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Análise: BlackBerry KEYone Black Edition, terá argumentos para remar contra a maré?

A BlackBerry foi, na década passada, um dos pesos pesados no mercado de telemóveis e smartphones. Tal como aconteceu com a Nokia, a sua popularidade foi decrescendo e acabou por vender a utilização da sua marca à empresa chinesa TCL.

A TCL, que abrange na sua coletânea marcas como a Palm e a Alcatel, desenvolveu e lançou o BlackBerry KEYone, equipamento que mantém o DNA canadiano da BlackBerry e que foi intensivamente analisado aqui no Pplware.


Características Gerais

A presença de teclado físico QWERTY sempre foi a característica diferenciadora de quase todos os dispositivos da BlackBerry e este KEYone não é exceção, destacando-se de toda a oferta no segmento Android devido ao seu teclado característico. Ao passo que boa parte dos utilizadores não vê no teclado físico grande utilidade ou vantagem, para os restantes esse é o grande trunfo do BlackBerry KEYone e que será um fator fulcral para a sua decisão de o adquirir.

Apesar de não ser construído ou desenvolvido pela BlackBerry, o KEYone apresenta uma estrutura sólida e um design tipicamente BlackBerry, concebido para se adaptar ao dia-a-dia dos utilizadores mais exigentes. Nesse quesito, a TCL honra todos os valores e princípios que associamos desde sempre aos dispositivos da BlackBerry.

O famoso e adorado BlackBerry OS já não marca presença nos últimos equipamentos da marca. Atualmente, todos os smartphones BlackBerry são equipados com uma versão do Android trabalhada pela própria BlackBerry, tendo desta forma os parâmetros de segurança e privacidade num nível bastante elevado. Para além do sistema operativo, os serviços, aplicações e software da BlackBerry são desenvolvidos e mantidos pela própria.

Sendo um BlackBerry, tem especial aptidão para a produtividade e utilização intensiva, num perfil mais empresarial e corporativo. Desta forma, a bateria de longa duração – a maior de sempre a equipar um BlackBerry – que incorpora e o aclamado BlackBerry Hub garantem uma produtividade difícil de alcançar em equipamentos concorrentes.

Ao nível fotográfico, categoria em que a BlackBerry nunca se destacou positivamente, o KEYone conta com uma câmara de 12MP equipada com o sensor que equipou a primeira geração do Google Pixel.

Na caixa:

Especificações completas

Ecrã
    IPS LCD 4,5″ (1080 x 1620 píxeis), densidade ~ 434 ppi
Processador
    Snapdragon 625, CPU Octa-core 2.0 GHz Cortex-A53
    Adreno 506
Rede
    GSM/HSPA/LTE (com suporte da banda 20)
Sistema operativo
    Android 7.1 com interface BlackBerry Launcher
Memória
    4 + 64 GB (modelo em análise) ou 3 + 32 GB
Câmaras
    Principal (Traseira): 12 MP (f/2.0, 1.55μm, PDAF), dual tone flash LED
    Secundária (Frontal): 8 MP f/2.2
Dimensão e peso
    149,1 x 72,4 x 9,4 mm , 180 g
Som
    Jack 3,5mm
Conectividade
    Wi-Fi 802.11 a/b/g/n/ac, dual-band, WiFi Direct, hotspot
    GPS com A-GPS, GLONASS e BDS2
    Bluetooth 4.2 LE
    USB-C
Outros
    Sensores: impressões digitais, acelerómetro, giroscópio, proximidade, bússola, barómetro
Bateria
    Li-Po 3505 mAh não removível

Design e Construção

Sendo um equipamento BlackBerry e destinado ao mercado corporativo, é de esperar que o BlackBerry KEYone seja diferente da generalidade dos equipamentos que encontramos à venda no mercado, o que acaba por se verificar notoriamente.

Em termos de propósito e conceito, o BlackBerry KEYone não joga na mesma liga de equipamentos Android como os topos de gama das outras marcas. Ao passo que modelos como o Samsung Galaxy S9, Huawei P20 e OnePlus 6 são concebidos para oferecer uma experiência padrão de excelência em quase todos os parâmetros, o BlackBerry KEYone foge deste objetivo e foca-se em oferecer características únicas para um nicho de mercado.

A unidade em análise do BlackBerry KEYone é uma Black Edition cujas mudanças estéticas, comparativamente à versão normal, são a diferença na coloração do corpo em alumínio e do logótipo que marca presença na traseira. Passam assim de prateado para preto, tendo um aspeto mais discreto e uniforme com o resto do equipamento.

O design do BlackBerry KEYone distingue-se bastante da restante oferta presente no mercado. Ao passo que as outras fabricantes tentam embutir engenhosamente o auscultador, sensores e câmara frontal numa monocelha de modo a ficar o mais discreto possível, o BlackBerry tem estes elementos bem distintos na sua face frontal, para além do LED de notificações, do teclado físico e o ecrã protegido com Corning Gorilla Glass 4.

O âmago do seu design segue a filosofia em torno da conceção de todo o smartphone e prende-se na produtividade e num caráter funcional para ser uma verdadeira ferramenta de trabalho para o utilizador. A sua construção sólida aparenta proporcionar uma durabilidade acima da média. Não obstante, o BlackBerry KEYone é um dispositivo com presença, destacando-se facilmente e não pelos piores motivos.

A face traseira é maioritariamente revestida por um material suave, idêntico à borracha, que concede bastante aderência ao terminal, apesar de apresentar um desgaste superior relativamente ao metal, vidro e policarbonato. É dos equipamentos mais seguros de segurar e usar, mesmo com o seu peso de 180 gramas. Para isto contribuem o material usado para preencher a traseira e as laterais arredondadas e bastante ergonómicas. Na face traseira contamos ainda com a câmara, ligeiramente saliente, e o duplo flash LED.

Na lateral esquerda está presente o botão de energia, que para a grande parte dos utilizadores estará num sítio mal conseguido.

Na lateral direita contamos com botões de volume e a tecla de conveniência. A tecla de conveniência permite definir até três atalhos para quando a premir. Estes atalhos poderão ser ajustáveis consoante o ambiente, tendo sugestões para escritório, casa e carro.

Na base temos o altifalante Mono que proporciona som bem audível e nítido, a porta USB-C e o microfone. Na face superior localiza-se apenas a entrada jack 3,5mm e o microfone para cancelamento de ruído.

Teclado físico

O aspeto exterior que mais salta à vista no BlackBerry KEYone é, de longe, o seu teclado físico. Composto por trinta e cinco teclas, é bastante prazeroso e confortável de usar. Os primeiros dias com o equipamento, especialmente para quem provêm de um smartphone com teclado virtual, serão dedicados a percorrer a curva de aprendizagem necessária para dominar a escrita e utilização deste teclado.

A escrita no teclado físico do BlackBerry KEYone não é tão rápida quanto é num bom teclado virtual, mas é bastante mais precisa e intuitiva. Para além disso, o facto de não ocupar espaço no ecrã, permite que o utilizador tenha a totalidade das 4,5″ para visualizar e manipular o documento que escreve, resultando numa experiência de topo na escrita e redação de documentos, e-mail, etc.

Desde a adoção dos teclados virtuais que deixou de ser possível escrever sem olhar para o dispositivo. Com o BlackBerry KEYone, e apesar do seu teclado QWERTY de 35 teclas, é possível escrever confortavelmente sem estar a olhar para o equipamento.

Um pormenor delicioso do BlackBerry KEYone é a presença do sensor de impressões digitais na tecla de espaço. Funciona com a rapidez e precisão típicas deste tipo de sensores.

Os utilizadores apologistas dos teclados virtuais, naturalmente, descartarão o BlackBerry KEYone das suas opções. Ora, contrastando com o conceito do smartphone, é também possível aplicar um teclado virtual ao BlackBerry KEYone e usar a funcionalidade de “flow” sobre o próprio teclado físico, não sendo uma funcionalidade muito certeira na previsão das palavras. Estas duas funcionalidades obviamente não serão muito úteis mas é bom ver que a BlackBerry recheou o seu KEYone com várias funcionalidades para se adequar ao perfil do utilizador. Contudo, os gestos possíveis de executar sobre o teclado para selecionar palavras sugeridas e apagar texto tornam a escrita mais rápida e fluída.

A funcionalidade de touchpad presente no teclado é igualmente bastante útil e preciosa. Na utilização do equipamento com uma só mão, a tendência é para que o polegar tenha preferência em navegar na zona inferior do terminal. Ora, com a presença do teclado físico, isto podia ser um verdadeiro impedimento na utilização geral do BlackBerry KEYone. Contudo, a presença da funcionalidade de touchpad permite que o utilizador navegue por menus, aplicações e documentos, deslizando sobre o teclado.

Os atalhos concedem um caráter ainda mais produtivo ao BlackBerry KEYone. Por norma, o utilizador tem de navegar pelos menus do ecrã tátil e clicar sobre o ícone da aplicação que pretende usar. No BlackBerry Keyone, a presença dos atalhos – cinquenta e dois no total, dois para cada letra do teclado – permitem abrir e transacionar entre aplicações num ápice. No menu inicial do Android, basta selecionar uma letra do teclado com um clique curto ou prolongado, que está associada a uma aplicação e esta abrir-se-á.

Interface e desempenho

A interface do Android 7.1 presente no BlackBerry KEYone foi desenvolvida pela própria BlackBerry e esteticamente é bastante idêntica ao “Android puro” da Google. A principal diferença está nas componentes de segurança que a BlackBerry embutiu no sistema operativo e também nas ferramentas de produtividade. Apesar de não estar a executar o mais recente Android 8, o BlackBerry KEYone tem em dia as últimas atualizações de segurança da Google.

Ao nível de segurança, e para além das tecnologias e soluções que a BlackBerry incorpora no âmago do próprio sistema operativo do dispositivo, destaca-se a aplicação DTEK que analisa todos os parâmetros do smartphone e informa o utilizador de dicas e sugestões de segurança para tornar o equipamento mais seguro. Um dos pontos mais ativos desta aplicação é no controlo das permissões e ações das aplicações no dispositivo. Se uma certa aplicação estiver a aceder, de forma suspeita, a algum componente do dispositivo – localização, câmara, microfone, chamadas, SMS -, o acesso será barrado e o utilizador recebe uma notificação.

O cacifo é uma ferramenta que, tal como o nome indica, guarda ficheiros e documentos mais sensíveis numa localização específica do smartphone. Deste modo, estes só poderão ser acedidos com um PIN ou com a impressão digital do utilizador. Uma caraterística interessante desta ferramenta é a capacidade de tirar “fotografias secretas”. Para isto, basta que o utilizador use a tecla de espaço para as capturar. Deste modo, elas serão armazenadas no cacifo e não serão gravadas em nenhum armazenamento na cloud.

O Redactor, Password Keeper e Privacy Shadde complementam as ferramentas de segurança à disposição do utilizador. O seu funcionamento é exemplar, cumprindo com o propósito de esconder conteúdo de print screens, guardar palavras-passe e esconder porções de ecrã de modo a evitar olhares de terceiros, respetivamente.

O famoso e aclamado Hub e o Separador de Produtividade estão igualmente presentes. Ao passo que o Hub centraliza todas as mensagens numa única plataforma, o Separador de Produtividade consiste numa aba constantemente presente na lateral do ecrã onde o utilizador poderá consultar os próximos eventos do calendário, últimas entradas do Hub, lista de tarefas e registo de chamadas. O Separador de Produtividade é configurável e assim torna-se bastante mais útil. Por outro lado, e com a evolução dos sistemas operativos atuais, o Hub começou a perder algum do seu sentido e utilidade. Mesmo assim, demonstra ser uma ferramenta poderosa, especialmente na sincronização de e-mail em que era mais rápido que a aplicação do Gmail e Outlook, sem prejuízo considerável na vida da bateria.

No que toca ao desempenho, o BlackBerry KEYone é dececionante. O Qualcomm Snapdragon 625 e os 4GB de RAM presentes nesta edição do BlackBerry KEYone concedem uma performance satisfatória mas completamente desajustada para a gama e faixa de preço deste equipamento.

Ao passo que na execução de grande parte das aplicações a experiência de utilização está dentro do esperado, com um funcionamento fluído, em casos mais específicos isto já não se verifica. As transições entre aplicações e a reabertura de aplicações em segundo plano são o ponto fraco da performance do BlackBerry KEYone. À medida que o dispositivo é utilizado de forma mais intensa, este problema é ainda mais notório, chegando ao ponto em que é necessário fechar todas as aplicações abertas para voltarmos a ter um funcionamento que não seja intragável.

Em aplicações mais exigentes, nas quais surpreendentemente se enquadra o Instagram que teve vários bloqueios ao longo do período de análise, a performance já não é tão fluída quanto seria desejável e nos jogos a taxa de frequência de atualização dos frames não é uma referência.

Para comparação, efetuámos testes de benchmark que revelam a capacidade ao nível de processamento e gráfico do BlackBerry KEYone, que o colocam ao nível do Xiaomi Redmi S2, com preço a rondar os 130€.

Antutu: 79353 pontos.

Geekbench 4: Single-Core 865 pontos; Multi-Core 3427 pontos.

Multimédia: Ecrã e Som

A componente multimédia não é uma das prioridades no conceito de smartphone do BlackBerry KEYone. O teclado físico ocupa bastante espaço que podia estar disponibilizado para o ecrã e o mercado corporativo não é propriamente um mercado consumidor de jogos, filmes e derivados.

Contudo, um bom ecrã é um elemento essencial e importante num smartphone, independentemente do seu público alvo e do seu conceito. E nesse quesito, o BlackBerry KEYone tem um ecrã razoável, LCD IPS de 4,5 polegadas e 1080 x 1620 pixeis de resolução, numa proporção 3:2.

Apresenta bom contraste e nitidez, com cores equilibradas e um ângulo de visão alargado devido à presença da tecnologia IPS. Não obstante, o vidro exterior é algo refletivo e isso acaba por influenciar os ângulos de visão, especialmente em ambientes exteriores, mais iluminados. A resolução é mais do que suficiente para o tamanho do ecrã.

O calcanhar de Aquiles do ecrã do BlackBerry KEYone é o brilho. Em ambientes diretamente iluminados por luz solar, a visualização não é a melhor devido ao brilho que o ecrã consegue alcançar. A somar a isto, o entrosamento entre sensor de luminosidade + ecrã + software não é o melhor. Ao mudarmos subitamente de ambiente, o ecrã tem uma latência considerável em ajustar o seu brilho às novas condições de luminosidade, algo anormal nos equipamentos atuais.

Quanto ao som, e como foi dito acima, o KEYone conta com um altifalante Mono presente na base do smartphone, com um alcance de volume acima da média e um som bastante nítido. Apesar de não contar com reprodução Stereo como alguns topos de gama atuais, o BlackBerry KEYone não desaponta neste parâmetro.

Câmara: Fotografia e Vídeo

Se há parâmetro onde os BlackBerry nunca foram a referência do segmento, sem dúvida que esse parâmetro é a câmara fotográfica.

A TCL embutiu no BlackBerry KEYone o mesmo sensor presente na primeira geração do Google Pixel, equipamento que se tornou famoso pela sua qualidade fotográfica. A câmara traseira é composta por um sensor de 12MP, pixeis com 1.55µm e abertura f/2.0, ao passo que a câmara frontal é de 8MP e tem uma abertura de F/2.2 e amplitude de lente de 84º.

Os resultados surpreendem pela positiva, especialmente tendo em conta o histórico da marca. As fotografias em condições de boa luminosidade são muito boas, apesar de que o contraste entre elementos podia ser melhor. De qualquer forma, a captação de cores é muito equilibrada e o HRD automático atua na forma correta. Em condições noturnas e de pouca luz, os apontados quanto ao contraste são mais evidentes o que acaba por afetar também a nitidez do resultado final. Mesmo assim, o BlackBerry KEYone apresenta resultados convincentes na sua câmara.

Bateria: Autonomia e Carregamento

O BlackBerry KEYone tem integrada uma bateria de 3505mAh, não removível, com Qualcomm Quick Charge 3.0 que carrega totalmente em cerca de 115 minutos. Durante os primeiros 30 minutos carrega 35% e é possível alcançar os 70% com uma hora de carregamento. São valores dentro da média para equipamentos com Quick Charge 3.0 e uma bateria desta capacidade.

No que toca à autonomia, o BlackBerry é dos melhores terminais do mercado. É possível, sem muita dificuldade, alcançar os dois dias de autonomia num perfil de utilização moderado. Para além disso, conta com uma ferramenta nativa de controlo do nível de carga da bateria.

Efetuámos o teste de autonomia da PC Mark, com o brilho regulado a 50%, e o BlackBerry KEYone consumiu 60% da bateria (80% aos 20%) em 9 horas e 21 minutos.

Veredicto

Esta nova onda de equipamentos BlackBerry KEYone sob alçada da TCL mostra que estão no mercado para honrar a mítica fama e prestígio da marca canadiana.

Obviamente, o BlackBerry KEYone não será um equipamento destinado ao consumidor comum, que nesta faixa de preço consegue encontrar soluções mais versáteis e poderosas. Não obstante, para o nicho de mercado a que se destina o BlackBerry KEYone, sem dúvida é uma das melhores opções da atualidade.

O teclado físico é muito bom e, apesar de requerer habituação, acaba por ser muito cómodo e eficiente. Utilizadores que escrevam bastante e durante longos períodos de tempo no smartphone darão valor ao teclado físico do KEYone. Os gestos e atalhos que se podem acoplar ao teclado dão ainda mais trunfos a este componente.

A qualidade de construção é exemplar e o design, apesar de subjetivo, está muito interessante e distinto para a categoria onde se insere. É um terminal sólido e com uma boa escolha de materiais que certamente estará ao nível da utilização mais exigente a que será sujeito.

O desempenho é, indubitavelmente, o parâmetro mais comprometedor do BlackBerry KEYone. Apesar de não ser medíocre, pura e simplesmente é inadmissível para a faixa de preço onde o equipamento se enquadra.

O ecrã e câmaras são competentes e a autonomia é fator de destaque. Certamente se deverá à escolha do processador que, apesar de não ser poderoso, é muito eficiente no que toca ao consumo energético.

O preço de venda recomendado do BlackBerry KEYone está fixado nos 629,99€. É um preço algo exorbitante para o desempenho que oferece e algumas das suas especificações, no entanto em locais como a Amazon.es está disponível a pouco mais de metade desse valor.

O Pplware agradece à TCL Communication a cedência do BlackBerry KEYone para análise.

BlackBerry KEYone

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