Não só do estrangeiro surgem novidades importantes e que podem fazer uma grande diferença em vários contextos. Agora, um grupo de investigadores da Universidade de Coimbra (UC) desenvolveu frigoríficos e arcas congeladoras destinados a zonas onde não existe acesso a eletricidade.
Os protótipos são alimentados a energia solar, através de painéis fotovoltaicos.
Ao longo dos últimos dois anos, uma equipa de investigadores da UC desenvolveu um conjunto de protótipos de baixo custo para refrigeração, de modo a serem utilizados em zonas onde não existe acesso a eletricidade. Estes foram desenvolvidos no âmbito do projeto “Energy-Efficient Off-Grid Refrigerators for Africa Rural Electrification”.
Após ter sido selecionado num concurso internacional, o projeto foi liderado por investigadores do Instituto de Sistemas e Robótica (ISR) da UC, e financiado pela Efficiency for Access Coalition (UK Aid, Governo do Reino Unido) e pela a IKEA Foundation.
Além dos frigoríficos e das arcas congeladoras, a equipa de investigadores está também a desenvolver um controlador inteligente que monitoriza e controla as temperaturas dos equipamentos, bem como a velocidade variável do compressor e os fluxos energéticos consumidos pelo sistema e gerados pelos painéis solares. Desta forma, garante que a temperatura interna é estável a ponto de consumir a menor quantidade de energia possível.
Este projeto desenvolvido pela UC pretende ser implementado na África Subsariana:
Nesta parte do continente africano, cerca de 600 milhões de pessoas não têm acesso a eletricidade, o que impacta diretamente na qualidade de vida dessas pessoas. Os sistemas de refrigeração são essenciais para minimizar os desperdícios de alimentos e para melhorar a nutrição das populações, enquanto a refrigeração de vacinas garante a imunização necessária das comunidades, especialmente nas zonas rurais.
Explicou Evandro Garcia, investigador principal do projeto e aluno de doutoramento, orientado pelo professor catedrático Aníbal Traça de Almeida.
Mais do que isso, revelou que os protótipos de frigoríficos e arcas congeladoras terão impactos “muito significativos a nível económico, social e ambiental, especialmente em países em vias de desenvolvimento, onde o nível de desperdício de alimentos é elevado, os rendimentos são baixos, os serviços de saúde têm uma cobertura insuficiente e as condições de vida são bastante precárias”.
Portanto, “em zonas onde não há acesso a eletricidade, os sistemas de refrigeração eficientes e de baixo custo permitem melhorias significativas das condições de vida das famílias. Além do acesso a vacinas, os protótipos poderão garantir “alimentos em mais quantidade e em melhores condições de conservação”.
Painéis fotovoltaicos são parte da solução adotada no projeto da equipa da UC
Conforme já vimos várias vezes, os painéis fotovoltaicos são uma solução eficiente. Neste caso, a abundância de radiação solar “faz com que o uso de painéis fotovoltaicos seja o melhor caminho para a geração de eletricidade”.
A utilização de energia solar em frigoríficos adaptados para estas regiões permitiu que a equipa integrasse módulos para acumulação de energia sob forma de frio ao sistema. Estes módulos foram projetados e fabricados através de sistemas de impressão 3D e funcionam como “baterias térmicas.
Partilhou Evandro.
Segundo o investigador, durante o dia, o protótipo utiliza a energia gerada pelo sistema solar fotovoltaico para refrigeração do seu interior e para acumulação de frio nos módulos. Por sua vez, durante a noite, a temperatura é mantida devido à “libertação do frio acumulado nos módulos, e o ciclo reinicia-se diariamente”.
Apesar de os protótipos terem sido criados com o intuito de serem implementados em países sem acesso à eletricidade, a solução poderá ser aplicada em países industrializados, onde isto não é um problema.
Afinal, “frigoríficos com módulos de acumulação de frio podem ser usados em cidades, durante as horas em que a energia da rede elétrica é mais cara, passando a refrigerar os alimentados através da libertação do frio acumulado nos referidos módulos de acumulação, proporcionando assim uma economia significativa às famílias, mas possibilitando também uma otimização do planeamento de energia na rede elétrica”.