Qualquer que seja a posição relativamente às alterações climáticas, já todos ouvimos que é crucial “evitar que as temperaturas excedam os 1,5 graus Celsius, em comparação com os níveis pré-industriais”. Apesar deste objetivo ambicioso, um estudo indica que o mundo pode ter ultrapassado esse limite há anos…
Ao longo dos últimos anos, o objetivo de “evitar que as temperaturas excedam 1,5 °C, em comparação com os níveis pré-industriais” tornou-se tema de manchete, pela dificuldade que os governos têm demonstrado em cumpri-lo.
Este surgiu, pela primeira vez, na sequência do Acordo de Paris sobre o Clima e descreve um limite climático: se o mundo ultrapassar um aumento médio a longo prazo da temperatura de 1,5 graus Celsius e se mantiver nesses níveis durante vários anos, irá causar sérios danos aos seres humanos e ao ambiente.
Apesar de o foco estar nesses 1,5 °C, investigadores do Instituto dos Oceanos da Universidade da Austrália Ocidental concluíram, num estudo de 2024, que o mundo pode ter ultrapassado esse limite há anos.
Para esta conclusão, os investigadores analisaram seis sclerospongiae, um tipo de esponja marinha que se agarra a grutas submarinas no oceano.
Estas esponjas são habitualmente estudadas pelos cientistas do clima e designam-se “arquivos naturais”, porque crescem muito lentamente, cerca de uma fração de milímetro por ano.
Pelas suas características, conseguem guardar dados climáticos nos seus esqueletos calcários, não muito diferentes dos anéis das árvores ou dos núcleos de gelo.
Ao analisar a relação entre o estrôncio e o cálcio nestas esponjas, a equipa conseguiu calcular eficazmente as temperaturas da água desde 1700.
A casa aquática das esponjas, nas Caraíbas, é, também, uma vantagem, uma vez que as grandes correntes oceânicas não perturbam nem distorcem as leituras de temperatura.
Além disso, estes dados podem ser particularmente úteis, pois a medição humana direta da temperatura do mar só remonta a cerca de 1850, quando os marinheiros mergulhavam baldes no oceano.
Aliás, é por isso que o Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (em inglês, IPCC) utiliza 1850 e 1900 como referência pré-industrial, segundo o Grist.
O quadro geral é que o relógio do aquecimento global para a redução das emissões, a fim de minimizar o risco de alterações climáticas perigosas, foi antecipado em pelo menos uma década. Basicamente, o tempo está a esgotar-se.
Explicou Malcolm McCulloch, principal autor do estudo, à Associated Press.
O estudo concluiu que o mundo começou a aquecer cerca de 80 anos antes das estimativas do IPCC, pelo que já ultrapassámos os 1,7 graus Celsius, em 2020.
Cientistas estão céticos e pedem mais dados
Em declarações ao LiveScience, um dos cientistas céticos, relativamente a esta descoberta, afirmou que “não é credível afirmar que o registo instrumental está errado com base em paleosponges de uma região do mundo… Sinceramente, não faz qualquer sentido para mim”.
Além deste, outros investigadores disseram querer ver mais dados antes de apoiarem alterações aos objetivos climáticos do IPCC – estes dizem que a Terra está, atualmente, a oscilar numa mudança de temperatura a longo prazo de cerca de 1,2 graus Celsius.