Em diversos artigos já publicados aqui no Pplware, acerca do Android, foram várias as vezes em que os nossos leitores, nos comentários, manifestam uma má opinião acerca de desbloquear o acesso “root” neste SO.
Existe um mito criado em torno deste assunto que leva a que os mais cautelosos (ou menos conhecedores) achem que por desbloquear esse acesso algo de muito mau e assutador vai acontecer ao smartphone.
Mas… porquê fazê-lo? Quais são as vantagens? E desvantagens, há?
O Android, como um SO baseado em sistemas Unix, ao ser comercializado para os terminais é adaptado, pelo seu fabricante ou pelas operadoras, e é-lhe bloqueado o acesso “root” devido questões de segurança e marketing!
Sim, marketing… O utilizador, não podendo evoluir e melhorar da forma que pretende o SO “open-source” que usa, para cumprir “o contrato de permanência” (conhecido como garantia) fica preso normalmente a uma versão de software desactualizada, de forma a ser incentivado depois à compra de um novo smartphone de forma a ter acesso a uma nova versão do Android. Como todos sabem, o tempo de suporte fornecido pelo fabricante ou provedor de serviços a determinado modelo é bastante curto, abrangendo poucas versões.
Mas afinal… a questão do acesso “root” não era segurança?
Talvez, mas não é definitivamente a principal, e ver-se-á porquê mais à frente.
Todos os motivos que levam a desbloquear o acesso “root” estão associados à melhoria da experiência e usabilidade do Android e do smartphone inerente, permitindo fazer uma enorme quantidade de tarefas adicionais.
O que pode ser feito com acesso “root”?
Simplesmente, aceder a ficheiros/pastas e serviços que requerem permissões de super-utilizador. É tal e qual como usar o comando $sudo
no Ubuntu.
Isso traduz-se na instalação de aplicações que permitem modificar a ROM, actualizando-a e melhorando as suas características. Por exemplo, a comunidade CyanogenMod tem disponível um vasta quantidade de ROMs adaptadas directamente a cerca de 25 diferentes modelos, que não só melhoram as funcionalidades mas também o desempenho do smartphone, e tudo isso… gratuitamente! Existem também outras comunidades como xda-developers e modaco.
Mas não é só. Existem imensas aplicações no Android Market que requerem acesso “root”.
Alguns exemplos:
- AdFree – remove grande parte da publicidade vista em todo o sistema Android, quer no browser quer em qualquer outra aplicação. O método consiste na anulação de pedidos feitos a hosts de publicidade conhecidos – FREE
- Autostarts – permite controlar a acção de cada evento ocorrido no sistema de forma a impedir o início automático de determinadas aplicações, desencadeado por eventos, que nos pareçam desnecessárias. O objectivo é aumentar o desempenho e rapidez do arranque e do sistema em geral – €0.69
- Barnacle Wifi Theter – permite usar o Android como ponto de acesso Wifi, servindo-se de dados da rede móvel. É uma funcionalidade suportada, no geral, pela versão 2.2 (Froyo) do Android. Como vantagem perante a funcionalidade do Android, tem o controlo de tráfego – FREE
- MetaMorph – permite modificar o tema, ícones e transições em todo o Android recorrendo a alterações da framework – FREE
- Root Explorer – é um gestor de ficheiros que permite aceder a todo o sistema de ficheiros. Permite editar qualquer ficheiro com segurança, faz backup automático aquando da gravação de uma alteração, visualiza bases de dados SQLite, executa scripts, faz pesquisas de ficheiros, edita permissões, etc – £2.50 ~€2.92
- SetCPU – é uma ferramenta capaz de alterar as definições do processador, como frequência máxima (em full load) e mínima (em idle), definir perfis de utilização, ver toda a informação do sistema, etc – $1.99 ~ €1.44
- ShootMe – permite fazer capturas de ecrã sem recurso a um computador e à ferramenta do SDK. Para tal, é necessário emitir um som ou agitar o smartphone e o screenshot é imediatamente guardado no cartão SD, em .png ou .jpg. Em smartphones de melhor desempenho é também possível fazer gravação de vídeo de tudo o que é visualizado no ecrã – FREE
- Terminal Emulator – é uma simples linha de comandos de Linux, capaz de tudo – FREE
Como desbloquear o acesso “root”?
Existem diferentes métodos de o fazer. Na semana passada o Pedro Pinto deu a conhecer o Z4Root que é um método bastante simples para usar nos modelos em que funciona. Alternativamente, o método mais comum é com recurso ao ADB do Android SDK de modo a enviar (ou “flashar”) um ficheiro modificado que vai substituir o boot do Android, desbloqueando-lhe assim esse acesso. Cada modelo tem um boot diferente.
Se o seu smartphone Android é um dos modelos suportados pela CyanogenMod, então recomendo que siga os procedimentos aí publicados. Caso contrário, certamente que as outras comunidades que mencionei terão disponível procedimentos e os ficheiros para o fazer.
O Google é nosso amigo!
E segurança? Há controlo sobre o que cada aplicação acede?
Sim, há. Por norma, ao “flashar” uma imagem boot.img, é automaticamente instalada uma aplicação de controle de acesso “root”, a aplicação Superuser. Esta aplicação é chamada e notifica o utilizador sempre que é requisitado um acesso desse tipo de forma a controlá-lo. É possível permiti-lo, rejeitá-lo e memorizar a opção que se tomou de forma a que seja aplicada na próxima ocorrência.
Dado este controlo, desde que as aplicações usadas tenham relativa popularidade e bom feedback, não se justificam preocupações quanto à segurança, até porque são aplicações legais e existentes no Android Market. Visto de outra forma, este tipo de permissões é do mesmo género daquele que é aceite aquando da instalação de qualquer aplicação, mesmo que de fora do Android Market.
O utilizador deve ter sempre um bom-senso relativamente às permissões que aceita para determinada aplicação, nomeadamente se for proveniente de outra fonte que não o Android Market. Como exemplo, se o utilizador instalar uma aplicação para ler os RSS do Pplware, será de desconfiar caso essa aplicação exija permissão para gravar áudio.
Há desvantagens? Posso perder a garantia?
Caso exista uma avaria no smartphone, dependendo do tipo de avaria, podem surgir problemas.
Se a avaria não colocar em causa o arranque do smartphone (como bateria danificada, auscultador ou algum botão avariado, etc) será possível restaurar a interdição de acesso “root” e reverter o desbloqueio antes de enviar o dispositivo para a garantia. Se houver alguma actualização do respectivo modelo disponível para download (no fabricante ou no provedor de serviços), basta instalá-la e tudo será reposto para o estado original. Por outro lado, se nunca tiver sido lançada uma actualização “instalável”, será necessário recorrer à comunidade onde haverá com certeza uma solução.
Se a avaria for crítica e não for possível iniciar o smartphone, então haverá apenas uma remota hipótese de a garantia ficar invalidada pois caso o fabricante consiga reparar o aparelho sem comprometer a informação, então, se quiser, poderá “vasculhar” e detectar que a interdição foi desbloqueada.
Note-se que há imensos relatos de terminais que foram para a garantia, com acesso “root” desbloqueado, e não houve qualquer problema causado por esse desbloqueio que invalidasse a garantia.
Resumindo, coloca-se a questão: compensa colocar a garantia em risco de modo a beneficiar das vantagens do acesso “root”? Eu diria que sim, sem dúvida, principalmente se o smartphone em questão já não estiver a receber actualizações.
O Pplware e o autor deste artigo, Hugo Cura, não se responsabilizam por
quaisquer danos causados por instruções, inerentes ao artigo ou aos
comentários, que possam resultar na perda da garantia do equipamento.