhados e interiores das casas com uma Tribunal com silenciador, para tentar passar despercebido.
Por outro lado, existem ainda os Slabs. Tratam-se de items que podem ser associados (dois por cada sessão) ao nosso personagem (Colt ou Julianna) e que nos fornecem poderes extremamente poderosos.
Cada Slab é único e diferente e, apesar de alguns serem mais úteis que outros, possibilitam abordagens distintas ao jogo. Por exemplo, uma delas permite dar um salto imediato que impede os inimigos de nos fixarem mira, enquanto outro nos proporciona invisibilidade ou no caso de Juliana, o Masquerade que permitir trocar de aparência com outro Eternalista.
No entanto, cada um também tem o seu catch. Por exemplo, o Masquerade. É um pouco fácil perceber onde está Julianna (ou Colt), pois os comportamentos dos Eternalistas são demasiado óbvios.
Por exemplo, o Revive é um Slab de extrema importância e que é gratuíto a Colt, permitindo-lhe renascer duas vezes em cada Loop.
Apesar de podermos adquirir Slabs em recompensas de nivel, a melhor forma é através da eliminação dos Visionários. Cada um tem o seu próprio Slab que deixa cair após a sua morte. O de Aleksis será talvez um dos mais “apetitosos”, permitindo tirar partido da telecinese e poder mover objetos e inimigos. Ou o Aether de Egor que permite invisibilidade.
Uma ferramenta extremamente útil em Deathloop é o Hackamajig. Trata-se de um gadget electrónico que nos permite hackear obstáculos electrónicos, como torres automáticas de defesa, alarmes, sensores de movimento, fechos de portas ou janelas… e virá-los contra os Eternalistas e contra Julianna.
Onde estás tu, Julianna?
Tal como referi inicialmente, existe uma adversária omnipresente em Deathloop: Julianna. Ao longo de cada loop, Julianna interage com Colt (por via dos altifalantes do DualSense) e vai lançando insinuações e desafios ao nosso personagem, tentando desencorajar e iludir na nossa missão de quebrar o ciclo.
Mas quem é Julianna? Julianna acaba por ser a Líder visivel da organização que está a explorar a estranha anomalia de Blackreef. O seu principal objetivo é o de evitar a todo o custo que Colt consiga quebrar o loop e dessa forma, ocasionalmente entra-nos nos nossos loops (no máximo uma vez por loop).
O interessante destas incursões de Julianna é feita por um jogador humano que tem apenas como objetivo a de, nos dar caça.
Estas incursões de Julianna, correspondem à vertente multiplayer de Deathloop e encaixam na perfeição na narrativa e na jogabilidade, tal como uma luva na mão.
Munidas com as suas habilidades, armas, trinkets e Slabs próprios, Julianna é uma adversária à altura que numa primeira instância parece ter certa vantagem, uma vez que conta com os restantes habitantes de Blackreef como apoio.
No entanto, parte da beleza do jogo passa também por aí, ou seja, pelo jogador que controla Colt conseguir usar a sua astúcia e os Slabs ao seu dispor para inverter a tendência.
Já tenho Residium
Residium é uma substância rara e que decorre da estranha anomalia que envolve Blackreef. Pelos cenários encontramos muitos objetos embebidos em Residium e que podermos (devemos) recolher.
Com efeito, o Residium é usado para embeber as nossas próprias armas e Trinkets de forma a torná-los permanentes. A cada loop (que surge com a morte ou com o final do dia) perdemos as armas e Trinkets descobertos e se os embebermos em Residium, podemos mantê-los entre Loops de forma permanente.
No entanto, é um bem raro que tem de ser bem usado. A sua gestão terá de ser bem equilibrada, pois pode ser mais importante salvar o Slab que nos concede o poder da invisibilidade, que uma arma. Ou não…
Veredicto:
Com Deathloop, a Arkane Studios obteve um jogo extraordinariamente inteligente dando um excelente uso do conceito de loop e linha espaço-temporal que, embebido numa narrrativa envolvente e uma jogabilidade altamente viciante, o torna como um sério candidato a jogo do ano.
É um jogo incontornável e imprescindível.